Desde de dezembro de 2018, a Colormake, fabricante de maquiagem artística e distribuidora de glitter no País, está em ritmo de carnaval. A fábrica da Vila Maria, zona norte de São Paulo, recebeu duas máquinas novas para automatizar a produção. Também foram contratados 20 trabalhadores, que se juntaram aos 50 funcionários da empresa. Além disso, faz quase dois meses que a fábrica funciona com dois turnos.
Toda essa movimentação que ocorre na indústria é para conseguir cumprir os pedidos de carnaval que, neste ano, cresceram, em média, 40%. Só de glitter, a companhia vai despejar 15 toneladas na folia, um volume 50% maior do que o do último carnaval. "Este será o melhor carnaval da nossa história", afirma Marcelo Fiedler, gestor comercial. A empresa, fundada em 1990, abastece escolas de samba, lojas do varejo e outras indústrias de enfeites.
A transformação pela qual passa a Colormake é uma amostra do que o avanço do carnaval de rua de São Paulo tem feito com a economia da principal cidade do País. Com um número recorde de blocos (516) e de desfiles (556) programados para este ano, segundo a Prefeitura, a receita do Estado de São Paulo com a venda de produtos e serviços ligados ao carnaval é a que mais deve crescer neste ano entre 12 Estados.
Um estudo feito pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) projeta que a receita de serviços em São Paulo durante o carnaval deve atingir quase R$ 1,9 bilhão. É uma cifra 5,4% maior do que a alcançada no mesmo período de 2018. "São Paulo puxa a recuperação do faturamento do carnaval e cresce mais que o dobro da média do País", afirma o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, responsável pelo estudo. O Rio de Janeiro é líder em receita, com um pouco mais de R$ 2 bilhões, mas cresce 2,5%, menos da metade de São Paulo.
A projeção considera o recorte do índice de atividade dos serviços de turismo da Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE, a massa de rendimentos das famílias, inflação, dólar e crédito. O estudo não consegue colocar a lupa sobre o que é exatamente gasto nos blocos e nos desfiles, pois há muita informalidade, pondera Bentes. Mas avalia o que ocorre sazonalmente com os serviços por causa da data.
Virada
Depois de uma queda real (descontada a inflação) de quase 20% acumulada entre 2016 e 2018 na receita de vendas de produtos e serviços turísticos no carnaval, o faturamento na data deve voltar a crescer este ano no País. A CNC projeta uma receita de R$ 6,78 bilhões, 2% maior do que a de 2018, descontada a inflação. Numericamente é um avanço ainda pequeno, mas mostra a volta ao terreno positivo. "Essa virada é um indício de que o orçamento das famílias está sendo um pouco menos asfixiado pela inflação." O economista acrescenta que o dólar 20% mais caro neste ano estimula a vinda de estrangeiros e inibe viagens ao exterior.
Folião adormecido
O estudo mostra que 60% dos gastos do carnaval são despesas com alimentação. Levantamento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) com estabelecimentos localizados em São Paulo, Belo Horizonte, Rio e Salvador mostra que a expectativa é de aumento de 8% a 10% das vendas no carnaval deste ano ante o de 2018. Paulo Solmucci Jr., presidente da Abrasel, observa que o crescimento é muito significativo, especialmente nas praças de São Paulo e Belo Horizonte, que já tiveram um movimento muito bom nos últimos quatro anos, com o avanço dos blocos. "Os foliões adormecidos, que antes do blocos ficavam em casa, agora vão para rua. É um faturamento que não existia antes", frisa.
O fenômeno dos blocos em São Paulo trouxe turistas para a cidade. Na agência de viagens CVC houve alta de 3% na venda de pacotes este ano ante 2018.
Com isso, a ocupação de hotéis cresceu. No carnaval deste ano, deve passar de 50%, ante 45% em 2018, diz Bruno Omori, presidente da Associação Brasileira de Hotéis de São Paulo. "O carnaval de São Paulo não virou um produto, mas deve virar."