Decidir é algo inevitável e fundamental para a nossa existência. Não há uma única ação que tomemos que não seja precedida por uma decisão: da escolha de um restaurante a um parceiro de vida, da escolha por uma carreira à abertura de uma empresa, tudo surge após uma série de resoluções complexas em nosso sistema nervoso, consequência da interação do nosso mundo interno com o mundo externo.
Escolhas são diferentes de decisões.
As escolhas estão no campo das alternativas, enquanto as decisões estão no campo da ação. Ou seja, decidir é o ato efetivo de optar por uma das alternativas e caminhar por ela. Está no fim do processo. A questão é que só temos consciência sobre a decisão, não sobre o processo que acontece em milésimos de segundo em nosso organismo, antes de agirmos. A decisão é apenas a ponta do iceberg.
Mas o que acontece nesse processo?
Cerca de 85% a 95% das nossas ações, ou seja, decisões, são inconscientes, fruto de um mecanismo invisível. Isso significa que muitas das coisas que você acredita que escolhe, foram escolhidas antes de mais nada pelo seu sistema nervoso, levado por uma série de condicionamentos instintivos, crenças arraigadas, aprendizados e hábitos que são respostas automáticas do organismo ao interpretar os sinais multissensoriais do mundo externo.
Nem sempre o inconsciente interpreta corretamente o mundo externo.
O inconsciente é tanto nosso instinto quanto nossa intuição, que atuam para que seja possível reagirmos de forma rápida e automática, sem dependência de um raciocínio, da consciência e da atenção. A chance de dar certo uma decisão rápida e automática (ou seja, inconsciente) é de 50%, porque pode ser que você saiba o melhor caminho mesmo, a partir de aprendizados anteriores, mas pode ser que seja levado por uma série de programações comportamentais que foram instalados no seu “chip” ao nascer, herdadas dos seus ancestrais da Idade da Pedra. O problema é que nem sempre essas programações fazem sentido nessa atual realidade.
Isso significa que a chance das suas decisões serem equivocadas é bem alta, te distanciando dos seus objetivos de vida, prejudicando terceiros ou simplesmente sendo uma grande auto sabotagem. Possivelmente isso acontece naquelas situações onde você não controla suas vontades por prazeres instantâneos em prol de um objetivo maior (por exemplo: quando cede a um prato de lasanha mesmo estando de dieta, porque está com um sentimento de vazio interno, precisando de um "acalento"). A base do instinto são emoções primárias, como o medo e a raiva, por exemplo. Essas emoções não são conscientes e geram comportamentos impulsivos.
A impulsividade é uma roleta russa, mas podemos minimizar seus efeitos em nossa vida e, principalmente, nos negócios, já que uma decisão impulsiva pode significar muitas perdas financeiras ou de capital humano.
Sempre podemos aprender estratégias que podem aumentar a margem de sucesso das nossas decisões. Mesmo que isso não garanta os resultados esperados, certamente aumentará a probabilidade de sucesso.
O segredo está na consciência. Quando você reflete nas suas decisões, mesmo errando, aprende algo e consegue atingir resultados melhores nas próximas situações similares. Se estiver vigilante e consciente sobre o poder do inconsciente em sua vida, conseguirá brecar seus impulsos e refletir antes de agir, questionando se essa escolha lhe aproxima ou lhe distancia da sua melhor versão ou do seu objetivo de vida.
O que torna uma decisão mais difícil do que outras?
Alguns fatores complicam bastante nosso processo decisório:
Quando há liberdade de escolha ampla - devido ao excesso de carga cognitiva, temos dificuldade de analisar todas as alternativas, procrastinando, desistindo ou escolhendo a opção que parece mais confortável (sem uma real avaliação);
Quando há consequências em longo prazo - quando o resultado é lá na frente, você demora para saber se acertou, dificultando a confiança em si mesmo nesta escolha ou a correção da rota, caso tenha errado, o que faz com que a sensação de risco seja maior;
Quando os resultados têm alto impacto e refletem em terceiros - se há muito a perder, aumenta ainda mais a sensação de risco, principalmente se o efeito impactar a nossa imagem social.
Todos esses fatores geram uma reação em comum em qualquer um de nós: medo de errar.
O medo é uma emoção primitiva importante para nossa evolução. É a partir do medo que temos uma reação automática de fuga, luta ou paralisia diante de um perigo. Esse é um mecanismo da natureza para nos ajudar a prosperar como espécie e foi essencial para nossa sobrevivência.
O problema é que o medo não foi atualizado no nosso atual habitat. Quando estamos embedados pelo medo, o organismo reage como se estivesse na antiga Savana, diante de um Leão feroz. O sangue vai para as extremidades para que você possa reagir rápido, lutando ou correndo. Toda a energia do organismo é direcionada para a nossa autoproteção, acionando o sistema de alerta. Assim, áreas como sistema imunológico ou mesmo regiões do cérebro responsáveis pelo raciocínio, por exemplo, ficam descobertas, já que todo o combustível do seu organismo está sendo utilizado para outros fins. Por isso, quando estamos sob efeito do estresse (que nada mais é do que medo crônico), ficamos irascíveis e mais susceptíveis a doenças.
Se a situação for realmente um risco de vida, essa reação automática é muito importante para o sucesso da nossa sobrevivência. O problema é que, na maioria dos casos, o medo não está relacionado a um risco efetivo de vida, mas a questões de insegurança pessoal em relação à vida, às pessoas que nos cercam ou mesmo em relação ao futuro. Nestes casos, agir de forma automática (fugir, lutar ou paralisar) não é necessariamente positivo para o seu sucesso ou daqueles que lhe cercam, gerando efeitos ainda piores na sua vida. Afinal, o medo gera reações por vezes destrutivas, onde a melhor defesa costuma ser o ataque, prejudicando nossas relações.
É importante distinguirmos instinto de intuição.
Ao decidir sem refletir, a mente é levada por nuances invisíveis que dão a ilusão de uma decisão consciente, mas têm como base nosso lado primitivo, em busca de auto proteção e preservação da espécie. Há dois mecanismos que expressam comportamentos inconscientes em nós: intuição e instinto.
O instinto é algo sobre o qual não temos controle.
O Instinto é um mecanismo inato de comportamentos automáticos (e não aprendidos) em prol da nossa sobrevivência e sobrevivência da espécie. Ou seja, é toda reação que temos diante de algum estímulo externo que é interpretado pelo sistema nervoso como ameaça ou fonte de prazer.
A intuição é uma habilidade humana, enquanto o instinto é animal.
A intuição é um pouco diferente do instinto, porque vem dos aprendizados da própria experiência de vida, da influência cultural, das coisas que conhecemos e, portanto, usamos como base na interpretação do mundo externo. Intuição é, então, a capacidade de perceber determinadas nuances do ambiente no momento em que estamos interagindo, mas não somos conscientes dessa percepção. Por isso, é um sistema falho. Não é preciso. Pode dar certo ou errado, porque nossa capacidade de percepção sempre é uma mísera fração da realidade.
Se não quer errar, questione-se e aceite-se como um ser falível, inconsciente e movido por instintos animais. No mínimo, vai melhorar sua capacidade de decidir da próxima vez.
Questione-se sempre, refletindo minimamente nessas três dimensões:
Quais os reais fatores inconscientes de origem dessa decisão?
Quais as possíveis consequências dessas escolhas (para as pessoas, para o negócio e para mim)?
As respostas sobre as origens e consequências me deixam confortável?
Só você saberá se as respostas te colocam no melhor caminho.
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