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Brics separa mais do que une integrantes,dizem especialistas

Coordenação de interesses econômicos comuns no grupo é complicada por se tratar de países muito diferentes

14 jul 2014 - 15h55

Embora se apresentando como bloco, Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul têm diferenças e tensões inegáveis. Mas em Fortaleza líderes devem se concentrar em projetos comuns, como o futuro banco de desenvolvimento.

As nações do grupo Brics se reúnem a partir desta segunda-feira em Fortaleza. Durante três dias, eles irão tentar superar as diferenças nacionais e se concentrar nos objetivos comuns.

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Quando, em 2001, o economista britânico Jim O'Neill cunhou a sigla Bric, o Brasil, a Rússia, Índia e China eram quatro grandes países emergentes que cresciam rapidamente. No entanto, a crise econômica e financeira colocou um ponto final no crescimento dinâmico das economias emergentes. Em 2009, a África do Sul foi integrada ao grupo, e o Bric passou a ser Brics.

Porém é difícil coordenar os interesses econômicos do grupo, por se tratar de países muito diferentes, observa Rolf Langhammer, do Instituto de Economia Mundial de Kiel. "A Índia é, com certeza, um país em desenvolvimento. A Rússia já não o é mais, definitivamente. A China está prestes a se tornar uma potência industrial."

Se houve algo como a formação de blocos, isso ocorreu internamente, diz Langhammer. Assim, durante a rodada de Doha de 2008, o Brasil e a Índia se apresentaram como porta-vozes dos países emergentes e em desenvolvimento. Um ano depois, na Conferência do Clima das Nações Unidas, a China e a Índia impediram um acordo que ia contra os seus interesses.

O exemplo mais recente é o acordo de gás natural entre a China e a Rússia, assinado em maio deste ano. No contexto dos conflitos no Leste Europeu e das ameaças de sanções, o negócio, que vai movimentar US$ 400 bilhões, serve para mostrar ao Ocidente que Moscou pode vender seu gás a outros mercados.

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Mas há também tensões. Por trás da aparente harmonia sino-russa, domina o mal-estar de Moscou, por Pequim vir rechaçando a influência russa da Ásia Central. Além disso, cada vez mais chineses se estabelecem na pouco povoada Sibéria. E os conflitos na fronteira chinesa e indiana prejudicam a relação entre os dois gigantes asiáticos.

Conflitos internos

Devido à falta de confiança e de interesses econômicos comuns, o economista parte do princípio "que esses países se veem mais como concorrentes em termos de matérias-primas, recursos e território, e não tanto como parceiros".

Ao lado dos desgastes recíprocos, cada país tem problemas internos para resolver. "A África do Sul tem a menor taxa de crescimento entre os países do Brics, além de uma elevada taxa de desemprego entre os jovens", aponta Helmut Reisen, da consultoria Shifting Wealth. Segundo o especialista, a educação profissional não leva em consideração as demandas do país, e o posicionamento forte dos sindicatos leva repetidamente a greves prolongadas, que paralisam a vida econômica.

É fato que, graças aos subsídios estatais, a Índia possui setores industriais bastante avançados, como o de software e o de medicamentos genéricos, mas isso não implicou a criação de muitos empregos, diz Reisen. "Assim sendo, grande parte da população permaneceu onde estava, ou seja, numa imensa pobreza."

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Um outro problema da Índia é seu grande déficit orçamentário estrutural, revela o especialista, que trabalhou como diretor de pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O déficit do orçamento é igualmente um problema no Brasil, onde, devido a um fraco crescimento econômico, a classe média está ameaçada pela pobreza.

Núcleo de um movimento maior?

A Rússia e a China constituem dois polos extremos dentro do Brics: enquanto a economia russa se encontra, no melhor dos casos, estagnada, a chinesa ostenta um crescimento superior a 7% – e essa força nem sempre contribuiu para uma sensação de segurança entre os parceiros do Brics. É visando represar a hegemonia chinesa, que se pretende dividir em partes iguais os US$ 50 bilhões do capital inicial do banco de desenvolvimento planejado pelo grupo.

"Mas levantar US$ 10 bilhões é um problema maior para a África do Sul do que para a China", ressalva Reisen. Resta aguardar se, no encontro em Fortaleza, o Brics resolverá todos os pontos de conflito e anunciará a fundação do banco.

Langhammer vê o banco comum, antes, como um sinal político para as nações industriais. "Os países do Brics querem se tornar independentes do que chamam de 'o ditado do Fundo Monetário Internacional', ou mesmo dos bancos regionais de desenvolvimento, comandados pelos velhos países industrializados."

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Os Estados do Brics possuem um papel hegemônico em suas regiões e, "na medida em que essa hegemonia seja convertida em boa vizinhança, há uma chance de que o Brics venha a ser, de fato, o núcleo de um movimento abrangendo muitos outros países emergentes", projeta Langhammer. Nesse sentido já se fala de um "Next Eleven", que incluiria a Indonésia, Turquia e Nigéria, entre outras.

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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