O Brasil foi o segundo país da América do Sul e o quarto do mundo que mais tempo manteve fechadas as escolas durante os dois anos e meio de pandemia de covid-19, segundo novo relatório da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado nesta segunda-feira, 3/10. Foram 178 dias sem aulas para os estudantes mais velhos do ensino fundamental e do médio, o triplo de tempo na comparação com a média de países mais ricos. Os três que tiveram pior situação foram Chile, Letônia e Polônia.
Em 2020, 1,5 bilhão de estudantes em 188 países foram impedidos de frequentar as salas de aula por causa da quarentena imposta, uma estratégia recomenda por especialistas para frear a transmissão da covid-19. Na medida em que as vacinas se tornaram amplamente disponíveis ao longo de 2021, a situação melhorou gradualmente e os países suspenderam muitas de restrição do contato social. Além disso, estudos mostraram que as escolas não eram os espaços com maior risco de contágio.
Análises de larga escala começam a mostrar o tamanho das lacunas de aprendizagem motivadas pela crise sanitária. Dados do Saeb, principal avaliação federal de educação, divulgados em setembro apontam queda nos níveis de aprendizagem de Português e Matemática em todas as etapas do ensino básico.
A pesquisa da OCDE mostra que em metade dos países com dados disponíveis para o ano letivo 2019/20 (ou 2020), as escolas foram totalmente fechadas (ou abertas só para alunos com necessidades educacionais especiais e filhos de trabalhadores de serviços essenciais por pelo menos 34 dias na pré-escola, 45 dias nos níveis primário (anos iniciais do fundamental) e nos anos finais do fundamental, e 50 dias no nível médio.
Embora a maioria dos países tenha fechado totalmente suas instalações escolares no início da pandemia, a situação melhorou consideravelmente em 2021 na maioria dos casos. No entanto, alguns países tiveram mais dias de fechamento de escolas em 2021 do que em 2020.
"Esse foi o caso em todos os níveis de ensino na Alemanha e na Eslovênia; nos níveis primário e secundário na Estônia, Letônia e Lituânia; no nível primário no Reino Unido; e no nível secundário na Polônia. A situação voltou ao "normal" na maioria dos países em 2022.
Escolaridade é uma das melhores proteções contra riscos econômicos
O levantamento da OCDE avaliou também o acesso ao ensino superior e conclui que a pandemia demonstrou que a escolaridade é uma das melhores proteções contra riscos econômicos. Nas últimas duas décadas, a proporção de jovens adultos com qualificações avançadas aumentou notadamente nos países da OCDE: em 2021, 48% das pessoas de 24 a 34 anos tinham diploma superior, em comparação com apenas 27% em 2000. Isso se deveu à crescente necessidade de competências avançadas nos mercados de trabalho.
No pico da pandemia, o desemprego aumentou muito mais para aqueles com conclusão do ensino médio do que para quem tem nível superior. Padrão semelhante foi observado após a crise financeira de 2008, diz o estudo da OCDE. Adultos com maior nível de instrução também podem achar mais fácil se adaptar a novas tecnologias que melhorem sua qualidade de vida.
Por exemplo: 71% de pessoas de 55 a 74 anos com nível superior usaram chamadas online ou de vídeo durante a pandemia, permitindo que eles mantenham contato com família e amigos e evitar o isolamento social. Em contraste, apenas 34% dos adultos com idade semelhante com nível médio relataram fazer chamadas virtuais ou de vídeo.
Apesar das vantagens conferidas pelo diploma do ensino superior, há uma série de obstáculos a serem vencidos no Brasil. No País, 33% dos bacharéis se formam dentro da duração teórica do programa. Em toda a OCDE, a taxa de conclusão dentro da duração do programa varia de 12% a 69%.
Embora a ligação positiva entre a educação, taxas de sucesso e de emprego vale tanto para homens quanto para mulheres em toda a OCDE, é particularmente forte para as mulheres. No Brasil, 37% das mulheres com nível de escolaridade abaixo do ensino médio estavam empregados em 2021, em comparação com 78% daqueles com nível superior. Em contrapartida, os números foram 75% e 87% para os homens.
Os benefícios para o mercado de trabalho da conclusão do ensino superior provaram ser especialmente fortes durante as crises econômicas, diz o estudo. Esse também foi o caso durante a pandemia no Brasil. Entre 2019 e 2020, desemprego para trabalhadores de 25 a 34 anos com escolaridade abaixo do ensino médio aumentou 2,7 pontos percentuais, 1,6 pontos percentuais para os trabalhadores com ensino médio e em 1,8 pontos percentuais para os trabalhadores com nível superior.
Em 2021, o desemprego para trabalhadores com nível de escolaridade abaixo do médio aumentou em 0,6 pontos percentuais, em comparação com 2020, 0,9 pontos percentuais para trabalhadores com nível secundário, e recuou 0,2 pontos percentuais para trabalhadores com nível superior