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ArcelorMittal vê oportunidade com "cimento verde"

19 nov 2024 - 15h26
(atualizado às 15h27)

Com a compra da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) no ano passado, a ArcelorMittal viu a oportunidade de transformar seus resíduos em valor, investindo em um projeto de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) que transforma escória de alto-forno em um cimento que afirma ser menos poluente, embora seja mais caro que o convencional.

A compra da CSP foi concluída em março de 2023 por 2,2 bilhões de dólares e deu à ArcelorMittal controle sobre a usina instalada em Pecém (CE) que já fornecia resíduos siderúrgicos à pesquisa da UFC.

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A instalação opera um alto-forno com capacidade de produzir 3 milhões de toneladas de aço por ano que gera 1,95 milhão de toneladas de resíduos, o suficiente para produzir até 1,5 milhão de toneladas do cimento de baixo carbono, segundo a ArcelorMittal.

A pesquisa envolve uma produção de cimento que emite até 75% menos carbono em relação à gerada na produção do cimento tradicional, além de ser mais resistente, de acordo com os pesquisadores da UFC.

Mas apesar dos benefícios do novo material, ele ainda enfrenta dois desafios: o preço e a aplicabilidade.

Segundo pesquisadores da UFC, o chamado "cimento verde" pode ser três vezes mais caro do que o convencional e sua utilização requer mão de obra especializada.

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"A gente entende que, economicamente, não é a solução mais barata no momento, mas é uma solução que a gente pode, com a escala, reduzir esse valor para a sociedade", afirmou o gerente de infraestrutura e coprodutos da ArcelorMittal Pecém, Alex Nascimento.

"Além disso, nos dá a possibilidade de poder buscar, em paralelo, soluções que possam até tornar esse conhecimento que a universidade adquiriu em algo mais econômico", acrescentou.

A ArcelorMittal prevê investir 1 milhão de reais no projeto em 2025 e realizar, também no próximo ano, um roadshow para construtoras e agentes da indústria, com a construção de duas "casas ecológicas", que utilizam o novo cimento, na usina de Pecém.

Segundo Nascimento, a etapa posterior do desenvolvimento é a construção de uma fábrica piloto, embora esta instalação ainda esteja sem previsão de ser executada.

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"A nossa ideia é sair da escala laboratorial e fazer um projeto piloto, em menor escala", afirmou. Nesse sentido, a empresa pretende avaliar parcerias por meio de seu roadshow.

CIMENTO MAIS SUSTENTÁVEL?

O cimento de baixo carbono, também conhecido como "cimento verde" ou "ecocimento", é um geopolímero formado a partir de resíduos industriais, como escória de aciaria, e cinzas volantes, que vêm da queima de combustível em centrais termoelétricas a carvão, misturados com soda cáustica. Diferentemente do cimento Portland (convencional), não requer aquecimento a até 1.500 graus, evitando a liberação de gases poluentes na atmosfera nessa parte do processo.

Embora haja aspectos ambientais positivos, a aplicabilidade do material ainda é um desafio segundo pesquisadores e representantes do setor, uma vez que a soda cáustica é tóxica e requer cuidados especiais no seu manejo.

"Tem uma série de cuidados diferentes do cimento convencional", afirmou a pesquisadora da UFC Heloína Nogueira, que desenvolveu a composição. Segundo ela, apesar do uso de soda cáustica, a fórmula final ainda tem menores emissões de CO2 do que o cimento convencional. A fórmula recebeu em março deste ano patente do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).

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Na visão de Marcelo Pecchio, gerente de tecnologia do laboratório da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), o geopolímero pode acabar tendo uso apenas local - e atendendo a um mercado restrito.

"Pode ser que, localmente, você até consiga desenvolver. Por exemplo, em Pecém, ali ao redor, talvez você consiga realmente desenvolver uma planta de geopolímeros... Mas está longe de ser um material disponível, por exemplo, no Brasil inteiro."

Outro obstáculo é o preço. Segundo Nogueira, o cimento de baixo carbono pode custar de três a cinco vezes mais o valor de produção de 1 quilo de cimento comum, que gira em torno de 0,70 real.

"(Mas) com a mudança de paradigma das empresas em busca de sustentabilidade, em busca de reduções das emissões de carbono, pode haver compensação", afirmou. Ela também cita linhas de financiamento e emissões "verdes", e produção em larga escala.

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"Alguns bancos têm criado linhas de financiamento para empresas, construtoras onde os juros para o financiamento de obras sustentáveis é mais baixo."

Uma alternativa mais imediata é priorizar o uso dos cimentos CP2 e CP3, afirmou Pecchio, cuja composição pode conter até 70% de escória siderúrgica, resultando em menores emissões de carbono em comparação com outros tipos de cimento. A construtora MRV afirma que já utiliza essas soluções que, segundo o diretor-executivo de sustentabilidade do grupo MRV&Co, Raphael Lafetá, ajudaram a companhia a reduzir até 35% das emissões de poluentes relacionadas ao uso de cimento em 2023.

PREÇOS MAIS ALTOS

Na visão de Luiz França, presidente da Abrainc, associação que representa cerca de 80 incorporadoras do país, o material pode ser uma alternativa para o desenvolvimento de projetos mais sustentáveis no futuro apesar de seus preços mais elevados.

"Dependendo da estratégia da empresa e das especificidades dos projetos, ele pode se tornar mais interessante frente aos outros tipos de cimento", afirmou França em nota.

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"Outro ponto importante é que a redução das emissões de gases de efeito estufa proporcionada pelo uso do cimento verde traz benefícios adicionais como a valorização da marca. Esses fatores contribuem para o posicionamento da empresa e agregam valor ao empreendimento."

Os investimentos da ArcelorMittal em pesquisas voltadas para o reaproveitamento de resíduos e lançamento de coprodutos em Pecém somaram cerca de 17 milhões de reais este ano, segundo Nascimento, e incluem nichos que vão desde argamassa e concreto a fertilizantes e "pré-moldados".

Apesar de pouco conhecidos, os geopolímeros, formados a partir de resíduos de produtos industriais combinados a uma substância alcalina, não são uma novidade. A pesquisadora relembra que, na Austrália, um projeto da Universidade de Queensland inaugurou em 2013 um empreendimento construído com 33 painéis de concreto pré-moldado à base de geopolímeros, sem o uso de cimento Portland.

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