As inconsistências contábeis de R$ 20 bilhões da Americanas seguiram no centro das atenções no Ibovespa. A varejista perdeu R$ 8,3 bilhões em valor de mercado após um tombo de 77,33% nas ações nesta quinta-feira, 12, dia em que as ações passaram a sessão essencialmente em leilão, mas com pouca liquidez.
O montante saiu de R$ 10,8 bilhões na véspera para R$ 2,4 bilhões. O papel, que só saiu de leilão pela primeira vez perto de 14h20, fechou cotado a R$ 2,72 ante R$ 12 no fechamento de quarta. O rombo teve impacto distinto nos outros dois principais players do e-commerce na segunda metade do pregão. Por um lado, Magazine Luiza registrou a maior alta do índice, enquanto Via recuou firme. As ações de bancos também foram afetadas por causa da Americanas, devido à sua exposição ao risco via concessão de crédito, que não se conhece individualmente.
O agora ex-presidente da Americanas Sergio Rial afirmou esperar conseguir um acordo de 'standstill' com os bancos credores da varejista, mecanismo que permite a suspensão das cobranças das dívidas. Enquanto ganha tempo para pagá-las, o executivo afirmou que a empresa pode discutir um plano para se recapitalizar, e o grupo certamente não vai precisar de milhões de reais, mas sim de bilhões.
A Americanas vai conseguir uma extensão de prazo junto aos bancos para rolar dívidas, mas não sairá ilesa do processo. Pelo porte de seus negócios e das linhas de crédito que possui, a varejista deve conseguir suspender prazos, mas as instituições podem endurecer as condições. Reuniões já aconteceram entre a administração e os principais credores e a sinalização dos bancos foi positiva.
"Basicamente, estamos dizendo que a dívida da companhia é maior", afirmou Rial. O executivo disse ainda que o problema se arrasta por cerca de 7 a 9 anos. "Os R$ 20 bilhões são a melhor estimativa do que vimos em 9 dias, não chancelados por auditoria", acrescentou.
O Itaú BBA, o Morgan Stanley, o Banco Safra, o Bradesco BBI e a XP afirmaram em relatórios que estão revisando as recomendações para o papel. Para a XP, após o caso vir à tona, podem haver impactos relevantes nos indicadores relacionados a crédito da empresa. Dentre eles, o risco de ultrapassar o limite de endividamento exigido em cláusulas de credores. A Genial, por sua vez, rebaixou a recomendação de compra para venda e reduziu o preço-alvo de R$ 28,40 para R$ 9,40.
"Por regulamento, os grandes fundos acabam saindo logo do papel, vendendo o que tem a qualquer preço. Mas quem pode segurar, espera um momento melhor para decidir o que fazer. Não se sabe ainda ao certo o que aconteceu. Então, num primeiro momento, se procura olhar para as empresas do setor e as expostas à situação, buscando diferenciá-las - entender, por exemplo, quem faz a auditoria delas, ver se nomes de empresas se repetem ou não", diz Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos, observando também que, como as ações permaneceram em leilão ao longo de boa parte da sessão, a liquidez do papel foi reduzida.
A empresa responsável pela auditoria independente da Americanas foi a PwC, que não quis se manifestar sobre o caso.
Via e Magazine Luiza
Depois de cair pela manhã, Magazine Luiza fechou com avanço de 5,28%, liderando as altas do Ibovespa. Na outra ponta, Via, apesar de reduzir as perdas que chegaram a mais de 10% na primeira metade do pregão, manteve a trajetória negativa. Com isso, fechou em baixa de 5,38%, uma das quedas mais relevantes do índice. Analistas atribuem a discrepância ao fato do mercado ainda estar digerindo os desdobramentos de Americanas e buscando entender se algum acontecimento desse tipo poderia ser identificado nas contas das concorrentes. A rotação dentro do varejo de e-commerce também foi mencionada por operadores.
Em meio a preocupações sobre essa repercussão, Magazine Luiza explicou aos investidores que suas operações de risco sacado constam no balanço de forma correta, segundo fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast.