A crise energética voltou a ser abordada pelo presidente Jair Bolsonaro, que pediu colaboração da população para enfrentar o atual cenário de escassez hídrica e de baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas. Em transmissão nas redes sociais nesta quinta-feira, 23, o presidente pediu para as pessoas tomarem banho gelado e evitarem o uso de elevador.
"Se puder apagar uma luz na tua casa apaga, eu peço por favor. Não use elevador. Tomar banho é bom, mas se puder tomar banho frio é muito mais saudável, ajuda o Brasil", disse o presidente. "A gente pede a Deus que agora em novembro, final de outubro, venha chuva para valer no Brasil. Para que a gente não tenha problema no futuro, que podemos ter problema no futuro", afirmou.
Assim como em outras ocasiões, Bolsonaro também voltou a pedir para a população apagar um ponto de luz, sempre que possível. "Nós estamos vivendo a maior crise hidrológica dos últimos 90 anos. Se você puder, apague uma luz na tua casa, se puder desligue o ar-condicionado. Se não puder - está com 20 graus? - passa para 24 graus, gasta menos energia", disse.
Conforme mostrou o Estadão, para evitar o risco de um apagão, o governo está acelerando a entrada em operação de algumas usinas e linhas de transmissão, além de explorar outras fontes de energia, como fotovoltaicas, eólica e solar, para reforçar o abastecimento. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) tem rodado o setor para conseguir aumentar a oferta adicional de energia e, até o momento, conseguiu 2.354 megawatts (MW) de potência instalada. Para evitar um blecaute, porém, o Brasil precisará de algo entre 4 mil e 5 mil MW de energia adicionais, além do volume previsto inicialmente.
Além disso, o governo lançou um programa de economia de energia voluntário, que dará um bônus de R$ 0,50 a cada 1 quilowatt-hora (kWh) economizado para o consumidor que baixar o uso de energia entre 10% a 20%. Também na tentativa de diminuir o consumo, o governo criou a tarifa de escassez hídrica, que cobra uma taxa de R$ 14,20 a cada 100 kWh utilizados. A medida passou a valer neste mês e vai até dia 30 de abril.
Apesar das medidas, o cenário ainda é de grande preocupação. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o nível dos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste está no menor patamar desde a crise de 2001. Na época, as represas operavam com 20,8% da capacidade - até o dia 15 deste mês, porém, o nível nos reservatórios é de 18,23%.
Gasolina
Bolsonaro também aproveitou a transmissão para falar sobre a alta dos combustíveis, outro tema sensível para a população. Ele sugeriu a diminuição da concentração de etanol na gasolina para baixar o preço, que tem sido um dos atuais "vilões" da inflação.
"A gasolina custa em média R$ 2 na refinaria, aumenta de preço porque é adicionado etanol. Etanol encarece gasolina na origem", declarou o chefe do Executivo. Hoje, a lei autoriza a mistura de 18% a 27% de etanol anidro à gasolina. Quem decide o porcentual é o Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool (Cima), vinculado ao Ministério da Agricultura e integrado às pastas da Economia e de Minas e Energia. "O preço da gasolina pode diminuir um pouco se diminuir a concentração de etanol na gasolina".
O presidente reconheceu, porém, que a possibilidade de diminuir a proporção de etanol na gasolina não é um ato unilateral da Presidência e sugeriu que a medida poderia causar revolta. "Os usineiros vão chiar, porque eles têm um mercado garantido hoje em dia, que é o etanol que você bota no seu carro, na gasolina ou o etanol puro. Então, olha o tamanho da encrenca para a gente diminuir o porcentual da mistura do etanol na gasolina", disse o presidente.
Apesar da sugestão, ele insistiu na retórica de que a alta no preço dos combustíveis se deve à cobrança do ICMS, um imposto estadual que varia proporcionalmente. Ele vem cobrando os governadores a baixar o imposto, a maior fonte de arrecadação em vários Estados. O preço dos combustíveis é altamente impactado, ainda, pela cotação do dólar, muitas vezes alavancado por crises políticas nascidas dentro do Planalto e pela crise fiscal.
IOF
Bolsonaro disse ainda que está "apanhando até não poder mais" desde que anunciou alta na alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). "Qual o objetivo de aumentar o IOF até o final do ano? Não é aumentar imposto. Aumentou imposto, sim, mas zerou o PIS/Confins do milho", tentou justificar o presidente. "Aumentou de um lado e tirou do outro lado, ficou no zero a zero", acrescentou.
Contudo, a alta no IOF sobre operações de crédito para empresas e pessoas físicas foi anunciada para bancar o novo Bolsa Família, batizado de Auxílio Brasil. O programa deve ser usado pelo Planalto como uma vitrine nas eleições de 2022. /COLABORARAM RENÉE PEREIRA, EDUARDO GAYER E DANIEL GALVÃO