A brasileira Automa, que atua com tecnologia para operação e gestão de usinas de energia renovável, está expandindo seus negócios para Europa, iniciando com a implantação de suas soluções em cinco usinas solares da portuguesa EDP Renováveis na França e Polônia.
A empresa, que presta serviços no Brasil para as maiores multinacionais do setor elétrico, inaugurou em novembro uma base no Porto, em Portugal, de onde fará o atendimento a geradoras e distribuidoras de energias renováveis no mercado europeu. Para 2025, está prevista a abertura de um escritório comercial em Madri, na Espanha.
"Nós não estamos chegando na Europa sem sermos conhecidos. As maiores empresas já usam nossas soluções aqui no Brasil há vários anos... Estamos sendo levados, já validados pelos nossos clientes", ressaltou Marcelo Ferreira, fundador e CEO da Automa.
O executivo preferiu não informar os detalhes financeiros do acordo com a EDP.
Fundada em 2006, a Automa nasceu com o propósito de desenvolver soluções de software e tecnologia para a operação de grandes hidrelétricas, que na época eram predominantes na matriz brasileira. Com o tempo, passou a agregar em seu portfólio também serviços de monitoramento e controle remoto para as fontes eólica e solar, que hoje lideram o crescimento da geração no país.
"Nos inspiramos na aviação, adaptamos os conceitos, como tecnologias que aumentam a consciência situacional dos pilotos para eles identificarem o que está acontecendo de errado... Estudamos esses equipamentos, trouxemos esses conceitos para o setor elétrico. Isso acabou gerando um produto completamente novo para o mercado e que se tornou referência."
As soluções da empresa possibilitam também ganhos de eficiência, como por exemplo a regulação do despacho das usinas conforme as variações de preços horários de energia, ou a extração de mais energia nos momentos de restrição impostos pelo operador ONS, chamados de "curtailments".
Segundo Ferreira, a Automa tem sido muito procurada por geradores brasileiros que sofrem com os "curtailments", um problema que cresceu neste ano e vem preocupando investidores devido à energia "desperdiçada" e não ressarcida.
"A usina chega a ser capaz de gerar 10% mais energia, durante um período de restrição, do que se você seguir um processo convencional de operação."
A Automa ganhou mais fôlego em 2022 com um aporte de 80 milhões de reais recebido do GEF Capital, fundo global de private equity focado em soluções climáticas. Os recursos permitiram que a empresa ampliasse investimentos em pesquisa e desenvolvimento, profissionalizasse sua gestão e partisse para a expansão internacional.
DEMANDA NA EUROPA
Na Europa, a expectativa é de que a demanda por soluções de gestão renovável seja ainda maior, dado o impulso da agenda de transição energética e descarbonização local, afirma Giorgio Inforzato, diretor comercial da Automa para a região, citando um potencial de adição de 600 GW de potência somente em usinas solares até 2030, segundo projeção da agência internacional IEA.
Inforzato observa ainda que o mercado de renováveis europeu tem desafios diferentes dos do Brasil, como preços negativos de energia em alguns horários e dias e estabilização do "grid".
"A Automa vai dar uma solução técnica para a parte operacional, o investidor e o operador podem regular a potência, um fluxo estável (de energia) para estabilizar a rede elétrica".
Cinco novas plantas fotovoltaicas com soluções da empresa brasileira estão previstas para iniciar operação ainda em 2024, sendo quatro delas na França e uma na Polônia, todas da EDP Renováveis.
Em paralelo, a empresa também está trabalhando com os primeiros projetos de tecnologias de armazenamento de energia, chamados de BESS (Battery Energy Storage System).
"Já temos trabalhado com uma primeira planta híbrida no Brasil com eólica, solar e BESS, é uma complexidade grande de gestão. É um mercado (o de baterias) que estamos investindo bastante, entendemos que vai ter um rápdio crescimento", apontou Ferreira.