O investimento inicial de R$ 3 mil, bem inferior para o padrão de quem queria surfar na onda dos food trucks em 2015, vem rendendo um negócio milionário para Gabriel Farrel, CEO e fundador da Borda e Lenha.
Sagaz e com muita vontade de conquistar a própria fonte de renda, o jovem, com então 21 anos, deixou a faculdade de engenharia ambiental, montou um forno a lenha na caçamba de uma caminhonete do professor da academia e projetou uma estrutura de pallet para vender pizzas nos eventos de ruas do Rio de Janeiro.
A rapidez da entrega, a personalização dos produtos, o preço acessível e o cheiro da massa pronta conquistaram não só os cariocas, mas igualmente José Semenzato e Felipe Titto durante um programa do "Shark Tank Brasil", em 2021.
Como seduzir os tubarões
Para seduzir os tubarões, Gabriel os fisgou pela estratégia que faz bem. Deixou os investidores escolherem os sabores das pizzas e, ao terminar a apresentação e logo no começo da rodada de perguntas, entregou o produto quentinho. Em menos de cinco minutos transformou o tenso oceano azul em uma agradável pizzaria para fechar bons negócios.
A partir daí, a Borda e Lenha, que tinha até então quatro unidades, sendo três franqueadas e uma própria, saltou para 26 operações e outras 28 já negociadas, totalizando 54 em setembro deste ano.
O salto, de 650% em número de lojas abertas e 1350% em comercializadas, não se restringiu às ruas da cidade maravilhosa e vem conquistando o Brasil, de Norte ao Sul, já marcando presença em nove estados. O faturamento, de R$ 1,2 milhão em 2021, da mesma forma, não ficou para trás e deve este ano superar a projeção inicial, que era de R$ 10 milhões.
Uma história inquieta
Para nadar nesse oceano, Gabriel Farrel precisou de muita disposição. Ávido para ter as próprias economias, já adolescente fazia bicos para juntar dinheiro.
Mas foi mesmo na faculdade, quando a distância entre onde morava e a instituição em que estudava tornaram o tempo mais escasso, que a impaciência deu vez ao olhar mais aguçado ao empreendedorismo. No auge dos food trucks, que conquistaram as praças e ruas de São Paulo e Rio de Janeiro, o jovem viu uma oportunidade.
Aportou os poucos recursos que tinha, instalou um forno a lenha de inox no veículo do professor da academia, preparou 100 discos de pizza e foi participar da feira. O cheiro da massa pré-assada logo passou a se tornar uma marca registrada, que atraía os consumidores não só pelo olfato, mas também pelo preço acessível, sabor e agilidade no preparo, visto que a pizza ficava pronta em apenas três minutos, além da rapidez na entrega.
Atento aos movimentos do mercado, Gabriel foi migrando e adaptando o modelo de negócio às oportunidades que apareciam. Participou de festas particulares enquanto estava, simultaneamente, na rua. Alugou uma casa para dar conta dos preparativos antes de cada evento e, em 2018, vislumbrou um novo formato.
Com o apoio de um investidor, abriu a primeira unidade física, em um estilo de self-service de ingredientes: o cliente escolhe o que colocar na massa e o atendente finaliza assando. A ideia era ótima e o negócio prosperava, mas dada a diferença de gestão entre os sócios a parceria logo se desfez, deixando Gabriel com o nome que ele tinha criado três anos antes. Sem desanimar, apostou no delivery, levando a pizzaria para um modelo de dark kitchen em 2019.
Em um espaço de 32m² em Botafogo, a Borda e Lenha foi um sucesso. O faturamento mensal, que começou em R$ 35 mil, chegou a R$ 150 mil por mês, atingindo 140 pedidos por dia. Com promoções que estimulavam o consumo, a pizzaria chamou atenção e, organicamente, atraiu franqueados. Gabriel, o jovem curioso desde a adolescência, já tinha nesse período trabalhado em uma franqueadora e adquirido conhecimento para formatar o negócio em franquias.
Como nadar com os tubarões
Naquele mesmo ano, 2019, vendeu duas unidades, chegando aos bairros de Tijuca e Barra da Tijuca. O ritmo de crescimento, que parecia linear até mesmo em 2020, quando o delivery se sobressaiu aos demais negócios durante a pandemia, sofreu um revés em 2021 por uma única razão: a insistência constante do fundador em participar do "Shark Tank".
No quarto ano de inscrição, foi selecionado para participar do programa. No oceano de possibilidades, abrilhantou-se diante dos jurados e aceitou a proposta de José Semenzato. Em janeiro de 2022, o empresário dono da holding SMZTO e o amigo Felipe Titto abocanharam 50% da Borda e Lenha e deram novo ritmo de expansão, levando a pizzaria a outro patamar.
No primeiro ano da parceria, 24 operações foram comercializadas, sendo 10 delas inauguradas, e R$ 2,6 milhões faturados. Agora em 2023, com 26 unidades operando em nove estados, o plano é abrir 30 lojas até o fim do ano e outras 150 no prazo de 3 anos.
Mantendo a essência do “monte sua pizza”, preço acessível, sabor único e rapidez no preparo, a meta é popularizar um dos pratos mais amados pelo brasileiro e, também, viabilizar a partir de R$ 115 mil o sonho do empreendedorismo para aqueles que, assim como Gabriel, querem ser donos do próprio negócio.
(*) HOMEWORK inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.