Maria Vitória Borges, de 47 anos, passou quase sete horas na fila de 15 mil pessoas, que tentavam conseguir emprego no mutirão de março, no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo. "A fila começou a crescer em forma de caracol, a gente nem sabia direito onde começava e onde terminava. No fim, acabei fazendo amigos."
Nos últimos anos de crise, a única oportunidade que apareceu para ela foram os trabalhos temporários como fiscal em provas de concursos. "Não desisto, mas acho que o emprego de carteira assinada é uma coisa ainda muito distante."
Com o alto desemprego e a queda do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, o brasileiro se mostra um dos menos confiantes quando perguntado se acredita que irá encontrar uma oportunidade de trabalho nos próximos três meses.
Segundo uma pesquisa da consultoria Michael Page, divulgada com exclusividade ao Estado, 60% esperam se recolocar no mercado em três meses, um porcentual mais baixo do que os trabalhadores turcos, portugueses e italianos, por exemplo. O brasileiro também está mais pessimista do que no primeiro trimestre do ano passado e ficou abaixo da média global, de 64%.
Na última sexta-feira, 31, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que a taxa de desemprego do País era de 12,5%, atingindo cerca de 13,2 milhões de pessoas no trimestre encerrado em abril.
De acordo com o IBGE, a população ocupada, de 92,4 milhões de pessoas, ficou estável em relação ao trimestre anterior, mas cresceu 2,1% na comparação com o trimestre encerrado em abril de 2018.
Para Ricardo Basaglia, da Michael Page, o trabalhador brasileiro está mais realista ao considerar situação ainda complicada do mercado de trabalho. "Antes da crise, o Brasil viveu uma expectativa de crescimento e de formalização do mercado de trabalho que hoje está muito distante. A recuperação da economia também tem ocorrido em uma velocidade menor do que se imaginava."
Ele lembra que a expectativa era que ainda no primeiro semestre a economia mostrasse uma recuperação e que houvesse uma reação significativa do mercado de trabalho. "Hoje, isso parece ter ficado mais para o segundo semestre, considerando-se que as reformas caminhem no Congresso."
Quando o assunto é aumento salarial, os brasileiros também ficaram menos confiantes. O Brasil estava na 21.ª posição, entre 37 países, com 59% de respostas positivas, e abaixo da média global (61%).