A Bovespa fechou em queda nesta terça-feira e encerrou setembro com a maior recuo mensal desde maio de 2012, com investidores colocando no preço das ações a possível reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), enquanto aguardam novas pesquisas eleitorais a poucos dias do pleito, no próximo domingo.
O Ibovespa recuou 0,93%, a 54.115 pontos. O volume financeiro do pregão somou R$ 10,7 bilhões.
No mês, o índice teve desvalorização de 11,7%, maior queda percentual desde maio de 2012, quando perdeu 11,86%, anulando totalmente o ganho de agosto, de 9,78%, quando o mercado viu na entrada de Marina Silva (PSB) na disputa eleitoral uma chance real de mudança no governo federal
Nos três meses até setembro, porém, o Ibovespa acumulou ganho de 1,78%. No ano, o Ibovespa ainda acumula alta de 5,06%.
"Houve uma euforia em agosto com uma possível alternância de governo, mas conforme Marina perdeu fôlego nas intenções de votos, com essa tendência se confirmando paulatinamente, acabou ocorrendo uma reavaliação de risco e uma forte realização de lucros", disse Julio Erse, gestor na NP Investimentos.
Analistas e profissionais do mercado financeiro veem com bons olhos uma mudança de governo, por acreditarem que a política econômica seria alterada.
De acordo com estrategistas do Bank of America Merrill Lynch, "as ações brasileiras continuam a reagir às pesquisas eleitorais presidenciais e a volatilidade deve seguir alta até termos uma definição clara do potencial vencedor".
Uma bateria de levantamentos sobre intenções de votos está registrada no Tribunal Superior Eleitoral para os próximos dias, incluindo divulgação dos amplamente monitorados Ibope e Datafolha ainda nesta terça-feira.
As principais pressões negativas para o Ibovespa no dia vieram de papéis tradicionalmente sensíveis à cena eleitoral, como as ações da estatal Petrobras, que acumularam no mês perda ao redor de 20%, equivalente a quase R$ 66 bilhões em valor de mercado.
Na véspera, os papéis da petroleira tombaram cerca de 10%, o que fez com que a Petrobras deixasse de ser a maior companhia em valor de mercado na Bovespa, com R$ 236,3 bilhões, cedendo tal colocação à Ambev, com R$ 256,51 bilhões.
Os papéis dos bancos, como Itaú e Bradesco, também pressionaram o índice nesta terça-feira.
Banco do Brasil, além do efeito via quadro político, também sofreu após o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, não detalhar em coletiva sobre o resultado fiscal do governo central como usará as ações do banco detidas pelo Fundo Soberano para compor o superávit primário.
O déficit primário de R$ 14,46 bilhões em agosto, divulgado pelo Banco Central pela manhã, muito acima do déficit primário de R$ 5,1 bilhões esperado por analistas ouvidos pela Reuters, foi mais um componente negativo.
"O mau humor está instalado", disse durante o pregão o operador de renda variável de uma corretora em São Paulo, que pediu para não ser identificado.
Do noticiário corporativo, o leilão da faixa de 700 MHz da telefonia móvel de quarta geração (4G) também ocupou a atenção no início do pregão, com as três maiores operadoras de telecomunicações no Brasil arrematando licenças num leilão que rendeu bem menos que o esperado para os cofres públicos.
A Claro e a TIM Participações ficaram com os lotes 1 e 2, respectivamente, oferecendo cada uma R$ 1,947 bilhão pelas licenças, com apenas 1 por cento de ágio. A Telefônica Brasil (que opera sob a marca Vivo) pagará o lance mínimo de R$ 1,928 bilhão pelo lote 3.
As ações da TIM e da Telefônica Brasil estiveram entre as poucas a acumular ganhos no mês de setembro, de 2,71% e 1,73%, respectivamente, em meio ao aquecido noticiário de fusões e aquisições no setor.
Os papéis da mineradora Vale fecharam o dia em alta, mesmo após o preço do minério de ferro encerrar setembro com a maior perda mensal desde maio.