Dono do Grupo João Lyra, que teve pedido de falência decretado pela Justiça de Alagoas, o deputado federal e usineiro João Lyra (PSD-AL), de 82 anos, é um homem venerado e temido em Alagoas. Considerado empreendedor de sucesso, Lyra já se envolveu em acusações de assassinato, trabalho escravo e sociedade oculta com o senador Renan Calheiros (PMDB/AL).
Lyra, que é pai de Teresa Collor, viúva de Pedro Collor, é o deputado federal mais rico do Brasil. Declarou ao Tribunal Superior Eleitoral uma fortuna superior a R$ 200 milhões. O empresário tem 82 anos e não aparece em atos públicos em Maceió há um ano. Filho do dono de engenho Salvador Lyra, João Lyra tem um único irmão: Carlos Lyra, de perfil discreto e um dos homens mais ricos de Alagoas.
A carreira empresarial começou na década de 50, com a usina Laginha, fundada na cidade de União dos Palmares, na zona da mata alagoana. Em mais de 50 anos de vida empresarial, acumulou mais quatro usinas, uma delas em Minas Gerais - a Uruba. Além dela, empresa de táxi aéreo, adubo, jornal, rádio, concessionária de veículos.
Em 1982, elegeu-se primeiro suplente de senador pelo PDS, na coligação de Guilherme Palmeira, que concorreu e ganhou a Prefeitura de Maceió. Lyra assumiu a vaga de Guilherme. Nesta época, João Lyra era apontado, pela esquerda alagoana, como o "homem da mala preta"- dada à sua força financeira.
Ajudou na eleição do então governador alagoano Fernando Collor à Presidência da República. O impeachment nunca afastou Lyra dos Collor de Mello. A filha de João Lyra, Thereza, era casada com Pedro Collor, irmão do presidente da República. Rachada a família, João Lyra escolheu Fernando Collor, com quem permanece até hoje.
Os escândalos começaram a partir de 2006. Decisão da Justiça acusou o deputado de tramar a morte do chefe de Arrecadação da Secretaria da Fazenda, Silvio Vianna, em 28 de outubro de 1997, assassinado no bairro de Ipioca, em Maceió. Um DVD, anexado aos autos, traz depoimento do ex-tenente-coronel Manoel Francisco Cavalcante - chefe de uma milícia na década de 90 - que diz ter ganho R$ 350 mil para tramar o assassinato, a mando de João Lyra e outro usineiro. O motivo é que ele cobrava dívidas das usinas. O caso foi arquivado e João Lyra sempre negou o crime.
Em 2007, no auge do escândalo do Senado envolvendo Renan Calheiros- acusado de ter contas pessoas pagas por um lobista- João Lyra confirmou sociedade oculta com o senador alagoano, que durou entre 1999 e 2005, incluindo um jornal e duas rádios.
Um ano depois, as usinas do deputado foram devassadas por uma Força Tarefa do Ministério do Trabalho. E foi detectado trabalho escravo. A situação foi verificada em 56 dos 3,3 mil trabalhadores da usina de açúcar. Recebeu multa de R$ 20 milhões. Em março de 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) acatou ação penal contra o deputado.
Falência
A 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Alagoas decretou na quinta-feira a falência do Grupo João Lyra. Segundo o desembargador convocado pelo TJ-AL Marcelo Lemos Tadeu, o grupo tem uma dívida de R$ 1,285 bilhão e a Câmara Cível decidiu que a falência seria a melhor forma de pagar o débito. Farão parte da massa falida do grupo João Lyra três usinas em Alagoas e duas Minas Gerais, uma empresa produtora de fertilizantes e adubos, a Adubos Jotaele; uma concessionária de automóveis, a empresa de táxi aéreo Lub e o hospital São Vicente de Paulo.
Os problemas nas empresas de Lyra passaram a evidenciarem-se em 2010, quando uma enchente arrasou a usina de Laginha. Trabalhadores deram início a uma série de protestos contra atrasos de salários, e a Justiça decretou a recuperação judicial das usinas. As manifestações culminaram este ano em ações mais fortes, incluindo bloqueio de rodovias e concentração de trabalhadores em frente à mansão do empresário.
Em nota, o deputado federal disse que não concorda com a decisão. "O departamento jurídico do grupo João Lyra tomará imediatamente as medidas cabíveis para reverter o posicionamento da 3ª Câmara Cível, por considerar que é equivocado e desprovido de qualquer sensibilidade social e econômica com as mais de 40 mil famílias que seriam atingidas pela convolação da recuperação judicial em falência o que, frise-se, não ocorrerá", diz a nota.