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Briga na Eldorado suspende projeto de R$ 12 bilhões

Presidente da sócia Paper Excellence diz que irmãos Batista se arrependeram de venda após alta da celulose

13 ago 2019 - 05h11
(atualizado às 08h11)

Segunda maior produtora de celulose do País, atrás da gigante Suzano (dona da Fibria), a Eldorado, que pertence à holding J&F, da família Batista, e à Paper Excellence (do clã indonésio Wadjaya), está segurando um "cheque" de cerca de R$ 12 bilhões. O valor refere-se ao projeto de expansão da companhia, que tem hoje capacidade para 1,7 milhão de toneladas por ano. Esse investimento está "sustado" em razão da briga entre os dois sócios e não deverá sair do papel enquanto o processo de arbitragem não for concluído - a pendenga deve ir até setembro do ano que vem.

Vendido em setembro de 2017 para o empresário Jackson Widjaya, da mesma família que controla a gigante asiática Asia Pulp and Paper (APP), o negócio foi fechado por R$ 15 bilhões. Feito quatro meses após as delações dos irmãos Batista sobre corrupção virem à tona, a aquisição incluía dívidas, mas não foi concluída. Desentendimentos entre comprador e vendedor levaram a negociação para arbitragem, que está sob sigilo.

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Eldorado, fundada pela família Batista, é a segunda empresa de celulose do País
Eldorado, fundada pela família Batista, é a segunda empresa de celulose do País
Foto: Eldorado Brasil/Divulgação / Estadão Conteúdo

Ao Estado, o presidente da Eldorado, Claudio Cotrim, disse que a Paper Excellence não vai tocar esse projeto enquanto não tiver 100% das ações da companhia. A Paper Excellence, segundo ele, não tem intenção de prejudicar ou parar os investimentos da Eldorado. Mas, "a expansão não vai sair até a gente assumir".

Hoje, os Batistas têm 50,6% e, os Widjaya, os 49,4% restantes da Eldorado. A Paper Excellence desembolsou R$ 3,8 bilhões por 49,4% das ações, mas o negócio não foi concluído porque os Batistas alegaram que os asiáticos não liberaram as garantias prestadas pela holding em dívidas da Eldorado para pagar os credores. A Paper Excellence acusa a J&F de ter dificultado a liberação, por conta da recuperação dos preços da celulose após o negócio ter sido fechado. "É a crônica do vendedor que se arrependeu de fazer o negócio", disse Cotrim.

Enquanto trocam acusações, os projetos de expansão da gigante de celulose ficam, por ora, em compasso de espera. A ideia original da empresa era elevar a capacidade de produção dos atuais 1,7 milhão para 4 milhões de toneladas. O movimento é vital para que o grupo se mantenha competitivo nos próximos anos, segundo fontes.

Para Cotrim, a Eldorado já tem feito pesados investimentos na atual fábrica, que devem continuar. A companhia está investindo cerca de R$ 350 milhões em uma unidade de biomassa. "Cada dia de tonelada perdida, vou cobrar da J&F ao final desse processo", disse ele.

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Neste momento, os preços da celulose no mercado internacional estão baixos diante da menor demanda da China, maior importador da matéria-prima. A demanda da Ásia por papel tissue (usado para fazer papel higiênico, por exemplo), cresce. Já a de papel para imprimir e escrever segue fraca.

A segunda linha de produção da Eldorado já tem projeto de engenharia e licença ambiental, além da terraplenagem concluída. Tirar esse projeto do papel, contudo, não é simples: demora mais de três anos para erguer a parte industrial e a empresa precisará definir com antecedência a compra de matérias-primas e elevar a produção de eucalipto.

Na semana passada, a Suzano anunciou que vai reduzir investimentos este ano, de R$ 6,4 bilhões para R$ 5,9 bilhões. O movimento reflete a queda dos preços da celulose no mercado internacional e os altos estoques da companhia. A empresa deve produzir este ano 9 milhões de toneladas (a capacidade é de 10,9 milhões).

Em avaliação

Em nota, a Eldorado informou que a implantação de uma segunda linha de produção faz parte do plano original do grupo, desde 2010. "A companhia avalia constantemente as condições para executar esse projeto, embora a disputa societária em andamento crie um momento desfavorável."

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A J&F Investimentos, como acionista controladora, tem tido "o máximo cuidado para evitar que a companhia seja afetada pelos atos hostis da acionista minoritária".

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