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Economia

Americanas encaminha recuperação pós-fraude com loja física, mas admite estar 'longe do fim'

Previsão da empresa é de encerrar a recuperação judicial no início do próximo ano; vendas das operações físicas tiveram alta de 11,9% em 2024 sobre o ano anterior

27 mar 2025 - 20h04
(atualizado às 20h07)

Passada a pior fase da tempestade da fraude na Americanas, a nova gestão da varejista caminha com um processo de recuperação gradual para levar a companhia a uma nova posição no mercado. A cada trimestre, o grupo exibe números que sinalizam o ressurgimento do negócio, mas o trabalho é longo até que o grupo se consolide com uma nova cara e afaste de uma vez por todas os riscos gerados pelo escândalo.

Segundo o CEO da empresa, Leonardo Coelho, mesmo com a previsão de encerrar a recuperação judicial no início do próximo ano, o processo da empresa está "longe do fim". Para ele, além da contabilidade e da transparência, a empresa precisa redesenhar a operação da ótica de sortimentos, de lojas, produtos financeiros, canal digital e valores.

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"Embora os balanços mostrem melhoras trimestre após trimestre, ainda está longe de estar bom. Ninguém frauda uma empresa que está gerando lucro", afirmou o presidente.

A equalização das dívidas abriu espaço para a varejista focar na execução do plano de tornar a marca em nome forte principalmente no varejo físico, voltado às compras de menor valor, com itens de bomboniere.

Vendas da Americanas no digital recuaram 47% no quarto trimestre ante o mesmo período de 2023 e 5,1% no acumulado do ano
Vendas da Americanas no digital recuaram 47% no quarto trimestre ante o mesmo período de 2023 e 5,1% no acumulado do ano
Foto: Pedro Kirilos/Estadão / Estadão

No balanço do quarto trimestre de 2024, divulgado na quarta-feira, 26, as vendas brutas (GMV) das operações físicas somaram R$ 5,1 bilhões, alta de 7,1% sobre o mesmo período de 2023. No acumulado do ano, o GMV foi de R$ 15,7 bilhões, avanço de 11,9% em relação a 2023.

Já as vendas no digital recuaram 47% no quarto trimestre frente o mesmo período de 2023, somando R$ 652 milhões. No ano, o GMV total foi de R$ 21,4 bilhões, queda de 5,1%.

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"Acabou aquilo que havia antes, um digital sem proposta de valor bem definida, anabolizado, com valores altos, margens baixas, pagamento em várias vezes sem juros, frete grátis e cashback", disse Coelho, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Ao redimensionar os canais digital e físico, e ainda manter a rentabilidade do marketplace ao ganhar uma comissão com as vendas feitas por outros lojistas, a Americanas aposta nesse formato para voltar a ganhar dinheiro após a recuperação judicial.

Venda de ativos

Para o sócio da L4 Capital, Hugo Queiroz, a recuperação financeira da empresa não é tão simples assim. "Sem trazer o montante da dívida a valor presente, o desembolso no tempo é alto e a geração de caixa não é robusta para pagar", disse.

O desinvestimento dos ativos que ainda estão sob controle da companhia, segundo o profissional, seria um dos caminhos para a Americanas ganhar fluxo de caixa e antecipar as dívidas. A fintech Ame Digital e a Uni.co, dona da Imaginarium, estão entre as potenciais vendas.

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Já a obrigação da venda do Hortifruti Natural da Terra (HNT) consta no plano de recuperação judicial e a diretora financeira da empresa, Camille Faria, afirmou que o ativo deve ser colocado neste ano na prateleira de venda.

O ativo foi adquirido em 2021 por R$ 2,1 bilhões, e a companhia cogitou vendê-lo por R$ 1 bilhão. No entanto, as propostas que chegaram no ano passado foram mais baixas do que o previsto pela varejista. Com isso, a executiva afirmou que a depender das propostas, a companhia vai avaliar qual será o futuro do Hortifruti "dentro ou fora da Americanas".

Fornecedores

A relação com os fornecedores também tem melhorado e ajudado o lado operacional, segundo o CEO. "A contrapartida para que recebessem os valores da recuperação judicial à vista era dar prazo e limites de crédito à Americanas equivalentes aos que havia em 2022", disse.

Na prática, essa "amarração" da recuperação judicial permite à companhia voltar a atuar como uma varejista comum, coordenando capital de giro e prazos de pagamento. Atualmente, a companhia já negocia com alguns fornecedores prazo melhores do que o acordado na época do fechamento do plano.

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Nos segmentos em que as lojas físicas estão mais focadas em segmentos, como bomboniere, limpeza e produtos para casa, diz Coelho, a Americanas já tem negociado para ir além do limite de crédito que foi acordado dentro do processo judicial. Já em outros setores, em que a companhia reduziu participação, como eletroeletrônicos, haveria limite de crédito sobrando.

Cenário externo

O tíquete médio da Americanas hoje, em torno de R$ 50, é relativamente imune à taxa de juros alta, diz o presidente. O efeito maior dos juros altos vem mesmo sobre a dívida financeira, que somou R$ 1,782 bilhão no quarto trimestre de 2024. O resultado representou uma diluição de 95,5% ante o mesmo período de 2023 e uma cifra bem inferior frente aos R$ 42 bilhões verificados após o escândalo de fraude contábil.

O mercado não recebeu bem o balanço da empresa hoje, levando o papel a desvalorizar 25,97% (R$ 6,70) e perder R$ 470 milhões em valor de mercado, passando a totalizar R$ 1,34 bilhões. No dia em que o rombo foi descoberto, em 11 de janeiro de 2026, a empresa valia R$ 10,8 bilhões.

O prejuízo da empresa no último trimestre de 2024 foi de R$ 586 milhões, contra um lucro de R$ 2,56 bilhões apurados no mesmo período de 2023. No ano todo, lucrou R$ 8,281 bilhões e reverteu o prejuízo de R$ 2,272 bilhões amargados no ano anterior.

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