Há muitas lições importantes que podemos tirar das jornadas de transformação digital que as empresas têm adotado nos últimos anos. Mas talvez, o aspecto mais crucial que podemos depreender desse movimento é que não existe um caminho único para todos, e muito menos uma trajetória linear. Na realidade, a transformação digital se trata da busca de soluções para problemas novos, e cujas respostas nem sempre são tão óbvias.
Neste sentido, a Inteligência Artificial (IA) parece convergir para a tecnologia que dará suporte a essas novas demandas. E iniciativas como o ChatGPT nos mostram que o caminho é esse. A IA se tornou um fator dominante nas estratégias de transformação digital de todas as organizações.
Mas, embora ofereça um leque enorme de oportunidades, na maior parte das empresas essa tecnologia foi reduzida a um sistema de manipulação de dados e o seu o uso não tem sido nem artificial, e inteligente.
O uso da IA na prática
Na prática, tecnologias de Inteligência Artificial têm integrado ferramentas de análise estatística, apoiadas por um conjunto crescente de técnicas de aprendizado de máquina. Principalmente, isso significa extrair dados para melhorar como a organização pode aprender com experiências passadas, reconhecer padrões repetidos para automatizar tarefas comuns e correlacionar diferentes sinais nesses dados para prever eventos futuros.
Ainda que essa perspectiva da IA seja extremamente útil, é fato de que as tecnologias baseadas em Inteligência Artificial prometiam uma disrupção muito mais significativa.
Da trituração de números ao ChatGPT
Na década de 1950, o Teste de Turing, criado pelo cientista Alan Turing, determinava que se um ser humano consegue conversar com uma máquina por cinco minutos sem perceber que não é humana, teoricamente estaríamos de frente a uma tecnologia bastante inteligente.
É bem verdade que durante as décadas de 1980 e 90 o desenvolvimento de tecnologias voltadas à Inteligência Artificial caminhou muito pouco. Nós veríamos um salto consistente somente com o Watson, da IBM, em 2011. E entre inúmeros exemplos na sequência, de aplicações de máquinas para jogos, e robôs derrotando humanos no xadrez, chegamos ao ChatGPT, que nos levou um passo adiante, e a duas conclusões importantes.
Em primeiro lugar, o ChatGPT deixa claro para um público amplo que agora superamos o Teste de Turing estabelecido há 70 anos. A tecnologia fornece acesso amplo a uma interface simples, que demonstra capacidade de produzir respostas não apenas bem construídas e verossímeis, mas também com tom humano.
Em segundo lugar, o ChatGPT desvia a atenção de soluções mecânicas para conjuntos de problemas restritos com foco em eficiência e automação, em direção à promessa de uma IA que impulsiona a criatividade para ampliar o que é possível.
A IA deu um passo à frente com o ChatGPT
Quer se trate de uma questão de estratégia de negócio ou de um pedido de geração de software para implementar uma resposta a uma necessidade definida, o ChatGPT consegue produzir uma solução nova e significativa. E esse nível de sofisticação de IA agora está acessível a todos.
Em resumo, a promessa da IA deu mais um grande passo à frente com o ChatGPT. Suas respostas semelhantes às humanas e ampla base de conhecimento impressionaram muitas pessoas.
No entanto, seu lançamento tem implicações mais significativas para a jornada de transformação digital de uma organização: nos ajuda a reimaginar um futuro digital além dos limites de nossas formas atuais de trabalho. Além disso, esse futuro só será concretizado se enfrentarmos os desafios que o ChatGPT coloca no nosso caminho – tanto operacionais, quanto éticos. E isso mostra a todos nós que a disrupção digital não só vai apresentar problemas que ainda não têm resposta, como também traz perguntas que nós, ainda, não sabemos responder.
(*) Rodrigo Costa é sócio-diretor e head de digital business da Kron Digital.