Quando somos pobres, até nossa ascensão social é precarizada

Há extratos financeiros em que negar dinheiro para família significa que alguém vai ficar sem suprir necessidades básicas

25 jul 2023 - 04h00
(atualizado em 28/7/2023 às 15h55)
Quando somos pobres até a nossa ascensão social é precarizada
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Quando somos pobres, mesmo nossa ascensão social é precarizada. Quando digo isso, a maioria das pessoas se assusta, mas basta parar 5 minutinhos para lembrar que na realidade, o mito de que mais esforço gera mais resultado não funciona muito bem quando você é filho da classe trabalhadora e de baixa renda. 

Nessa realidade social, o meu salário não pode ser só meu, inclusive, o trabalho e a formação que tenho foram possíveis pela mobilização de vários familiares, que investiram seu tempo e um pouco de dinheiro em mim. Isto cria uma responsabilidade radicalmente diferente daquela de classes mais elevadas. 

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E nesse contexto, negar dinheiro para a família significa que alguém vai ficar sem energia elétrica, sem gás, sem remédio, sem a grana do aluguel, precisando recorrer a agiotas, e por aí vai.

Essa não é uma realidade tão isolada

Essas experiências não estão em uma realidade isolada, nem são fruto das vozes na minha cabeça. Segundo estudo sobre mobilidade social elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma família brasileira pode levar até nove gerações para deixar a faixa dos 10% mais pobres e chegar à de renda média do país. 

Nesse quesito, o Brasil só fica na frente da Colômbia e empata com a África do Sul numa lista de 30 países analisados pelo estudo de nome “O elevador social está quebrado?”. Aparentemente ele está. E esses dados só validam o sentimento de gratidão que eu tenho, não apenas pelos meus pais terem movido a minha linha de largada para frente, mas também pela pobreza não ser mais uma âncora na minha linhagem familiar.

Quando somos pobres, até nossa ascensão social é precarizada
Quando somos pobres, até nossa ascensão social é precarizada
Foto: iStock

Entendendo o passado para ressignificar o presente

Olhando para a história da minha família, eu vejo que existiu um esforço intergeracional osquestrado, onde toda unidade familiar adotou diversas estratégias para superar a fome, o trabalho infantil e a pobreza estrutural e, mesmo assim, essas correntes só foram quebradas na minha geração, e eu tenho apenas 30 anos.

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Só hoje eu posso dizer que meu dinheiro, do meu irmão e dos meus primos pode ser direcionado para construir a nossa segurança financeira, sabendo que a nossa família, aqueles que vieram antes de nós, já não passa mais necessidade.

No entanto, a maioria das pessoas pretas e pobres que começaram a acessar o ensino superior, ter pleno emprego e ganhar dinheiro agora não pode dizer o mesmo, justamente porque quando estão começando a subir essa montanha sem elevador, precisam voltar para ajudar quem ficou para trás. 

Isso não é uma “opção”, é um compromisso. E é justamente por entender essa vivência que eu postei um vídeo no YouTube ensinando como organizar o orçamento para incluir a ajuda da família, sem deixar de construir patrimônio e segurança financeira para o futuro.

Fonte: Amanda Dias
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