Nascido em uma família de empreendedores, com pais contadores, Felipe Miranda, 35 anos, viu sua vida desabar durante a pandemia de covid-19. O mineiro, que também herdou a profissão do pai, tinha uma empresa de contabilidade sólida na cidade de Taubaté (SP), com faturamento de R$ 4 milhões por ano, 45 funcionários e tudo fluindo bem com seus três sócios. Mas a perda do pai por infecção generalizada, em 2020, o deixou em choque.
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Responsável pela escolha da profissão e por incentivar o filho ao empreendedorismo desde quando ele tinha 10 anos de idade, o pai de Felipe Miranda sempre foi sua maior referência e sua partida o deixou sem chão. Com a tragédia familiar, a vida profissional também foi afetada. Felipe e seus sócios se desentenderam na gestão da empresa e ele deixou a sociedade.
Fora da sociedade, Miranda viu seu patrimônio se desfazer com muita facilidade, e quase 40% da sua perda foi decorrente da desvalorização do câmbio em dólar. A ruína também lhe tirou o carro de luxo, mais de R$ 200 mil da conta bancária e seu maior patrimônio financeiro construído até então, o valor da sua empresa, estimado em R$ 3 milhões -- sua parte foi liquidada por R$ 100 mil.
A sequência de tragédias pessoais o motivou a uma decisão drástica: tentar a vida em outro país.
“O falecimento do meu pai me desestabilizou e me fez questionar tudo o que eu havia construído no Brasil. A ausência do meu pai me fez pensar na mudança de país. Nada mais fazia sentido após perder o meu herói. Com o luto e conflitos entre os sócios, decidi vender minha participação de 40% na empresa por um valor muito abaixo do esperado e me mudei para os Estados Unidos", conta ele, em entrevista ao Terra.
Mudança para EUA
Como não via mais sentido ficar no Brasil e a maior parte do seu patrimônio tinha derretido, Felipe Miranda decidiu vender o restante das coisas que ainda possuía, entre carros e mobília que havia sobrado, e em novembro daquele ano se mudou para os Estados Unidos com a esposa. O mineiro investiu em um curso de contabilidade online e as portas começaram a se abrir para ele no exterior.
Felipe conseguiu um trabalho em Miami, mas, como todo empreendedor, não conseguiu ficar quieto e resolveu abrir seu próprio negócio.
"Percebi que aqui é um cenário que fazia muito sentido no ramo da contabilidade sobre empresas nos EUA. Em termos de liberdade econômica, os EUA estão em 25ª posição e o Brasil encontra-se na posição acima de 140. O empreendedor brasileiro que entra aqui dificilmente tem problemas", comenta.
Negócio nos EUA?
Atualmente, Felipe Miranda é especialista em dolarização de patrimônio e é dono de uma corretora de câmbio, que administra mais de US$ 25 mihões (R$ 136 milhões, na cotação atual) de clientes brasileiros. O faturamento anual da corretora é de R$ 15 milhões.
Ao Terra, ele contou que a corretora de câmbio 305 Markets surgiu da oportunidade de dolarizar o dinheiro dos brasileiros e empresas que tinham interesse em levar seus negócios para os Estados Unidos e até mesmo ganhar em dólar através do mercado de câmbio.
"Temos em torno de 45 colaboradores e no último ano negociamos aproximadamente US$ 16 bilhões, tendo gerido aproximadamente US$ 25 milhões em capital de terceiros, em termos de dolarização e investimentos no mercado de câmbio e metais preciosos", revela.
Especialista em dólar, Felipe Miranda ressalta a quantidade de estrangeiros que empreendem nos EUA. De acordo com o empresário, no Brasil existem aproximadamente 7 milhões de CNPJs ativos, enquanto nos EUA só de CNPJs estrangeiros (lá são chamados de EIN) são 5 milhões.
"Os EUA é um país muito ligado ao empreendedorismo e está de braços abertos o tempo inteiro para quem deseja investir e trazer resultados para o país", afirma.
Cotação do dólar
Mesmo com o dólar em alta, acima dos R$ 5,40, Felipe Miranda afirma que os brasileiros continuam investindo na moeda norte-americana. Segundo ele, independentemente de quanto esteja o preço, o dólar é sempre favorável para quem está no Brasil, porque o investidor está buscando uma proteção cambial e patrimonial a longo prazo.
"Se o dólar está muito baixo, é um bom cenário, pois as pessoas costumam comprar mais dólar, mas mesmo com o dólar mais alto, nosso investidor continua comprando, pois sabe que a longo prazo, a tendência do dólar é sempre subir e valorizar", finaliza.