Os candidatos aos cargos em disputa nas eleições 2018 perdem ao menos R$ 33 milhões por ano em remuneração ao guardar dinheiro vivo em casa ou deixar em contas correntes bancárias no País ou no exterior, conforme projeção da consultora Betty Grobman, da BSG DuoPrata e professora de mercados financeiro e de capitais na BM&F/Bovespa.
Conforme dados informados à Justiça Eleitoral, o montante chega a R$ 673 milhões e representa 17% de todas as modalidades de aplicações dos candidatos. Ao todo, eles eles possuem R$ 3,9 bilhões de patrimônio em investimentos.
Especialistas em finanças ouvidos pelo Estado desaconselham a prática de deixar dinheiro em caixa parado, sem rentabilidade. Betty afirmou que o percentual é ultrajante e que, se os valores estivessem alocados numa aplicação básica atrelada à taxa Selic, renderiam pelo menos R$ 33 milhões em juros pagos para daqui a um ano, em valores reais, descontados o imposto de renda e a inflação.
"Os candidatos estão se dando ao luxo de não ganhar R$ 33 milhões no período de um ano. Quem é maluco de perder essa oportunidade? Por que essas pessoas têm tanto dinheiro parado e com que finalidade?", questiona Betty. "É muito alto, um ponto fora da curva, na média de uma carteira ter 17% em dinheiro. Não me parece razoável", afirma o professor de Finanças Fábio Gallo, da PUC-SP e da FGV-SP.
Nos cálculos, os especialistas consideram parados também valores em moeda estrangeira, declarados como em posse dos candidatos ou depositados no exterior.
Como o Estado revelou, 2.390 candidatos declararam neste ano ter R$ 304 milhões em espécie, apenas em moeda nacional, sendo que 36 deles informaram ter quantias que variam entre R$ 1 milhão e R$ 5,3 milhões no colchão. O Tribunal Superior Eleitoral e a Receita Federal suspeitam de lavagem de dinheiro e caixa 2 de campanha.
"Hoje em dia é raro algum lugar que você precise de dinheiro em moeda. Cartão de crédito resolve tudo", diz Marcio Reis, diretor de pesquisas econômicas do aplicativo GuiaBolso. "Vejo dois cenários: ou a pessoa não acredita muito na economia e está se protegendo; pode ter algum lado de fraude e a pessoa que é muito informal."
A aplicação mais comum entre as modalidades usadas pelos candidatos é a renda fixa, embora eles tenham um perfil mais arrojado e assumam mais riscos com o dinheiro próprio do que a média do investidor brasileiro. Os candidatos que mais investem em opções clássicas da renda fixa (como CDB e RDB, entre outros) são Fernando Marques, empresário do setor farmacêutico e candidato a senador pelo Solidariedade no Distrito Federal, e o engenheiro João Amoêdo, candidato a presidenta da República pelo partido Novo nas eleições 2018. Ambos são os mais ricos a disputar as eleições. Marques colocou em renda fixa R$ 117 milhões dos R$ 668 milhões informados como patrimônio. Amoêdo, por sua vez, informou ter alocado em renda fixa R$ 217 milhões de seus R$ 425 milhões em bens. No conjunto de candidatos, a renda CDB e RDBs representam 23% das opções de investimento, com um montante de R$ 923 milhões, o maior isoladamente.
"Diante da incerteza eleitoral, a manutenção em recursos conservadores é uma estratégia cautelosa e protetiva. Ativos de renda variável tendem a ser muito mais voláteis às pesquisas e, em tempos de eleição, podem acabar sendo inadequados, especialmente àqueles que têm pouca tolerância ao risco e às oscilações ou, ainda, para aqueles que não podem se dar ao luxo de perder dinheiro, caso precisem vender com urgência seus ativos num mau momento", pondera Betty.
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