O Brasil é o 2º país com maior proporção de jovens que não estudam e nem trabalham, segundo dados do relatório Education at a Glance 2022, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que também aponta que 35,9% dos jovens brasileiros estão nesta situação. Muita gente, não é?
Existem muitos conteúdos pejorativos que enquadram essas pessoas como “geração nem nem” que não estuda, nem trabalha, porém essas alfinetadas pouco refletem sobre as condições sociais e econômicas que essa geração enfrenta.
Justo na nossa vez de ser adulto nos deparamos com grandes recessões, como a que se arrastou pelo mundo após a crise financeira de 2008 a 2009 e, no Brasil, com o período de contração econômica iniciado em 2014 e agora agravado pela pandemia. Vivenciamos um crescimento econômico mais lento do que qualquer outra geração na história do país.
Desemprego, salários mais baixos, custo de vida mais alto, aluguéis mais caros que o salário na maioria das cidades do Brasil, tudo isso contribuiu para marcos de vida, como o casamento e a aquisição de casas adiados, adiados até a segunda ordem.
Existem vários conteúdos com dicas para deixar a casa dos pais. São sugestões válidas, mas bem teóricas e com pouca consciência da realidade financeira das pessoas, pensando nisso, resolvi falar das coisas mais importantes que aprendi - algumas vezes na marra - durante os últimos 11 anos da minha vida nessa jornada nada linear de não ser mais a filhinha dos meus pais.
1 - Não comece uma vida que você não pode pagar
Tem gente que soma aluguel, conta de água, luz e internet e acha que vai dar conta, mas esquece dos gastos variáveis com botijão de gás, alimentação, manutenção da casa e dos gastos únicos (de uma vez só) como caução do aluguel, compra de móveis e eletrodomésticos. Por isso, aproveite o conforto e os baixos custos de viver na casa dos pais para ser um sonhador prático e começar a traçar seu plano de voo.
2 - Compre coisas usadas
Você tá começando agora, então, vá com calma, viva a sua casa sem pressa de mobiliar e decorar tudo antes de entrar. Foque no que é ESSENCIAL! Você não precisa de um hack com design elaborado, nem de um fogão com múltiplas funções. Busque em sites de anúncio e economize no que puder para gastar com outras coisas porquem, acredite, você vai precisar.
3 - Tenha uma rede de apoio e afetos
Faça um chá de casa nova com uma lista de itens que os seus amigos e familiares podem comprar ou doar para você. No novo endereço, busque criar relações com os seus vizinhos, principalmente os mais velhos. Eu sei que a gente sai de casa para “não dar satisfação a ninguém" mas isso é só até a página 2. Logo você fica preso fora de casa ou não pode receber o carteiro que chega justo em um dia daqueles: é aí que os vizinhos se tornam peça chave para resolver problemas diários.
Mudar de casa, comprar coisas, pagar contas, não é tudo. Morar sozinha está conectado a fazer nossos próprios planos, responder mais ativamente pelas nossas escolhas e procurar (acharemos?) nosso rumo na vida.
4 - Aprenda sobre educação financeira
Pessoas desorganizadas morando sozinhas podem se enrolar feio com o novo volume e o valor das contas. Por isso, comece ainda na casa dos pais tentando entender mais sobre a estrutura de contas da sua família e divida pela quantidade de integrantes para ter uma noção média do custo de vida real de cada pessoa dentro do seu padrão atual. Vá entendendo o que é essencial e o que pode ser reduzido. É importante começar de baixo e ir subindo o padrão de vida aos poucos.
5 - Não queira ter a casa dos seus pais
Calma, morando sozinho você não vai ter o amaciante caro que seus pais usam ou a TV à cabo com todos aqueles canais que você é viciado. O padrão de vida deles foi construído por décadas e você tá só começando. Você pode até fazer umas comprinhas na casa dos seus pais de vez em quando (risos), mas não se esqueça que você tá começando a construir sua autonomia e crescer dói.
6 - Cuide da alimentação e do bolso
Evite ir ao mercado com fome e sem saber o que vai comprar. Planeje sua alimentação e os cardápios da semana, dê preferência a cozinhar uma vez por semana e congelar suas refeições, isso traz mais praticidade para a vida e evita pedidos de delivery em excesso. É importante sempre checar a despensa antes de ir ao mercado para não comprar itens desnecessários e desperdiçar comida.
7 - Prepare-se para ficar doente sem a sua mãe
Para mim esse não foi um problema porque eu não sou muito de ficar doente, assim como a minha mãe não é muito dos cuidados excessivos. Mas me lembro de me sentir totalmente exausta quando comecei a ser responsável por marcar e ir sozinha para consultas e exames. Nessas horas é importante contar com amigos, afinal, amigos pra mesa de bar são muitos, mas quem te acompanha num exame de sangue é pra vida toda.
Mudar de casa, comprar coisas, pagar contas, não é tudo. Morar sozinha está conectado a fazer nossos próprios planos, responder mais ativamente pelas nossas escolhas e procurar (acharemos?) nosso rumo na vida. Isso não muda se as coisas apertarem e por um período ou outro você tiver que voltar a morar com os seus pais até se estruturar novamente. A sua jornada é única e ela não precisa ser linear, não é nenhum problema ter o apoio da família nestes altos e baixos da vida real, seja grato por ainda tê-los do seu lado te apoiando.
