O calote e o pedido de recuperação judicial da petroleira OGX, do empresário Eike Batista, coincidiu com um período de emissão recorde de títulos corporativos nos países emergentes - reforçando a percepção de que a ascensão e queda do empresário talvez não seja uma história isolada.
Levantamentos da Moody's e Standard & Poors, duas das principais agências de classificação de risco soberano e corporativo, mostram que nos últimos anos a expansão das economias emergentes foi acompanhada de uma captação recorde por companhias destes países.
Segundo estudos da agência Standard & Poors, as novas emissões corporativas nos emergentes somaram US$ 650 bilhões no ano passado, 16% acima dos US$ 559 bilhões registrados no ano anterior.
Neste ano, o valor acumulado até o fim de julho chegava a US$ 471 bilhões, uma alta de 29% em relação ao mesmo período de 2012.
Na América Latina em particular, a Moody's disse que até julho tinha avaliado o risco de 336 companhias da região, principalmente no Brasil e no Peru - um salto de 10% ao longo do ano.
Ascensão e queda
Mas a interrupção do ciclo de expansão e otimismo, da mesma forma que se traduziu em projeções de crescimento menores para estas economias, se refletiu também na maior dificuldade das empresas destes países em cumprir com suas obrigações financeiras.
"As economias latino-americanas foram negativamente impactadas pelo crescimento global lento, a redução das compras de ativos pelo Fed (o Banco Central americano) e preços de commodities em queda", explicou a S&P.
"Estes fatores levaram os nossos economistas a reduzir suas expectativas de crescimento para a região para 2,7% em 2013 e 3% em 2014."
Submetidas aos "estresses" de um ambiente econômico mais difícil, muitas empresas jogaram a toalha.
Segundo o levantamento da S&P, no ano passado houve 25 calotes nos países emergentes, um salto em relação aos quatro de 2011 e nove de 2010. Isto representa 30% de todos os 84 defaults decretados no mundo, a maior proporção em 16 anos. Onze deles foram em países latino-americanos.
Neste ano, globalmente a agência contabilizava 65 calotes até meados de outubro, sendo 14 deles (21%) em países emergentes. Cinco eram em países latino-americanos.
Os números de 2013 já incluem a OGX por não pagar a parcela de U$ 45 milhões em juros sobre seus títulos anunciado pela OGX em 1º de outubro.
Sem conseguir negociar um acordo com credores, a companhia pediu a recuperação judicial na quarta-feira, oficializando um default de U$ 3,6 bilhões em seus títulos - o maior calote já registrado por uma empresa latino-americana.
Mais queda?
Mas o pior, dizem as duas agências, é que atualmente mais títulos emergentes têm sido rebaixados que elevados, um indicador confiável para prever novas possibilidades de calotes.
No terceiro trimestre, a S&P disse que rebaixou os títulos de 34 entidades - corporativas e soberanas - nos países emergentes e elevou o de 23. Na América Latina houve 20 rebaixamentos, sendo 13 só na Argentina, disse a empresa.
Para a Moody's, "ao longo do próximo ano, o crescimento econômico modesto global e regional colocará desafios para as empresas emissoras da América Latina".
Apesar das tendências, a S&P diz que uma mudança significativa pode advir do fato de as novas emissões terem se reduzido nos últimos dois meses.
"Esta tendência foi particularmente observável na América Latina, onde a emissão de títulos (corporativos) declinou para apenas US$ 2,7 bilhões em junho, de US$ 10,7 bilhões em maio", disse a empresa.
Maiores calotes
No ano passado, o total de dívidas acumuladas pelas 25 empresas de países emergentes que decretaram calote chegou a quase US$ 22 bilhões - um quarto da dívida total de todos os defaults corporativos no mundo.
Mas o valor foi inflacionado por um único emissor, o banco do Cazaquistão BTA Bank J.S.C, que acumulava dívidas de US$ 10 bilhões quando se proclamou inadimplente.
O banco deu o maior calote do ano entre empresas de países emergentes e avançados e o maior calote da história dos países emergentes.
Em outros anos, empresas de países ricos têm decretado os calotes mais altos, segundo levantamento da S&P.
Por exemplo: em 2011, a liderança coube à Texas Competitive Electric Holdings (US$ 32,5 bilhões em dívidas no momento do calote) e em 2010, à Energy Future Holding (US$ 47,7 bilhões).
A crise financeira viu dois outros defaults que entraram para a história: o da Ford em 2009 (US$ 71 bilhões) e do banco Lehman Brothers em 2007 (US$ 144 bilhões), que hoje serve de marco para o início da espiral.
No rol dos maiores calotes da história entram também o da Enron em 2001 (US$ 10,8 bilhões) e da WorldCom (US$ 30 bilhões), que foram à bancarrota imersas em dois dos maiores escândalos de fraudes no mundo corporativo.