André Esteves, criador do BTG Pactual e preso nesta quarta-feira (25) pela Operação Lava Jato, tornou-se um dos mais poderosos banqueiros do Brasil (e, dizem alguns, do mundo) sob os auspícios do PT. Foi durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2002 a 2010) e de Dilma Rousseff (2011 até hoje) que Esteves participou dos maiores negócios públicos e privados, acumulando um patrimônio bilionário, prestígio e influência nos corredores de Brasília.
É verdade que sua origem é anterior à chegada do PT ao Palácio do Planalto. Esteves entrou para o então Pactual em 1989, 6 anos após a fundação do banco pelos criadores do banco Garantia. Filho de uma família de classe média do bairro carioca da Tijuca, o futuro banqueiro começou sua carreira de maneira bem modesta: depois de ver um anúncio de jornal, ingressou como estagiário na área de informática do Pactual. Conhecido como um workaholic, chamou a atenção dos diretores e começou a ganhar espaço.
Em 1999, Esteves liderou um grupo de sócios da nova geração do Pactual que praticamente depôs a velha guarda, ao comprar, meio na marra, a fatia de Luiz Cézar Fernandes. Contrariado com a situação, Fernandes chegou a afirmar, na época, que Esteves seria capaz de “vender a própria mãe” para alcançar o sucesso. Anos depois, o ex-patrão se retratou.
Mas foram nos anos de governo petista que Esteves ganhou corpo como banqueiro, até chamar a atenção do suíço UBS, que comprou a instituição em 2006 por US$ 2,6 bilhões. O banqueiro permaneceu no negócio, assumindo o comando da carteira global de renda fixa do UBS e sediado em Londres.
Ele articulou a compra do UBS um ano depois, causando polêmica e criando tamanha indisposição da cúpula do banco, que acabou deixando-o. Ao voltar ao Brasil, reuniu-se com um grupo de sócios e fundou o banco de investimentos BTG, no fim de 2008. A oportunidade que tanto esperava veio em abril de 2009. Abatido pela crise financeira global, que estourara no ano anterior nos Estados Unidos, o UBS devolveu o Pactual a Esteves por US$ 2,5 bilhões, praticamente o mesmo pelo qual havia comprado.
E Esteves vira Esteves
Foi quando nasceu o atual BTG Pactual, que se transformou numa máquina de grandes negócios nos anos seguintes. Em 2012, a presidente Dilma Rousseff chegou a afirmar que Esteves e o então bilionário Eike Batista eram exemplos de empresários brasileiros e um orgulho do país. O influente jornal britânico Financial Times afirmou que o BTG era uma espécie de “Goldman Sachs com caipirinha” – um elogio e tanto, que significava que os brasileiros seguiam padrões internacionais de operação. Na época, o FT destacou ainda que o banco era um potencial líder de investimentos nos países emergentes. Entre os grandes negócios privados de que participou, estão a articulação da fusão das aéreas LAN, do Chile, com a brasileira TAM, criando a Latam, em 2010.
A primeira polêmica veio com a compra do Banco Panamericano, em janeiro de 2011. Na época pertencente ao empresário e apresentador Sílvio Santos, a instituição foi abatida por fraudes em sua carteira de crédito, que gerou um rombo de R$ 4,3 bilhões. Foi a estreia do BTG no mercado de varejo bancário. Na época, circularam rumores de que o governo havia pressionado o banqueiro a salvar o Pan, antes que quebrasse. O principal motivo seria evitar que isso atingisse a Caixa Econômica Federal, que havia comprado 49% do Pan em dezembro de 2009, por R$ 740 milhões. Muitos se perguntaram como a Caixa não detectara, nas auditorias, a fraude nas contas do Pan.
Outra operação de salvamento foi a de Eike Batista, o fundador do Grupo EBX que se tornou o 7º homem mais rico do mundo em 2013, mas caiu em desgraça, ao ver sua petroleira (a OGX, atual OGPar) ruir e arrastar o resto de seu império. Eike contratou o BTG Pactual para reestruturar seus negócios, que contavam com grandes aportes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O banqueiro chegou a colocar US$ 1 bilhão em linhas de crédito à disposição de Eike, mas as suspendeu meses depois e deixou, silenciosamente, a tarefa de resgatá-lo.
Cortando um sete
A polêmica mais ruidosa, porém, envolvendo empresas públicas foi o investimento na Sete Brasil, empresa criada pela Petrobras para administrar sondas do pré-sal – e citada, agora, como fonte de desvios de recursos na Operação Lava Jato. O BTG topou ser sócio da companhia, ao lado da estatal, Bradesco, Santander, fundos de previdência de estatais e o FI-FGTS. Há alguns meses, Esteves afirmou que a Sete foi “um fiasco”, e atribuiu o fracasso à Petrobras. O banco separou cerca de R$ 1 bilhão para compensar eventuais perdas com o empreendimento.
A primeira referência de Esteves na Operação Lava Jato apareceu no polêmico bilhete de Marcelo Odebrecht, o presidente do grupo fundado por seu avô, e preso pela Polícia Federal. No papel manuscrito em que orientava os advogados a destruírem e-mails referentes à Sete Brasil, Odebrecht acrescenta que seria necessário “incentivar” Esteves, lembrando-o de que, “na época”, a Sete não aparecia nos balanços da Petrobras e, portanto, ajudar a empresa de sondas correspondia a ajudar a estatal.
Agora, Esteves poderá esclarecer, afinal de contas, o que o empreiteiro quis dizer com isso. E por que aparece numa reunião em que o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) propõe uma ajuda de custo de R$ 50 mil para a família de Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobras. Conhecido como frio e calculista, resta saber se Esteves resistirá à pressão de estar preso em Curitiba (PR), ou se ele será o novo homem-bomba da Lava Jato.