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"Banco Central é muito técnico e isso vai continuar", diz Campos Neto sobre ruídos de divisão do Copom

27 mai 2024 - 19h48
Campos Neto, presidente do Banco Central. Foto: Raphael Ribeiro/BCB
Campos Neto, presidente do Banco Central. Foto: Raphael Ribeiro/BCB
Foto: Suno

Nesta segunda-feira (27), durante evento do LIDE (Grupo de Líderes Empresariais), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, analisou o panorama econômico atual, destacando as nuances entre as economias desenvolvidas e emergentes. No evento, Campos Neto reafirmou que o BC toma decisões técnicas e que ruídos sobre uma possível divisão com o tempo serão atenuados.

Sobre a inflação, o chefe do BC observou que houve um período de desinflação mundial impulsionado pela queda nos preços de alimentos e energia.

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O presidente do Banco Central explicou que as economias emergentes têm características distintas em comparação com as desenvolvidas. Enquanto os países avançados experimentaram uma significativa desinflação de energia, as economias emergentes tiveram uma maior concentração na queda dos preços dos alimentos.

"A diferença do mundo desenvolvido e emergente é que, apesar das inflações terem caído em ambos, no mundo desenvolvido está muito acima da média dos últimos anos. Por outro lado, no mundo emergente o quadro preocupa, pois são preços que já vimos, mas, logicamente, no passado recente estavam mais baixos", afirma Campos Neto.

Apesar das taxas de juros elevadas, as economias mundiais têm mostrado resiliência. Campos Neto destacou a raridade de se observar uma desinflação contínua em um cenário de pleno emprego, não apenas no Brasil, mas globalmente. "Nos Estados Unidos, a recuperação da indústria de bens e serviços demorou, mas a demanda por bens não diminuiu, dificultando o retorno aos níveis de inflação pré-pandemia", afirmou.

"O mercado de trabalho tem sido uma grande surpresa, não só no Brasil - é um fenômeno que vem ocorrendo em outros países, junto com rendimentos e massa salarial. O mercado de trabalho está forte em qualquer ótica", acrescentou.

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Campos Neto: "Há preocupação com a inflação de serviços devido ao mercado aquecido"

Sobre a política fiscal, Campos Neto mencionou que o efeito cumulativo de juros altos por um período prolongado exigirá mais liquidez no sistema financeiro global. No Brasil, ele destacou que, embora a inflação esteja convergindo para a meta e se comportando de forma benigna no curto prazo, há preocupação com a inflação de serviços devido ao mercado de trabalho aquecido.

O presidente do BC ainda mencionou preocupações recentes com os preços dos alimentos, impulsionadas por fenômenos globais e eventos específicos, como os ocorridos no Rio Grande do Sul, cuja repercussão futura ainda está sendo avaliada.

Campos Neto comentou que a expectativa de inflação se manteve próxima da meta, mas sofreu um leve desvio para 4% antes de retornar a 3,5%. Ele acredita que, ao longo do tempo, a expectativa sobre inflação deve se estabilizar e melhorar.

Em termos de atividade econômica, Campos Neto afirma que o Bacen trabalha com uma expectativa mais baixa que do consenso de mercado, mas destacou que o crescimento tem surpreendido positivamente. "Temos uma expectativa mais baixa que o mercado, mas o fato é que o crescimento vem surpreendendo para cima. O fato é que estamos tendo uma desinflação com um custo social muito baixo", comenta.

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Por fim, ele reafirmou a natureza técnica das decisões do Banco Central, assegurando que a instituição continuará preservando sua credibilidade ao longo do tempo. A decisão é técnica, o colegiado vai se reunir e esse ruído vai se resolver com o tempo. O banco central é muito técnico e acho que vai se preservar".

Projeções do Focus confirmam ansiedade do mercado

O mercado aguardava com atenção as projeções atualizadas do Boletim Focus desta segunda-feira (27), que manteve a Selic estável, enquanto elevou a expectativa para a inflação oficial (IPCA) de 3,80% para 3,86%.

Segundo Boletim Focus divulgado hoje pelo Banco Central (BC), a estimativa para a taxa básica de juros, a taxa Selic, está em 10% ao final deste ano, mantendo valor da semana anterior.

De acordo com a pesquisa, para 2025 e 2026, o mercado espera que a taxa de juros termine em 9,00%, igual projeção da semana anterior.

Ainda no Focus, o principal indicador de inflação, o IPCA deve terminar 2024 em 3,86%, acima da projeção da semana passada (3,80%) e das últimas quatro semanas (3,73%).

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Além disso, o mercado financeiro manteve as suas estimativas do PIB deste ano, para 2,05%, igual à projeção da semana anterior. Há quatro semanas, a previsão era de 2,02%.

No câmbio, a previsão desta semana elevou a cotação do dólar para R$ 5,05 para 2024, em relação a semana passada (R$ 5,04) e há quatro semanas (R$ 5,00).

Segundo analistas da XP, o mercado vem acompanhando de perto as expectativas coletadas pela pesquisa Focus do Banco Central.

Quanto ao IPCA, os analistas comentam que as expectativas não devem migrar no curto prazo para a projeção de 4,0% (da XP) para próximo ano, mas a alta recente reforça cenário desafiador para o Banco Central continuar reduzindo juros.

"O mercado, agora, projeta que a taxa Selic de 2024 seja reduzida para 10,0% neste ano, ante 9,75% na última semana, em linha com a nossa projeção", comentam os analistas.

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Última reunião do Copom

Na última reunião de março, o Copom anunciou o sexto corte seguido da taxa Selic. A taxa caiu para 10,75%, na segunda reunião do ano. A decisão era majoritariamente esperada pelo mercado e foi unânime.

Nesta reunião, os membros do Copom reduziram o período do forward guidance, retirando a sinalização de novos cortes do mesmo tamanho no plural. Com a mudança, o colegiado passou a mirar apenas o encontro atual, com o BC indicando um corte da mesma magnitude.

Ao justificar a mudança, o colegiado alegou o aumento das incertezas domésticas e, principalmente, do exterior. Desde então, o quadro vem se mostrando ainda mais extremo e o presidente do BC,Roberto Campos Neto, passou a adotar um discurso avaliado como mais hawkish em suas participações públicas. Mais recentemente, houve a percepção de que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos), pode demorar mais tempo do que o esperado para reduzir suas taxas.

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