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"Ameaças de Trump às montadoras no México devem ser levadas a sério"

16 jan 2017 - 19h22

Trump ameaça taxar em 35% os veículos fabricados por montadoras no México. Para especialista, empresas deverão diminuir produção no país, já que outras nações não teriam como absorver o excedente.Após criticar a GM e a Toyota, o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, alertou a montadora alemã BMW neste domingo (15/01) que terá que pagar taxas de importação de 35% caso construa sua fábrica no México e queira exportar os veículos para os EUA. A BMW planeja abrir uma fábrica no México em 2019.

Para Ferdinand Dudenhöffer, fundador e diretor do Centro de Pesquisa Automotiva (CAR, em inglês) da Universidade de Duisburg-Essen, na Alemanha, as montadoras devem levar as ameaças de Trump a sério, pois ele coloca pressão para que a transferência de produção para o México seja menor do que o planejado.

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"O Brasil está com problemas econômicos e os outros mercados da América do Sul são relativamente pequenos e não teriam condições de absorver esse volume", afirma Dudenhoeffer. "Quer dizer, não há novos clientes para o excedente de produção no México e, com isso, as montadoras terão que diminuir a produção no país."

DW: Como o senhor analisa as ameaças de Trump?

Ferdinand Dudenhoeffer: Eu acredito que as ameaças de Trump devem ser levadas a sério, pois elas não foram feitas somente para uma montadora. Trump tenta implementar uma taxa aduaneira para os veículos produzidos em outros países. Se essa tarifa de importação corresponder aos ganhos com as exportações feitas pela BMW dos EUA, então acredito que a BMW sairia praticamente ilesa. Isso porque a empresa alemã produz hoje, nos EUA, mais carros do que vende.

No fundo, qual é o objetivo do futuro presidente dos EUA?

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Trump persegue o objetivo de, se alguma empresa construir uma fábrica, ela deve observar o quanto de capacidade será instalada nessa planta de produção. O futuro presidente sabe exatamente que a construção da fábrica não será interrompida e que ela continuará sendo construída. Mas ele coloca pressão para que a transferência de produção seja muito menor em comparação ao que estava planejado.

Então muitas montadoras deverão deixar de fazer investimentos no México...

Com certeza. Trump exporta o desemprego do rust belt para o México, que era o grande eldorado para a produção automobilística. No último ano foram produzidos lá cerca de 3,5 milhões de carros - em grande parte para os EUA e uma pequena parte para a América do Sul. Acreditávamos que, por volta do ano 2020, o México estaria produzindo 5 milhões de automóveis. E isso, agora, não acontecerá mais. Quer dizer, o desenvolvimento econômico do México sofre extremamente com a presidência de Trump.

Segundo dados, o México possui acordos de livre-comércio com 44 países. É possível deixar de se orientar pelos EUA e olhar para outros mercados?

A situação está relativamente difícil nos outros mercados, que não vão conseguir absorver o que deixaria de ser exportado para os EUA nos próximos três ou quatro anos. Seja porque eles estão longe do México, seja porque as estruturas de custos nesses países são diferentes. Um pouco da produção será vendida para países da América do Sul, mas será deixado de produzir mais do que os mercados conseguiriam absorver.

E especificamente o Brasil?

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O Brasil está com problemas econômicos, e os outros mercados da América do Sul são relativamente pequenos e não teriam condições de absorver esse volume. Quer dizer, não há novos clientes para o excedente de produção no México e, com isso, as montadoras deverão diminuir a produção no país. Isso significa que o México é o grande perdedor da eleição de Trump.

Mas, a longo prazo, os EUA também vão perder, pois haverá um aumento de preços desses bens no mercado americano. E, com o crescimento mundial reduzido, um crescimento econômico ruim do México terá efeitos a longo prazo na economia dos EUA.

O México é o terceiro maior parceiro econômico dos EUA, enquanto os americanos são o maior parceiro dos mexicanos. Houve intensificação das relações desde a entrada em vigor do Nafta. O que pode acontecer agora com esse tratado de livre-comércio?

Eu acredito que toda a estrutura do Nafta será reconstruída. Certamente, Trump continuará desenvolvendo sua estreita cooperação com o Canadá, mas acredito que essa imagem de inimigo que ele tem do México faz com que esse país e outras nações sul-americanas sejam consideradas inimigas que retiram os postos de trabalho dos americanos. E, por isso, nos próximos anos, elas deverão sofrer com isso.

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Por que o México se tornou um eldorado para as montadoras de carros?

O principal motivo é a mão de obra barata - se paga no país, por hora trabalhada, cerca de 5 euros, sendo que nos EUA são pagos cerca de 35 euros. Além de se interessar pelos baixos salários, as montadoras olham os custos claramente mais baixos, como de energia, e dos baixos impostos. Os custos no México são muitas vezes melhores do que nos EUA.

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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