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China reforça disposição para negociar com Trump, e tom entre países volta a derrubar dólar

País asiático afirmou que cooperação comercial e econômica é 'vantajosa para ambos os lados'; no Brasil, moeda americana fechou a R$ 5,91, em meio à expectativa do governo de que novas quedas ajudem a frear inflação de alimentos

24 jan 2025 - 18h26
(atualizado às 18h44)

O tom ameno visto nesta semana entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a China vem ajudando a tirar o ímpeto do dólar globalmente. No Brasil, a moeda americana registrou nesta sexta-feira, 24, nova queda, vista como um alívio pelo governo Lula diante da preocupação com a inflação dos alimentos, conforme recentes falas do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Sob a pressão da disparada nos preços dos alimentos, Haddad ressaltou, na quinta-feira, 23, que as matérias-primas (commodities) estão associadas à variação do dólar e que, por isso, esperava que um recuo na moeda americana, associado à esperada supersafra deste ano, viessem aliviar a inflação na mesa dos brasileiros — embora especialistas como o pesquisador Felippe Serigati, do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro), relativizem o efeito de uma queda do dólar como freio para a disparada de preços.

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Nesta sexta-feira, 24, o dólar recuou no mercado à vista, pelo sexto dia seguido, e fechou a R$ 5,9186, com queda de 0,12%. O tom mais brando do republicano ameniza receios com a inflação americana e global, ao mesmo tempo que Trump já está pressionando o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) a continuar baixando juros, explicam especialistas (leia análises mais abaixo).

Dólar recuou no mercado à vista e fechou nesta sexta-feira a R$ 5,9186, com queda de 0,12%
Dólar recuou no mercado à vista e fechou nesta sexta-feira a R$ 5,9186, com queda de 0,12%
Foto: Epitacio Pessoa/Estadão / Estadão

Na quinta-feira, 23, ao discursar por vídeo no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o presidente americano disse querer uma relação comercial justa com o regime de Pequim e garantiu que terá uma boa convivência com o presidente Xi Jinping.

Nesta sexta-feira, 24, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, afirmou que a cooperação comercial e econômica entre os dois países é "mutuamente benéfica e vantajosa para ambos os lados" e destacou o potencial de diálogo para resolver as diferenças, sinalizando uma abertura para negociação com o presidente dos Estados Unidos.

"A China nunca buscou deliberadamente um superávit comercial com os EUA. Apesar das diferenças e fricções, os dois países têm grandes interesses comuns e amplo espaço para cooperação, o que pode ser fortalecido por meio de diálogo e consultas", ressaltou Mao Ning.

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A China tem mostrado disposição em negociar com Trump, apesar das ameaças do presidente americano. Após falar em tarifa de 10% sobre os importados chineses, Trump reiterou, em entrevista à Fox News, na quinta, a ameaça de elevar a taxação sobre itens fabricados no país asiático, mas amenizou o discurso ao dizer que preferiria não impor a punição comercial.

Uma possível adoção de tarifas sobre importados da China pelos EUA deve tornar bem mais difícil para o país oriental repetir em 2025 o crescimento de 5% registrado em 2024. Tais taxas deverão prejudicar as exportações da China, sobretudo de manufaturados, que foram extremamente importantes para a expansão do seu Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos 12 meses.

Economistas entrevistados pelo Estadão/Broadcast em Hong Kong e Sydney estimam que o PIB da China deve subir ao redor de 4,5% em 2025. Tal patamar indica que, se o governo de Xi Jinping decidir manter a meta de crescimento do país de 5% neste ano, precisará adotar medidas bem mais audaciosas nas áreas fiscal e monetária para estimular o consumo doméstico, muito afetado pela forte crise do setor imobiliário que já dura quatro anos.

Por que o dólar está caindo, na visão de especialistas

O mercado de câmbio acompanha a fragilidade da moeda americana no exterior após os mais recentes comentários de Trump. Nesta sexta, o dólar voltou a recuar ante a maioria das moedas e perdeu força, principalmente, frente ao euro.

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"Trump adotou um discurso mais brando em relação à China, sabendo da dependência dos Estados Unidos de produtos importados e do impacto de aumento de tarifas sobre a política monetária americana", avalia o superintendente da mesa de derivativos do BS2, Ricardo Chiumento, para quem o Fed, dependendo das ações de Trump, pode ter espaço para redução adicional da taxa de juros nos Estados Unidos. "No caso do real, é positivo o fato de Trump não ter citado o Brasil como alvo da política de aumento de tarifas", acrescenta.

O economista Gustavo Rostelato, da Armor Capital, afirma que o recuo recente do dólar reflete, em grande parte, desmonte de posições compradas na moeda americana por investidores estrangeiros, dada a melhora do apetite ao risco no exterior.

Assim, a moeda americana caiu ante a grande maioria das moedas, com efeito no câmbio doméstico. Os dados mais positivos do setor externo brasileiro em dezembro colaboram para fortalecer a moeda local. /Com Antonio Perez, Caroline Aragaki, Luís Eduardo Leal, Pedro Lima e Ricardo Leopoldo

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