Pensando em começar o ano com tudo, vou deixar aqui os principais aprendizados que obtive ao longo do último ano, a partir dos desafios que atuei em grandes marcas e nos estudos contínuos que realizei como estrategista de negócios, pesquisadora e professora executiva. Já pega papel e caneta, pois tenho certeza que cada um desses itens lhe trará insights imediatos, para aplicar nas suas estratégias de 2023.
1 - Cultura é a base da comunicação: olhar para o contexto, entender as dores e entrar em conversas sociais de forma natural, numa troca humana, é a base de uma comunicação relevante. As interrupções não são positivas para o consumidor. Entenda o momento certo de contextualizar seus produtos e serviços, de forma relevante e leve.
2 - Ganha-ganha é regra de mercado: pessoas são a base de todas as decisões para construção de valor, dentro e fora do negócio. Mas o negócio não pode ser negligenciado em prol dos clientes e colaboradores. Ou seja, precisamos ter foco nas pessoas, sem perder a compreensão das necessidades do negócio. Isso significa ser capaz de ter um olho no peixe e outro no gato, equilibrando interesses de todas as partes, para manter um crescimento sustentável.
3 - Squads são mandatórios no mercado atual: a multidisciplinaridade é fundamental para encontrar melhores soluções, pois uma única especialidade ou uma única mente tomando decisões, sempre será enviesada e míope, porque nossa percepção individual é apenas uma mísera fração da realidade. A dificuldade desse contexto é a integração de pessoas, processos eficientes e a clareza do papel de cada um para que o trabalho em squad (grupo de trabalho) flua, num sistema ágil e colaborativo.
4 - Perfis generalistas X especialistas: precisamos de mais gente com visão generalista para enxergar o todo e identificar problemas e oportunidades com mais precisão, usando habilidades e especialidades múltiplas para resolvê-los. Por outro lado, precisamos de especialistas técnicos para executar iniciativas, colocando em prática essa visão de tabuleiro. O problema está em encontrar a liga entre as partes, encontrando esse perfil orquestrador que entenda (minimamente) de diferentes frentes: de negócio, de marketing, de economia digital, de branding, de experiência do cliente, de tecnologia, de dados e, acima de tudo, de comportamento humano. Isso é visão de tabuleiro.
5 - Todo negócio precisa de um propósito como fio condutor: precisamos nos conectar por valores com consumidores e colaboradores, para manter as pessoas de dentro engajadas em entregar valor para as pessoas de fora, motivadas por algo mais forte do que metas e bônus. Esse senso de geração de valor gera felicidade e realização em quem executa o trabalho e espelha os valores da empresa no contato com o mundo externo, gerando orgulho e confiança em quem compra, por ter um significado maior do que uma satisfação momentânea ou uma relação conveniente. Focar apenas na utilidade de produtos ou no salário não segura mais clientes, nem funcionários. Precisamos de um significado maior para construir relações duradouras com as pessoas, pois, no fim, o que nos conecta são questões afetivas, como valores humanos, confiança e propósitos em comum.
6 - Convergência entre branding e negócios: a construção de marcas é o principal motor de decisão num mundo tão lotado de informação e opção. Quanto mais uma situação de consumo envolve riscos ou esforços, maior a necessidade de ter uma marca forte para gerar confiança e se tornar preferência, sem cair na comparação com outras opções, o que impacta diretamente na performance do negócio. Na minha visão, os principais objetivos de negócio devem ser se tornar preferência e recorrência na vida das pessoas, para não depender, inclusive, de investimento em aquisição de clientes. Quando uma marca se torna referência no seu campo de atuação, muitas vezes nem cai num funil de conversão, passando direto para a decisão de compra. Tudo que um negócio precisa é gerar essa sensação no consumidor: "Pensei em X, vou direto na marca Y, sem considerar outras opções, porque confio que é a melhor escolha".
7 - O fenômeno "extenligência": a quantidade de informações que a tecnologia nos permite registrar não pode reduzir a capacidade de agilidade de decisão (afinal, não temos capacidade de processar tanta informação com agilidade em nosso cérebro). Seguindo o exemplo da Amazon, que tem uma regra chamada 70/30, com 70% de confirmações, já é possível arriscar ações sem medo. Se esperar demais para ter certeza, com tanta coisa para analisar, provavelmente você vai paralisar. Então, na dúvida, melhor se movimentar com 70% de informação e aprender com possíveis erros, do que esperar ter tudo que precisa, pois isso significa paralisar e estagnar, com risco de ficar para trás.
8 - Principal soft skill é curiosidade: precisamos nos interessar mais pelas coisas diferentes e mergulhar em mundos distintos para ter novas ideias e entender mais as pessoas, aplicando a empatia de verdade. Isso significa ser capaz de explorar mais o negócio, o mercado e a essência das pessoas, praticando a escuta ativa. Pergunte mais para o cliente sobre o que ele pensa e sente, ouça mais pessoas diferentes sobre um mesmo ponto de vista e interaja com outros mundos fora do seu "habitat" comum, entendendo as regras e valores de outras culturas e comunidades, diferentes das suas. Isso abre a mente de um jeito, que é impossível voltar ao seu estado original. O mundo dos negócios precisa hoje de gente com mais repertório. E não estou falando de repertório técnico. Estou falando de repertório de perspectivas.
9- Gestão de pessoas: precisamos desenvolver a habilidade de empatia para nos colocar na posição de “gente” (respeito, transparência, verdade, feedback etc) e manter as pessoas próximas. Vínculos nos ajudam a prosperar. Só evoluímos como espécie porque fomos capazes de construir comunidades e viver de forma organizada, com relações de confiança. Uma organização precisa de pessoas se sentindo seguras, ouvidas e importantes para o sistema interno, para que possam entregar seu melhor e fazer desse ambiente, um lugar próspero e feliz. Não é a toa que os países mais ricos são os que possuem o maior índice de confiança na população. Relações de confiança e colaboração são a base do sucesso de qualquer organização.
Espero que essa lista tenha ampliado sua mente para novas possibilidades e gerado muitas ideias para colocar em prática, independente do setor ou tamanho do seu negócio.
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