Dia das crianças chegando e é muito comum ouvirmos muitos adultos expressarem o desejo sincero de proporcionar aos seus filhos o que eles mesmos não tiveram na infância. Essa aspiração é compreensível e, de certo modo, nobre. Afinal, todos queremos o melhor para as gerações futuras, certo? No entanto, essa busca incessante por dar aos filhos o que não tivemos levanta algumas questões intrigantes.
Ao olhar para nossos pequenos, é difícil não desejar que tenham todas as oportunidades e confortos possíveis. No entanto, quando observamos de perto, percebemos que a verdadeira felicidade das crianças muitas vezes não reside em bens materiais, mas em aspectos mais profundos e imateriais, como a presença familiar constante e uma torrente de afeto.
Quando nos empenhamos em dar o que não tivemos, estamos, na realidade, projetando nossos desejos e necessidades, não os dos nossos filhos. Nesse processo, podemos inadvertidamente nos afastar deles, imersos em nossos próprios anseios e ocupações. É importante fazer uma pausa e questionar se nossa busca pelo melhor não está nos transformando em pais ausentes, sempre ocupados no trabalho, no celular ou desatentos.
Lembro-me dos anos em que fui criada por outros adultos para estudar em uma escola particular. Via minha mãe apenas nos finais de semana, pois ela saía para trabalhar quando eu ainda estava dormindo. Embora tenha certeza de que ela fez a melhor escolha possível dadas as circunstâncias, a falta da sua presença deixou uma lacuna em minha vida que nunca poderá ser preenchida.
Minha provocação é esta: as necessidades que acreditamos que nossos filhos têm hoje realmente dependem do dinheiro? E essas necessidades são deles ou são projeções das nossas próprias? É crucial refletir sobre essas questões, pois muitas vezes, na tentativa de proporcionar um futuro brilhante para nossos filhos, podemos perder o presente valioso que temos com eles.
Para os pais de baixa renda, essa problemática se torna ainda mais relevante. Na busca por oferecer mais, eles podem acabar se endividando e, consequentemente, criando filhos com compulsões de consumo, que associam a felicidade a ter mais coisas materiais. É fundamental encontrar um equilíbrio entre proporcionar conforto e cultivar valores que vão além do dinheiro.
Em última análise, o que nossos filhos mais precisam não é o que o dinheiro pode comprar, mas sim nosso tempo, amor e atenção. Portanto, antes de nos empenharmos em dar-lhes o que não tivemos, vale a pena refletir sobre o que realmente importa na construção de uma infância feliz e saudável.