Começo esse texto dizendo o óbvio: nenhuma dica financeira será 100% acessível a todas as pessoas porque educação financeira sozinha não resolve os problemas causados pelas desigualdades econômicas e estruturais de um país.
Embora alguns educadores financeiros deem essa falsa impressão e afirmem que “tudo é possível”, a realidade é completamente diferente. Transformar nossa realidade financeira e manter esse patrimônio ao longo dos anos envolve responsabilidades que não são só nossas.
Vai desde mudar nosso sistema tributário e começar a taxar mais quem pode ser taxado até políticas públicas de incentivo à agricultura familiar, redução da fome, incentivo às pequenas e médias empresas, à geração de emprego e renda.
Falando nisso, você já viu o quanto a inflação impacta as finanças de quem ganha mais de 10 salários mínimos por mês? Quase nada! Já quem recebe até 3 salários mínimos tem mais da metade da renda comprometida apenas com o básico: comida!
A gente não vai conseguir resolver o endividamento das famílias apenas com educação, porque se ela não ganha o suficiente para pagar por moradia e alimentação restam duas opções: ou você passa no cartão e se endivida ou você fica sem comer.
Vamos combinar uma coisa: eu me comprometo a ajudar em tudo que uma educadora financeira consegue e vocês se comprometem a entender um pouco mais de economia para cobrar quem é responsável por promover as mudanças estruturais que precisam ser feitas, pode ser? Então, vamos às dicas:
Entenda que dinheiro é apenas um dos recursos, mas não todos
Tempo, energia e natureza também são recursos que podem ser mobilizados para construção da sua estabilidade financeira. Exemplo: “não tenho emprego hoje, mas tenho tempo e acesso à internet, o que posso fazer com isso”? Ou “não tenho tempo para fazer renda extra, mas será que meu companheiro, amigo ou meu filho adolescente pode ajudar”?
Quais habilidades eu ou minha família tem para me ajudar? Quais habilidades podemos adquirir gratuitamente? Quais sites e plataformas eu posso oferecer o meu trabalho de forma gratuita? São perguntas que você responder para te guiar nessa jornada.
Cansada demais para cuidar das finanças?
Culpa do trabalho invisível e não remunerado (economia do cuidado) que afeta a maioria das mulheres que compartilham uma casa com alguém e acabam sobrecarregadas com toda a demanda de cuidado e gestão da casa, dos filhos, dos pais e do casamento. Deixe o orgulho de lado e peça ajuda sobretudo para quem deveria dividir essa responsabilidade com você. Companheiros, irmãos, co-responsáveis, enfim, corra atrás dos direitos dos seus filhos; a pensão não é um favor. Cuidar dos filhos envolve inúmeros custos financeiros e emocionais, você não precisa viver se sacrificando e empobrecendo.
Corra atrás dos seus direitos
Eu falei da pensão que é direito dos filhos, mas tem também alguns programas sociais que podem te ajudar a viver com um pouquinho mais de qualidade e o melhor: são serviços gratuitos. CadÚnico, Id Jovem, bolsa família, hospitais universitários, posto de saúde da família ou viajar nos aviões da FAB, existem inúmeros serviços gratuitos ou com taxa social que podem nos assistir e a gente ainda não conhece.
Elimine gastos desnecessários
Serviços que você não usa com tanta frequência, tarifas bancárias e anuidade do cartão de crédito são alguns dos gastos que você pode eliminar agora mesmo, assim você consegue começar a ver alguma graninha brotando de onde você não imaginava. Além disso, negocie o valor pago nos serviços essenciais. O aluguel pode ser ajustado pelo índice IPCA (que mede inflação) ao invés do IGPM (quando acumulado pode ser mais alto). Pesquise para ver se você se enquadra para pagar tarifa social nas contas de água e luz.
Equilíbrio primeiro, caridade depois!
Trabalho com educação financeira para empreendedoras e profissionais autônomos e sempre escuto a seguinte afirmação: “eu preciso fazer um produto mais barato porque quero que pessoas pobres tenham acesso". Acontece que na maioria dos casos a conta não fecha, se você não compensa os custos de produção no preço final do produto a sua empresa não fatura o suficiente para se manter e acaba antes dos 2 anos de existência.
Não adianta estar só com água na geladeira e querer salvar o mundo. Antes disso, foque em produtos de público pagante e financeiramente aquecido. Depois que alcançar equilíbrio, ofereça soluções com tarifa social para quem não pode pagar.
Perca o medo da exposição e da autopromoção.
Falo por experiência própria: eu só comecei a acessar melhores oportunidades de trabalho depois que comecei a expor o meu trabalho aqui na internet. A minha página passou a ser um fator de discussão nas entrevistas de emprego e mostrar como eu fiz a pesquisa de validação, levantamento do público usado, a linguagem para atingir aquele determinado público mostrava meu perfil empreendedor e que além de conhecimento eu tinha capacidade de pensar fora da caixa e resolver problemas.
Ignore os críticos
A pessoa que está te criticando tem colhido resultados? Quem está te criticando está resolvendo algum problema? Está ajudando pessoas? Estar na plateia jogando pedra é muito fácil, agora quero ver estar na arena realizando. A pessoa que não desceu para a arena e tomou riscos não pode te julgar ou te dizer o que fazer. Continue trabalhando! Vergonha não paga boletos.
Use a internet de forma estratégica
Você pode fazer uma lista de habilidades que você tem e pelas quais pode ser paga para realizar. Existem plataformas que recrutam e exibem perfis de profissionais que trabalham como freelancer e oferecem diversos serviços para outras pessoas físicas, pequenas e médias empresas. Secretária, assistente administrativa, redatora, design, revisora, tradutora, monitorar e responder comentários nas redes e uma série de serviços que você pode realizar da sua casa e te render uma graninha.