A sétima fase da Operação Lava Jato da Polícia Federal - que investiga o desvio de recursos da Petrobras para partidos políticos - levou à prisão de quatro presidentes de grandes empreiteiras, 15 executivos e o ex-diretor de serviços da estatal, Renato Duque.
Para especialistas ouvidos pela BBC Brasil, como Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, a escala da operação "e o modo como ela expôs as relações ilícitas entre empresários e políticos no Brasil" faz com que possa vir a se tornar uma espécie de "Operação Mãos Limpas" - a operação levada a cabo nos anos 90 na Itália e que expôs a gigantesca rede de corrupção que dominava a vida política e econômica do país.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, a Mãos Limpas italiana de fato seria a fonte de inspiração de muitos policiais e procuradores que atuam na Lava Jato. E ao menos o juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações, tem escrito publicamente sobre a operação italiana. Já alguns simpatizantes do PT vêem na comparação uma tentativa de "politizar" o caso.
Mas o que exatamente foi a Mãos Limpas italiana e quais os resultados dessa operação?Uma das maiores operações anti-corrupção da história europeia, a Mãos Limpas, ou Mani Pulite, ajudou a desmantelar diversos esquemas envolvendo tanto o pagamento de propina por empresas privadas interessadas em garantir contratos com estatais e órgãos públicos quanto o desvio de recursos para o financiamento de campanhas políticas.
Foi essa mega-investigação que levou ao fim da chamada Primeira República Italiana, na qual a agremiação Democracia Cristã (DC) e o Partido Socialista Italiano (PSI) eram as principais forças políticas do país.
A Mãos Limpas teve início em Milão, embora tenha se espalhando para outras cidades italianas. Seu ponto de partida foi a prisão, em 1992, de Mario Chiesa, ligado ao PSI. Chiesa ocupava a diretoria de uma instituição filantrópica e era acusado de receber propina de uma empresa de limpeza.
Em um primeiro momento, o PSI tentou isolar Chiesa, mas o político logo começou a falar e incriminar colegas. As acusações cresceram de forma exponencial. Cada político, empresário ou funcionário público detido, implicava dezenas de outros em seus depoimentos.
Os suspeitos recebiam incentivos para colaborar com a Justiça (em um esquema semelhante a delação premiada) e, aparentemente, alguns também acabavam confessando seus crimes por desconhecer o teor do depoimento de colegas.
Entre os que acabaram implicados no escândalo está o líder do PSI e ex-primeiro-ministro Bettino Craxi. Em 1993, o líder da DC, Giulio Andreotti foi acusado de associação com mafiosos - embora tenha sido inocentado em 1999.
O presidente e um diretor da estatal petrolífera ENI também foram presos em meio a denúncias sobre o financiamento ilícito de partidos com recursos da estatal e o superfaturamento da compra de ações de uma empresa química.
No total, foram investigadas mais de 5 mil pessoas, entre elas, centenas de empresários, funcionários públicos e parlamentares. Alguns suspeitos chegaram a cometer suicídio, como o presidente da ENI, Gabriele Cagliari, e o multimilionário Raul Gardini, um dos empresários mais admirados da Itália até ser implicado no escândalo.
Cerca de um terço dos acusados foram condenados e a DC e a PSI acabaram deixando de existir após perderem legitimidade e votos. Como resultado, a correlação de forças políticas na Itália mudou completamente depois da Mãos Limpas.
Os especialistas, porém, divergem com relação aos resultados das investigações no ambiente político e de negócios italiano no médio e longo prazo.
Há estudos que dizem que, após a operação, o valor médio das obras públicas caiu - o que seria um indício de uma queda no superfaturamento.
Outros, porém, apontam para a persistência da corrupção como um problema no atual sistema político italiano.