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BC eleva juros a 10,75% e aponta risco maior de alta da inflação

18 set 2024 - 18h49
(atualizado às 20h10)

O Banco Central decidiu nesta quarta-feira elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, a 10,75% ao ano, em decisão unânime de sua diretoria, passando a ver um cenário com risco mais elevado de alta da inflação à frente e sugerindo também um possível superaquecimento da economia brasileira.

A primeira alta de juros em pouco mais de dois anos veio após autoridades do BC terem chamado atenção para a força da atividade econômica e afirmado que o aperto nos juros era uma possibilidade.

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Em comunicado, o Comitê de Política Monetária (Copom) não deixou claro o que fará em sua reunião de novembro, mas ressaltou que o ritmo de ajustes futuros na Selic e a magnitude total do ciclo agora iniciado serão ditados pelo "firme compromisso" de convergência da inflação à meta e dependerão da dinâmica dos preços.

Segundo a autarquia, essa avaliação levará em conta, em especial, os componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, as projeções e expectativas de inflação, o hiato do produto e o balanço de riscos para os preços à frente.

O BC deixou de ver uma equivalência de riscos que podem pressionar a inflação para cima ou para baixo, apresentando agora visão mais pessimista.

"O Comitê avalia que há uma assimetria altista em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação", afirmou.

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Em outro fator colocado pelo Copom como determinante para as análises futuras, o BC passou a afirmar que o dinamismo maior que o esperado na atividade e no mercado de trabalho levou a uma reavaliação do hiato do produto para o campo positivo -- quando a economia está operando acima do seu potencial, indicando superaquecimento.

"O cenário, marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demanda uma política monetária mais contracionista", afirmou.

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, sublinhou uma "mudança importante na mensagem do comitê", que excluiu o trecho que destacava a necessidade de maior vigilância, passando a dizer que o cenário demanda política monetária mais contracionista.

"O Copom não só deixou aberta a possibilidade de acelerar as altas para 0,50 ponto, como não deu quaisquer sinais sobre a taxa terminal do ciclo, uma mensagem bastante conservadora em nossa visão", acrescentou.

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Para o economista Banco Master Paulo Gala, o BC destacou que o balanço de riscos está claramente desequilibrado, a economia já começa a operar acima da sua capacidade e as expectativas de inflação estão completamente fora da meta.

"Se o Copom não tivesse feito nada, ele basicamente estaria rasgando a meta de inflação. O que ele está dizendo de maneira bem clara é que a meta de inflação é para valer, que ele vai agir", afirmou.

A decisão desta quarta veio em linha com a expectativa de mercado captada em pesquisa da Reuters, na qual 36 de 40 economistas entrevistados projetavam que o BC elevaria a Selic em 0,25 ponto nesta quarta. O último aumento da taxa havia ocorrido em agosto de 2022, quando passou de 13,25% para 13,75%.

Com o ajuste desta quarta, a autoridade monetária desfez o corte de 0,25 ponto implementado em maio, o último antes de interromper o ciclo de reduções na Selic que vinha colocando em prática desde agosto de 2023. A taxa permaneceu estável nas reuniões de junho e julho.

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O Copom ainda manteve em seu comunicado a afirmação de que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida pública impacta a política monetária, citando que a percepção do mercado sobre as contas públicas tem afetado preços de ativos e expectativas.

A decisão do BC, que cita dúvidas sobre os juros nos Estados Unidos entre os fatores que colaboram para um ambiente desafiador, ocorreu horas após o banco central norte-americano cortar a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, sinalizando mais cortes à frente, o que pode indicar um cenário mais benigno para países emergentes.

PROJEÇÕES PIORAM

Desde a última reunião do Copom, as expectativas de mercado para os preços à frente seguiram desancoradas, fator tratado enfaticamente com preocupação pela autarquia, com a previsão para o IPCA de 2025 no boletim Focus oscilando de 3,96% para 3,95% entre julho e esta semana.

O próprio BC piorou nesta quarta suas projeções de inflação em relação a julho, com estimativas passando de 4,2% para 4,3% em 2024 e de 3,6% para 3,7% em 2025 no cenário de referência, que segue as projeções de mercado para a trajetória dos juros.

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O comunicado também apresentou projeção para a inflação no primeiro trimestre de 2026, que passou de 3,4% para 3,5% no cenário de referência.

O centro da meta oficial para a inflação neste e nos próximos anos é de 3%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

A reunião do Copom desta semana foi a primeira após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicar o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, para assumir a presidência da autarquia a partir de 2025. O nome escolhido pelo governo ainda passará por avaliação e votação no Senado.

Falas recente de Galípolo foram lidas por analistas de mercado como posicionamentos mais duros para a condução da política monetária. Desde a reunião de julho, ele afirmou que uma possível alta nos juros estava na mesa do Copom e destacou haver desconforto com as expectativas de mercado desancoradas.

O atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, por sua vez, afirmou no fim de agosto que a autarquia faria o que fosse preciso para alcançar a meta de inflação, mas ponderou que um eventual ciclo de ajuste nos juros básicos seria gradual.

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