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As vantagens dos introvertidos no mercado profissional

26 set 2016 - 17h17
(atualizado às 17h39)

O dia mal amanhece em uma remota fazenda no Estado americano de Vermont, e Josh Manheimer já está a todo vapor tentando encontrar a frase perfeita para convencer uma pessoa a abrir um envelope anônimo.

Para especialistas, introvertidos têm características muito valorizadas no mercado de trabalho
Para especialistas, introvertidos têm características muito valorizadas no mercado de trabalho
Foto: Alamy

Manheimer se dedica a escrever malas-diretas e outras correspondências que muitos de nós tendemos a jogar no lixo - está entre os profissionais mais solicitados dos Estados Unidos nesse ramo.

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Para ele, trata-se do trabalho perfeito para quem é introvertido: nunca tem de encontrar clientes e faz toda sua comunicação pela internet.

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No tempo livre, gosta de passear com seu cachorro ou dar comida aos cavalos. "Eu até gosto de gente. Mas não funciono em empresas, cheias de politicagem", afirma.

Essa dificuldade é comum entre indivíduos introvertidos. E não se trata de pessoas necessariamente tímidas, mas que preferem ambientes mais calmos para trabalhar.

Sucesso e introversão

Isso tampouco significa que os introvertidos não podem ter sucesso na vida profissional. Na realidade, segundo consultores de carreiras, o segredo para qualquer pessoa é justamente encontrar um trabalho que se adeque à sua personalidade.

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Todos nós possuímos pelo menos uma característica dos introvertidos: não somos abertos em todas as situações sociais, muitas vezes preferimos ruminar pensamentos sem sermos interrompidos, não queremos manifestar nossos sentimentos para todo o mundo e precisamos, ocasionalmente, de um tempo a sós.

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Mas os introvertidos precisam de menos elogios externos para se motivarem. Eles também costumam dar mais atenção a detalhes e são mais ponderados na hora de tomar decisões. E essas são qualidades muito apreciadas no mundo do trabalho.

Profissão ideal?

Alguns desses introvertidos acabam tropeçando em suas profissões totalmente por acaso. Michael Motylinski, por exemplo, era advogado e detestava o que fazia. "Não suportava as milhares de reuniões", conta.

Sua carreira começou a mudar quando um irmão lhe pediu para ser o juiz de seu casamento - ele fez um curso pela internet e passou a ser autorizado a realizar cerimônias.

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Quando se mudou da Califórnia para as Ilhas Virgens, acabou sendo cada vez mais solicitado para a função. "Quando vi, era inundado de telefonemas de organizadores de festas, hotéis e cruzeiros", conta.

E apesar do elemento performático de ter que ficar diante de uma multidão, ele hoje realiza cerca de 250 casamentos por ano.

"É o trabalho ideal para um introvertido", diz. "No dia do casamento, as pessoas estão tão nervosas e estressadas com outros detalhes que nem me notam. Eu só tenho que ficar no altar e ler a minha parte. Depois, desapareço e ninguém percebe."

Dan Nainan era engenheiro e, após curso para falar em público, faz comédia stand-up
Foto: Dan Nainan

Duas personalidades

O caso de Motylinski mostra que pessoas que se consideram introvertidas podem mudar totalmente o rumo de suas carreiras.

Dan Nainan, por exemplo, começou sua vida profissional como engenheiro no Vale do Silício, na Califórnia. Hoje, ganha a vida contando piadas na frente de milhares de pessoas.

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Tudo começou por acaso, quando ele decidiu fazer um curso para perder o medo de falar em público - seu antigo emprego exigia que ele fizesse demonstrações.

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Seus colegas adoraram sua veia cômica e logo Nainan passou a ser convidado por seus chefes para dar palestras nas conferências nacionais da empresa. Hoje, morando em Nova York, ele vive de fazer comédia stand-up.

"Sinto que tenho duas personalidades, como Clark Kent e Superman. Na vida real, sou muito mais calmo e tímido", diz.

Nainan não é o único a se sentir assim. Fazer aulas de teatro ou aprender a falar em público são técnicas conhecidas como "terapia da exposição" e são recomendadas como uma maneira de combater a ansiedade social e a timidez no trabalho.

O perigo dos testes

Mas o especialista Gregory Pontrelli, CEO da consultoria em talentos Lausanne Business Solutions, acredita que esses termos não devem ser confundidos com introversão.

"Uma pessoa pode ser extrovertida, mas também sofrer com a timidez e a ansiedade", explica.

Pontrelli também põe em xeque o conceito de que há carreiras ideais para os introvertidos.

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"Algumas empresas cometem o erro de avaliar candidatos com testes psicométricos, eliminando muitos deles do processo", diz. "As vagas deveriam ser para todo tipo de personalidade, porque isso oferece diferentes perspectivas e leva a uma melhor tomada de decisões, soluções e compreensão do cliente."

A diversidade de personalidade pode ser vista na base de algumas das empresas mais bem-sucedidas do mundo. Steve Wozniak, o famoso e introvertido cofundador da Apple, acabou se associando ao extrovertido Steve Jobs. Bill Gates fez o mesmo na Microsoft com Paul Allen. E no Facebook, temos Mark Zuckerberg e Sheryl Sandberg.

Trata-se de uma estratégia adotada por Deidre Wollard, que encontrou em Audie Chamberlain um parceiro exatamente oposto a ela. A dinâmica funciona para a empresa de relações públicas da dupla.

"Ele faz a parte de desenvolvimento de negócios, adora ir a congressos e ligar para conversar com potenciais clientes. Eu prefiro fazer minutas de reuniões e desenvolver planos estratégicos. Falo com clientes por e-mail", conta Wollard.

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"Eu gosto da companhia dos extrovertidos. Para mim, são como escudos humanos", define.

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