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Brasileiro perdeu 21% do poder de compra em três anos

Guilherme Moreira, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe, diz que a inflação elevada vem corroendo os rendimentos dos brasileiros

10 fev 2022 - 05h10
(atualizado às 07h22)

A inflação começou o ano em alta, mas numa velocidade menos acelerada do que a do final de 2021. Para 2022, a perspectiva é de que os preços subam num ritmo que é a metade do registrado em 2021. No ano passado, a inflação oficial ficou em 10,06%, a maior marca anual desde 2017.

Pessoas caminham em rua de comércio popular no Rio de Janeiro
23/12/2020
REUTERS/Pilar Olivares
Pessoas caminham em rua de comércio popular no Rio de Janeiro 23/12/2020 REUTERS/Pilar Olivares
Foto: Reuters

Apesar da perda de fôlego registrada em janeiro e também esperada para o fechamento de 2022, o economista Guilherme Moreira, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), frisa que o cenário é preocupante.

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Ele observa que, em três anos, incluindo este, a inflação deve acumular uma alta de mais de 20%. Essa é a corrosão do poder de compra dos brasileiros, especialmente das famílias de baixa renda que gastam a maior parte do orçamento com a alimentação, o grupo de preços que mais pesou na inflação deste mês.

"A alimentação ainda é o foco de pressão na inflação e deve continuar porque os fatores de alta de preços continuam vivos", afirma. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o sr. avalia a pressão dos alimentos sobre a inflação neste início do ano?

As principais contribuições para a inflação de 2021 vieram da energia, principalmente eletricidade e gás, dos transportes, por conta dos combustíveis e dos preços dos carros, e da alimentação. Esses três itens responderam por 80% da inflação do ano passado. Quando entramos este ano, esses efeitos continuam. Não é porque virou o calendário que eles vão parar. No caso dos alimentos, há três fatores de pressão. Os alimentos industrializados, que subiram mais de 1% ao mês ao longo do ano passado inteiro porque incorporaram aumentos de custos da indústria, como embalagens , frete, energia, continuam nessa trajetória de alta. Tem as questões climáticas que afetaram a produção dos alimentos in natura em janeiro, como verduras e legumes. Houve preços que dispararam, com aumento de mais de 40% no IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe. Existem também as pressões das proteínas animais. A carne bovina continua subindo pela baixa oferta aqui e alta demanda lá fora. A alimentação ainda é o foco de pressão na inflação e deve continuar porque os fatores de alta de preços continuam vivos.

Além da alimentação, quais são os outros focos de pressão para a inflação?

Os preços do transporte são uma incógnita. Há tensão na Rússia e os preços do petróleo devem continuar em alta. Existe também a questão do câmbio que ninguém sabe para onde vai, pois depende da eleição e da crise internacional. Tudo isso contribui para que a inflação deste ano fique acima da meta de 5%. Poderá ser 10%? Pouco provável, pois há uma série de coisas que subiram no ano passado e não devem subir no mesmo ritmo neste ano. Não deveremos ter outra desvalorização de 40% no câmbio. Na energia elétrica, estamos no teto das bandeiras (tarifárias). Todo o aumento da energia acabou sendo concentrado no ano passado. Não acho que vamos ter esses aumentos de preços desses itens combinados de novo. É por isso que a maioria dos analistas, não só eu, acha que a inflação deste ano não vai ser 10%, mas 5,5%. A inflação deste ano vai ser menor do que a do ano passado, mas 5,5% é uma baita inflação, acima da meta e com riscos que podem agravar o cenário. Câmbio em época de eleição é sempre um perigo e tem fatores internacionais que estão fora do nosso controle.

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Como assim?

Se considerarmos que tivemos em 2020 uma inflação de 5,62%, medida pelo IPC da Fipe, e de 9,73% em 2021, são mais de 16% acumulados em dois anos. Se empilharmos mais 5% deste ano, estamos falando de 21% a 22% de inflação em três anos. É muita coisa. É um quadro muito preocupante. Em três anos perdemos 21% do poder de compra e precisaríamos ganhar entre 20% a 21% a mais para compensar o poder de compra perdido. Se, por um lado, o emprego está voltando, a renda ainda está muito abaixo do nível pré-pandemia. E a renda caiu nas camadas sociais mais baixas, que gastam praticamente tudo com alimentação e habitação. Para essas camadas, o emprego depende de ir para rua e ele foi afetado pela pandemia. É muito grave o cenário. Há uma questão social que deve ser o grande debate nas eleições deste ano.

Qual a saída para esse imbróglio?

A saída é muito simples: o País tem que voltar a crescer. É a única saída. Mas com bases sólidas. Não adianta forçar a barra com soluções milagrosas que podem agravar o problema. Tem que voltar a crescer para recompor a renda das famílias. Cerca de 65% do PIB (Produto Interno Bruto) vêm do consumo das famílias e essas famílias foram excluídas do mercado de trabalho. Esse é o grande desafio num cenário de aumento de juros: retomar a atividade econômica.

O sr. aponta o caminho do crescimento, mas o Banco Central sinaliza novos aumentos para os juros básicos e não há um plano do governo para estimular o crescimento. Como fica este ano?

Este ano esquece. A pesquisa Focus (Boletim Focus do Banco Central) aponta crescimento próximo de zero. 2022 será um ano de inflação em alta e crescimento praticamente zero.

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