A famosa marca de luxo Hermès se tornou alvo de polêmica após dois clientes ingressarem com uma ação judicial, acusando a empresa de vender a bolsa Birkin somente para consumidores que já haviam gastado grandes quantias com outros produtos da loja.
Famosa pela criação de peças icônicas na moda, a Hermès virou alvo de polêmica após ser processada por dois clientes que tentaram adquirir a bolsa Birkin na Califórnia, nos Estados Unidos. A peça, lançada originalmente em 1984, pode custar entre R$ 30 mil e R$ 2 milhões.
Os clientes entraram com uma ação judicial em 19 de março deste ano, acusando a marca de vender as bolsas somente a consumidores que já teriam gastado quantias significativas com outros produtos da loja. Na ação, um deles, identificado como Mark Glinoga, relatou que tentou comprar a peça ao longo de 2023, mas obteve a informação de que "precisava adquirir outros produtos da marca".
Já a outra cliente, Tina Cavalleri, disse que gastou "milhares de dólares" na Hermès, mas que, quando manifestou o desejo de comprar a bolsa em setembro de 2022, foi informada pela loja que o modelo era vendido apenas para "clientes que haviam sido consistentes" em apoiar o negócio. Com isso, Tina relatou ter se sentido pressionada a comprar mais itens da Hermès. De acordo com a Reuters e agências internacionais, os dois solicitaram à Justiça que não permita a prática da empresa, além de indenização financeira.
Exclusividade
Apesar de gerar curiosidade, essa não é a primeira vez que a temática ganha repercussão entre o público. Inclusive, vale destacar que marcas de moda de luxo, como é o caso da Hermès, têm posicionamentos alinhados com a tradição e regulamento próprios da empresa.
Em entrevista ao Terra, a curadora do Hub de Moda e Luxo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Katherine Sresnewsky, pontua que as marcas de luxo prezam pela exclusividade e tradição, além do alto preço e elevada qualidade dos produtos. Segundo a especialista, essas características também impactam no valor agregado do negócio.
"Tem marcas que não são tão caras e depois ficam muito mais caras, porque se tornam mais desejadas com o passar dos anos. E tem marcas que em algum momento decidem limitar o seu acesso", afirma.
Segundo ela, a manutenção desse acesso tem a ver com o pilar de exclusividade fomentado pelas marcas de luxo, como a Hermès. Além disso, a curadora destaca as classificações e ofertas de produtos para atender diferentes tipos de clientes, como a venda de perfumes, óculos e até esmaltes, como a também francesa Chanel.
"Nesse mercado, a gente tem alguns níveis. Então, a gente tem o luxo acessível, o luxo intermediário e o luxo inacessível. A maioria dos negócios que trabalham com o mercado de luxo, vamos falar, vamos fechar aqui, para a moda, geralmente hoje já consegue acender essas três segmentações", aponta.
Mesmo com a oferta de outros produtos 'mais acessíveis', a especialista reitera que as marcas de luxo trabalham para que o luxo inacessível seja considerado algo 'muito exclusivo' e que essa atuação não é uma novidade nesse mercado.
"Essa movimentação que acontece hoje, ela não é uma movimentação estranha. Ela é uma movimentação esperada por todas as marcas que pregam pela sua exclusividade", acrescenta.
Outro ponto que interfere nessa condição é o desenvolvimento e produção das peças, que, na maioria das vezes, acontece de forma artesanal e com uso de máquinas especializadas. No caso da bolsa Birkin, que foi criada em 1984 e virou hit entre celebridades como Kim Kardashian, Mariah Carey e Lady Gaga, a peça é feita de couro e conta com um processo de curtimento específico, conforme informa a marca em seu site.
"Tem esse processo produtivo muito cauteloso, principalmente em acessórios, artigos de couro. Vamos falar da bolsa que é o artigo mais desejado e um dos maiores símbolos da marca. São produtos, muitas vezes, feitos à mão. Ou são construídos, em grande parte, em máquinas e finalizados à mão", diz o informativo.
A manutenção do luxo inacessível e exclusivo é trabalhada não só no universo da moda, mas em outros segmentos, como nos automóveis de alta performance.
Idealização da bolsa
Com quatro décadas de história, a bolsa Birkin foi inspirada na atriz, cantora e ex-modelo, Jane Birkin (1946-2023), e logo se tornou hit entre as celebridades. Conhecida como um dos ícones da marca francesa, as bolsas são vendidas a clientes fiéis e que possuem relacionamento com a marca.
A ideia de criar a bolsa aconteceu durante o encontro de Jane Birkin e o diretor administrativo da Hermès, Jean-Louis Dumas (1978-2006), em um voo de Paris para Londres, no ano de 1984. Na ocasião, a artista, que usava um grande sacolão de palha, lamentou o fato de não conseguir uma bolsa adequada às suas necessidades como mãe de primeira viagem.
A partir dessa inspiração, o designer projetou uma bolsa grande retangular, flexível e com aba polida e pespontos. O acessório ainda contou com espaço próprio para mamadeiras.
Mesmo com o passar dos anos, a bolsa se manteve como artigo de desejo e acumulou ainda mais valor. Com diversas cores e acabamentos, as peças são desenvolvidas em quatro tamanhos e leva cerca de dezoito horas para ser finalizada.
Além da alta qualidade da matéria-prima e cuidado com a confecção, o valor da bolsa também está relacionado ao tratamento após a venda, que incluem reparos e serviços vitalícios na oficina da Hermès em Paris, na França.
Empresa francesa
Fundada pelo empresário francês Thierry Hermès em 1837, a empresa fatura cerca de 11,6 bilhões de euros, o equivalente a R$ 61,3 bilhões, por ano. Com tradição familiar há seis gerações, a Hermès mantém o essencial de produção na França, em suas 54 unidades de produção, desenvolvendo ainda uma rede internacional de distribuição que agrega mais de 300 lojas em 45 países.