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Argentina quer importar tomate brasileiro para evitar inflação

Presidente argentina tomou a decisão por precaução, após ser alertada por um empresário do varejo de que o preço do produto poderia disparar por razões climáticas

10 jan 2014 - 15h10
(atualizado às 15h19)
<p>Vendedos ergue sacolas de tomates em feira livre no bairro da Mooca, em São Paulo</p>
Vendedos ergue sacolas de tomates em feira livre no bairro da Mooca, em São Paulo
Foto: Nacho Doce / Reuters

O anúncio do governo argentino de que planeja importar tomate do Brasil para combater uma possível alta nos preços por questões climáticas gerou polêmica na Argentina. O país sofre uma onda inflacionária e, assim como no Brasil no ano passado, o tomate entrou no centro da discussão sobre a alta dos preços.

O índice oficial diz que a inflação no país é de pouco mais de 10% ao ano. Mas poucos acreditam nos dados do governo, e muitos suspeitam de manipulação. Consultorias, institutos privados e sindicatos divulgam seu próprio índice, sempre superior a 20%. Alguns chegam a calcular em quase 30%. O tomate entrou no debate após o anúncio do chefe de gabinete da Presidência, Jorge Capitanich.

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"Com a medida, queremos que o consumidor tenha preços 'cuidados' e não tenha problemas com o abastecimento", disse Capitanich diante das câmeras de televisão. "Preços cuidados" foi como o governo batizou a última lista de controle de preços de alimentos que entrou em vigor na última segunda-feira. Diante das críticas e um vai e vem de declarações e especulações, Capitanich disse nesta sexta-feira que, por ora, o governo não vai importar o produto brasileiro. Mas o debate continua.

O preço tabelado do tomate é de 11,50 pesos (R$ 4,10 pela cotação oficial). Para controlar a inflação, a Argentina vem impondo controle de preços desde 2011, medida adotada sem sucesso no Brasil nos anos 1980. Nos supermercados, há duas gôndolas para produtos da cesta básica: a dos tabelados (geralmente de menor qualidade e sob risco de desabastecimento) e o com os preços liberados. A diferença dos preços pode variar substancialmente.

No caso do tomate, especificamente, a polêmica não se deu pelos altos preços do produto, que estão em patamar razoável. Mas sim por causa de como a medida foi gestada: segundo Capitanich, foi a própria presidente quem decidiu pela importação. Segundo a imprensa, ela tomou a decisão por precaução, após ser alertada por um empresário do varejo de que o preço do produto poderia disparar por razões climáticas. Na sequência, o ministro da Economia, Axel Kicillof, justificou a importação do produto brasileiro e disse que as autoridades da pasta se reuniriam com os produtores argentinos.

Crítica

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A intenção do governo gerou críticas de produtores de vários pontos do país. O jornal La Nación ironizou o debate, dizendo que "de repente o tomate virou uma questão de Estado". Omar Carrasco, diretor da União Frutihortícola, que reúne produtores agrícolas, disse que "a medida não faz sentido porque existe forte produção de tomate no país e o preço não está alto".

O diretor do Mercado Central de Posadas, na Província de Misiones, na fronteira com o Brasil, disse que a diferença cambial não compensaria a importação e que às vezes é o tomate argentino que é enviado para o Brasil, disse Juan Ramón Rodríguez à imprensa local. "Apesar de ser um dos maiores produtores mundiais do alimento, o Brasil registrou uma alta de 146% do produto" no último ano, disse o jornal El Cronista.

Inflação

A polêmica em torno do tomate brasileiro intensificou as críticas contra a alta de preços na Argentina e a estratégia de tabelar os preços. "O governo deveria reconhecer o problema da inflação e adotar medidas profundas para combatê-la", disse o ex-ministro da Economia no governo do ex-presidente Néstor Kirchner, Miguel Peirano, crítico da administração da presidente Cristina Kirchner. Além da cesta básica, lideres sindicais afirmam que os ajustes salariais deveriam ser baseados nas estimativas privadas e não na oficial, que "não reflete a realidade", segundo afirmou o presidente da chamada CGT opositora, Hugo Moyano.

O fato ocorre poucos dias depois de o governo baixar o quarto reajuste da tabela de preços da cesta básica (o último ajuste foi em junho do ano passado). Segundo a imprensa local, os preços dos alimentos subiram em relação aos controles anteriores. Alguns chegaram a disparar, caso da maça, que teria aumentado 264% nesta última medida de controle frente a anterior. A farinha teria subido 145% e o açúcar 116%.

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No início deste ano, o governo também reajustou o preço das passagens de voos internos, do transporte público e dos combustíveis, entre outros. Para os especialistas os ajustes e o aumento na cotação do dólar - oficial e paralelo - também estaria pressionando a alta nos preços. Estima-se que o dólar oficial tenha subido mais de 40% no ano, sendo cotado esta semana a cerca de 6,60 pesos por dólar. O paralelo tem sido cotado perto dos 11 pesos, o que levou a imprensa local a ironizar a cotação dizendo que não se trata mais do "dólar Messi" (pela camisa dez), mas do dólar Tevez (referência ao jogador Carlitos Tevez), camisa onze.

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