A maior rede de supermercados do país, Carrefour Brasil, espera que a normalização do abastecimento em suas lojas ocorra no curto prazo, segundo fato relevante enviado pela companhia após pedido de desculpas da matriz do grupo por declarações contra a carne produzida no Brasil.
"O grupo Carrefour Brasil trabalha intensamente na resolução da situação junto aos fornecedores e espera a normalização do abastecimento no curto prazo para mitigar impacto aos consumidores", afirmou o varejista.
Mais cedo, a sede da companhia na França publicou pedido de desculpas em que afirmou não ter tido a intenção de colocar o setor agropecuário francês contra o brasileiro. Também acrescentou ser "parceiro número 1" do agro do Brasil.
Segundo a rede varejista no Brasil, dona também das bandeiras Atacadão e Sam's Club, desde quinta-feira passada as entregas de carne bovina nas lojas do grupo "não ocorreram conforme programadas".
As vendas de carne bovina representam menos de 5% das vendas brutas do grupo Carrefour no Brasil, "com perfil de rentabilidade inferior à média dos negócios". Segundo a companhia, nenhum fornecedor representa individualmente mais que 4% das vendas brutas do grupo no país, "mas dentro de carne bovina, os principais fornecedores são concentrados".
O Carrefour Brasil disse que desde o dia 21, um dia depois dos comentários do presidente-executivo do grupo, Alexandre Bompard, houve desabastecimento de "alguns cortes de carnes" nas lojas do Atacadão em algumas regiões do país. Enquanto isso, as lojas Sam's e da bandeira Carrefour apresentaram "nível de ruptura dentro do curso normal dos negócios".
"Não houve, até o momento, impacto relevante nas operações de venda de mercadorias, dado o nível de estoque dos produtos", afirmou o Carrefour Brasil no fato relevante.
Na quinta-feira passada, Bompard afirmou em comentário em redes sociais direcionado aos líderes de lobbies agrícolas da França que o acordo UE-Mercosul apresenta "risco da produção de carne transbordar para o mercado francês, deixando de atender às suas exigências e padrões". Na ocasião, Bompard chegou a afirmar que o Carrefour queria formar uma "frente unida com o mundo agrícola" e se comprometeu a "não vender nenhuma carne do Mercosul".
A publicação foi rechaçada não só por representantes de produtores pecuaristas brasileiros como também pelo próprio ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que afirmou na segunda-feira que ficou feliz com a decisão dos fornecedores locais de suspender fornecimento de carne ao Carrefour. Na semana anterior, Fávaro disse que os comentários de Bompard tratavam-se de uma "ação orquestrada" por empresas francesas para sabotar o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, que as autoridades pretendem finalizar este ano.
Em carta nesta terça-feira dirigida a Fávaro, Bombard pediu desculpas e afirmou que o grupo Carrefour "sabe que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor".
"Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas", disse o principal executivo do Carrefour.
Procurado sobre o pedido de desculpas da maior rede de supermercados da Europa, o Ministério da Agricultura confirmou que recebeu a carta de Bombard.
"Com um sistema de rigoroso de defesa agropecuária, que posiciona o Brasil como o principal exportador de carne de aves e bovina do mundo, o Mapa reitera os elevados padrões de qualidade, sanidade e sustentabilidade da produção agropecuária brasileira", disse a pasta, em nota.
As associações de carnes e produtores do Brasil Abiec e Abpa não comentaram o assunto até a publicação deste texto.
Na bolsa paulista, por volta de 10h10, ações do Carrefour Brasil valorizavam-se 2,68%, a 6,89 reais. No mesmo horário, os rivais GPA e Assaí subiam 0,72% e 0,93%, respectivamente, enquanto o Ibovespa tinha ganho de 0,31%.