O banqueiro André Esteves fez o pior investimento da sua vida. Ao se unir ao senador Delcídio do Amaral na tentativa de calar o ex-diretor Petrobras, Nestor Cerveró, em uma possível delação premiada para evitar o envolvimento do BTG Pactual, fundado por ele em 1983, nas investigações da Lava Jato, o empresário de reputação no exterior manchou a sua imagem e do seu banco. De quebra, gerou desconfiança sobre o medo de um risco sistêmico para o setor financeiro brasileiro.
O pior dia da história do banco teve início na manhã desta quarta-feira (25), quando a Polícia Federal prendeu Esteves em sua casa, no Rio de Janeiro. Delcídio do Amaral, líder do PT no Senado, o primeiro senador a ser detido durante o exercício do mandato, foi levado do hotel onde vive em Brasília. A notícia causou espanto no mercado financeiro e, conforme as embaraçosas revelações acerca dos motivos que levaram à prisão foram reveladas, as ações do banco despencaram.
Na mínima do dia, até às 14h50, os papéis do banco caíam 39% e eram negociados a R$ 18,86. A notícia levou desconfiança para o mercado financeiro como um todo. O medo de um risco sistêmico, que se alastrasse por outros bancos, pressionou as ações do setor. O dólar passou a subir quase 2%. “O BTG Pactual tem exposição ao setor de petróleo e gás, e a prisão do seu CEO levanta uma projeção séria sobre o contágio financeiro”, ressalta a consultoria de risco político Eurasia, em relatório assinado por João Augusto de Castro Neves.
Risco
O Banco Central divulgou nota em que diz estar monitorando “o impacto dos acontecimentos para a instituição regulada”. Para especialistas consultados pelo O Financista, ainda é muito cedo para avaliar um possível risco sistêmico. Segundo eles, o fato prejudica principalmente a visão dos investidores estrangeiros sobre o Brasil, que viam em Esteves uma história de meritocracia e visão de mercado análoga aos grandes bancos de investimentos norte-americanos, como o Goldman Sachs ou o JP Morgan.
“Ele é uma figura muito proeminente e isso reverbera sobre o sentimento”, disse Ilan Solot, estrategista para mercados emergentes da consultoria Brown Brothers Harriman. “O BTG talvez fosse considerado como um porto seguro e pertencente a uma pessoa com cabeça de mercado e meritocrática, que são conceitos comuns aos bancos dos EUA e da Europa. Isso deve ter mexido com o psicológico dos investidores estrangeiros”, analisa André Gordon, gestor e fundador da GTI Administração de Recursos.
Máfia
O envolvimento de Esteves com Delcídio no esquema visto como “mafioso” foi comprovado por uma gravação de uma reunião realizada em Brasília, em 4 de novembro de 2015, em suíte do Hotel Royal Tulip. A gravação foi feita por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras. O documento, obtido pelo O Financista, destaca a “grave revelação” de que o banqueiro teria uma cópia de parte da colaboração premiada assinada por Nestor Cerveró.
Nesses anexos da delação, que estariam com Esteves, Cerveró narra a prática de crime de corrupção ativa por Esteves, por meio do BTG Pactual, no pagamento de vantagem indevida ao senador Fernando Collor, “no âmbito de contrato de ‘embandeiramento’ de 120 postos de combustíveis em São Paulo, que pertenciam conjuntamente ao BTG e a grupo empresarial denominado Grupo Santiago”.
“Isso vai gerar ruídos e, se tiver algo comprovado que o inabilite como a pessoa para seguir no comando, o banco vai ter que encontrar alguém para substituí-lo. Não acho que é um caso que mereça um pânico”, pontua Gordon, que vê as investigações como positivas para o futuro do mercado financeiro e do Brasil. Para a agência de classificação de risco Moody's, a ausência de Esteves pode afetar a análise de crédito do banco.
A gravidade sobre os rumos da Lava Jato parece tão incerta quanto o rumo da Bolsa brasileira e os desdobramentos sobre o BTG devem ganhar novos capítulos enquanto durar a prisão temporária de 5 dias de André Esteves.