No ano em que a pandemia de coronavírus levou as compras online a ganharem ainda mais adeptos, também vem aumentando a busca pelo termo "cashback" por brasileiros no Google.
O termo em inglês, que significa "dinheiro de volta", funciona como uma espécie de desconto — mas, em vez de você pagar um valor já reduzido, paga o preço cheio e depois recebe um percentual de volta.
Em geral, o consumidor se cadastra em um site ou aplicativo de cashback, que tem várias redes de lojas parceiras oferecendo um percentual. Aí, se a compra for feita pelo link do aplicativo ou site de cashback, o consumidor recebe um reembolso de parte do valor da compra. Alguns também oferecem cashback para compras em lojas físicas parceiras.
Embora as regras possam variar para cada empresa, normalmente é preciso acumular uma quantia mínima na conta no aplicativo antes de solicitar a transferência para conta corrente ou poupança.
Méliuz e Ame Digital são duas das mais conhecidas no Brasil. O Magazine Luiza também lançou neste ano seu sistema de devolução próprio, no aplicativo da marca — o dinheiro pode ser usado para pagar contas, fazer transferências ou para novas compras.
A Ame Digital, cujo aplicativo foi lançado em 2018 — e que funciona para compras nas Lojas Americanas, Submarino e outras lojas parceiras —, informou que atingiu neste ano mais de 12 milhões de downloads. A Méliuz não se pronunciou por estar em período de silêncio devido à oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês).
Cuidado com a sensação de recompensa
Se o cashback é, na prática, uma espécie de desconto, por que o dinheiro vai para depois voltar?
É aí que mora o poder desse mecanismo, segundo a consultora de finanças pessoais para mulheres Evelin Bonfim.
"É da natureza humana a gente querer alguma recompensa. E o cashback é cirúrgico nesse ponto, ao te dar uma pequena recompensa para você se sentir gratificado por algo que você fez — e esse algo é uma compra, um consumo. É aí que mora o risco", diz. "Psicologicamente, isso é muito poderoso."
É por isso que ela recomenda especial cuidado para quem já tem costume de comprar por impulso, sem uma visão crítica de quanto pode e deve consumir.
"Quando você vê os R$ 5 na sua conta, seu cérebro interpreta como algo positivo, mas já esqueceu que sua fatura do cartão de crédito veio mil reais mais cara."
Ao mesmo tempo, Bonfim diz que pode ser interessante para quem já planejava, de qualquer forma, comprar o produto em questão — especialmente se a pessoa já tem mais consciência sobre os hábitos de consumo e as próprias finanças.
Mesmo assim, a velha regra de pesquisa de preço continua valendo. Ela diz que o produto pode estar mais barato em outro lugar, ainda que sem o cashback. "Às vezes, você vai ter cashback de 2%, mas encontra em outro lugar com 10% de desconto."
Do lado da empresa, Bonfim explica que o sistema é vantajoso exatamente pelo estímulo à compra em maior quantidade ou com mais frequência.
"Você compraria um livro, mas lá acaba comprando cinco. E o dinheiro que ela te paga de volta, a empresa economiza no marketing, por exemplo: em vez de fazer um anúncio tradicional, faz parceria com site de cashback. Não podemos ser ingênuos: se tá no cashback é porque vale a pena pro varejista. Ele devolve 3% e você vai comprar 5x a mais do que compraria se não tivesse aquele estímulo."
Para evitar compra por impulso — ruim para o bolso e para o meio-ambiente —, Bonfim recomenda às clientes dela que mantenham uma lista de compras dos próximos itens que desejam adquirir. Aí, se encontrarem esses produtos com preços mais interessantes, podem aproveitar a oportunidade.
"Você tem que encarar (o cashback) como um desconto na compra que você está fazendo. E não é por estar com desconto que é boa compra pra você", diz. "Se comprar exatamente o que já estava planejando comprar, está tudo certo."