Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) -A estratégia da B3 continua muito sólida em fortalecer o cerne de seus negócios, que é viabilizar o funcionamento do mercado de capitais brasileiro, mas também vê oportunidade de diversificar ainda mais os negócios, afirmou o presidente-executivo da companhia, Gilson Finkelsztain, nesta quarta-feira.
A B3 "continua tendo um potencial enorme de crescimento" e "não deve desviar do mandato principal que é fortalecer o core business", afirmou o executivo durante o B3 Day, evento da companhia a investidores.
"Temos oportunidade de diversificar negócios, mas temos que ter uma clareza de que queremos diversificar em negócios e atividades... que visem proteger, de alguma forma, e fortalecer nosso posicionamento no negócio 'core' e que, obviamente, tenha potencial de geração de novas receitas", acrescentou.
Finkelsztain também destacou que o faturamento da B3 nos anos recentes oscilou pouco, mas que a diversificação dos negócios garantiu um faturamento ao redor de 10 bilhões de reais. Segundo o executivo, 2024 marcou um ponto de inflexão para a empresa, que pode retomar seu crescimento.
A receita bruta consolidada totalizou 10,1 bilhões de reais em 2022, uma redução de 1,7% em relação à 2021, com os números de 2023 mostrando 9,9 bilhões de reais. Nos primeiros nove meses de 2024, o faturamento alcança 7,9 bilhões de reais, de 7 bilhões no mesmo período do ano anterior.
O executivo afirmou que os mercados de renda variável atualmente correspondem somente a 20% das receitas da B3 e que 80% do negócio continua crescendo - "e a maior parte deles continua (crescendo) em dois dígitos".
"Temos oportunidades diversas de novas receitas que contribuem para essa percepção de que estamos em um ponto de inflexão e de que podemos voltar a crescer o nosso faturamento nos próximos anos", reforçou, minimizando o efeito do ciclo de alta da Selic na performance da B3.
De acordo com Finkelsztain, há um questionamento se os negócios vão desacelerar muito em função da política monetária mais apertada, mas os números de receita e a diversificação mostram que a B3 consegue manter crescimento de dois dígitos na maior parte dos negócios.
"Quando olhamos os mercados de renda fixa, de balcão mesmo em os serviços de tecnologia da companhia, vemos o potencial de crescimento protegido... Apesar de carregar a bolsa no nome, a B3 é muito mais do que uma bolsa...é uma série de negócios de mercados financeiros e de capitais."
Em um momento no qual a B3 enfrenta um cenário de potencial aumento da competição, o CEO ressaltou a importância dada para a tecnologia de ponta, destacando a competição no setor se dá através de tecnologia e produtos, dada a exigência elevada dos clientes principalmente os de negociação de alta frequência.
"A nossa modernização tecnológica é um ponto importante, porque fecha potenciais brechas para a competição...É muito importante...que a gente tenha tecnologia de ponta e que os nossos clientes reconheçam isso."
RENDA FIXA
Ao comentar sobre as avenidas de crescimento da B3, o responsável pela área comercial e de clientes, Luiz Masagão, afirmou que renda fixa é o grande mercado em expansão, com maior oportunidade de diversificação agora. "O momento que vivemos no mercado de renda fixa é excepcional", afirmou.
Masagão citou que, tanto crédito privado, quanto títulos públicos, especialmente no secundário, são mercados ainda muito analógicos. "É onde vemos a grande oportunidade de crescimento, de oferecer ferramentas de digitalização de negociação e um processo pós-negociação totalmente automatizado."
O executivo também disse que a B3 espera lançar no primeiro semestre do próximo ano um índice de renda fixa, negociável, que permita a criação de ETF referenciados a esse índice, entre outros recursos. "Temos aí mais um produto que vai estar retroalimentando esse ecossistema em um ciclo virtuoso."
De acordo com Finkelsztain, a renda fixa e mercado de crédito privado são mercados que cresceram muito em 2024 e que oferecem uma perspectiva ainda maior em 2025.
O CEO da B3 afirmou que o mercado de capitais é atualmente a maior fonte de financiamento das empresas no Brasil, diferente de outrora quando o financiamento bancário era o principal recurso para "funding". "Temos clareza de que o mercado de capitais é a primeira opção dos CFOs na estratégia de captação."
Finkelsztain também acrescentou que tem visto "muita atividade de 'liability management' das empresas captando no mercado local e repagando suas dívidas fora do Brasil" e que tal movimento continuará em 2025.
(Edição Alberto Alerigi Jr.)