O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta segunda-feira que o câmbio flutuante é um dos pilares da matriz econômica do país, reiterando que a autarquia só atua no câmbio em caso de disfuncionalidades.
"Efetivamente, a gente vai continuar fazendo atuações só por questões de disfuncionalidades, como essa de você ter uma sazonalidade de final de ano de dividendos que vão para fora e coisas desse tipo", afirmou, ao responder pergunta sobre o tema no XP Fórum Político, do banco XP.
De acordo com o diretor, o câmbio flutuante "está cumprindo seu papel muito bem" e, junto das reservas internacionais, é um mecanismo de defesa "bastante relevante" no enfrentamento de desafios globais.
Ele disse não esperar mudanças na política cambial do BC com a chegada de Nilton David, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assumir a diretoria de Política Monetária a partir de janeiro, quando Galípolo tomará posse como presidente do banco.
A fala de Galípolo sobre a atuação do BC no mercado de câmbio ocorre em meio à crescente desvalorização da moeda brasileira em sessões recentes, movimento que gerou expectativa por novas intervenções da autarquia em parte do mercado. Na sexta-feira, o dólar à vista fechou o dia com alta de 0,17%, cotado a 6,0012 reais -- maior valor nominal de fechamento da história.
Às 12h22 desta segunda, o dólar à vista subia 1,17%, a 6,0715 reais na venda.
A queda do real ocorre na esteira da reação negativa do mercado ao duplo anúncio do governo na semana passada de um projeto de reforma do imposto de renda e de um pacote de medidas de contenção de gastos.
Investidores avaliaram que o pacote fiscal, que prevê uma economia de 71,9 bilhões de reais em dois anos, veio na direção correta, mas o anúncio da reforma do IR, que busca expandir a faixa de isenção para quem ganha até 5 mil reais, teria sinalizado um descompromisso do Executivo com o ajuste fiscal.
Galípolo disse enxergar o anúncio das medidas como um fator relevante tanto para a desvalorização do real como para a desancoragem adicional das expectativas de inflação. Ele indicou, no entanto, que a autarquia não tem dados suficientes para avaliar o impacto da proposta do IR.
"Tenho duas reformas tributárias para me queixar que eu não tenho dados suficientes para entender o impacto", disse.
"Na primeira reforma tributária (do consumo) eu já me queixava que precisava de mais estudos para entender como vai impactar preço. Isso não está claro... Agora tem que fazer sobre qual o impacto da (reforma da) renda."
Ele disse entender que o Ministério da Fazenda, do qual foi secretário-executivo entre janeiro e junho de 2023, aceitou o desafio de "mudar completamente" a estrutura fiscal do país.
Na última vez que entrou no mercado de câmbio, no mês passado, o BC vendeu 4 bilhões de dólares em dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) para lidar com uma demanda maior pontual.
Tradicionalmente, a autarquia costuma realizar leilões de linha nos finais de ano, em especial em dezembro, para atender à demanda por moeda para envio ao exterior.