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Como Karine Oliveira criou Wakanda, "a Sebrae da Quebrada"

Conheça a fundadora da Wakanda Educação, que estimula um mercado pujante

15 jul 2023 - 06h10
(atualizado em 17/7/2023 às 14h48)
Karine Oliveira, fundadora da Wakanda Educação
Karine Oliveira, fundadora da Wakanda Educação
Foto: Divulgação

Engenho Velho da Federação é um dos bairros mais populosos de Salvador, embora os dados disponíveis na internet mostrem divergência - algo entre 24 mil e 80 mil habitantes. Há algumas hipóteses sobre a origem do local, que faz referência aos engenhos de cana de açúcar que dominaram a região na época da escravidão. O que se sabe é que ele abriga o principal - e conta-se que o primeiro - terreiro de candomblé de Salvador, a Casa Branca, tombada em 1984 como patrimônio histórico do Brasil. Ao redor dela, a grande concentração de terreiros representa a resistência da história e da cultura africanas. E fatos publicados nos jornais locais registram, infelizmente, atos violentos que dão-lhe a fama de um dos bairros mais perigosos de Salvador.

Muito além das mazelas de uma comunidade de baixa renda, o que se pode constatar sobre Engenho Velho da Federação é a potência de Karine Oliveira, moradora convicta da área. O sucesso da empresa que fundou, a Wakanda Educação, e o reconhecimento da empreendedora como Forbes Under 30 não afetaram os valores de Karine. Ela conta que, recentemente, se mudou de casa, mas não de bairro. Ser conhecida pelo mundo lá fora não é o bastante; o que ela quer é que cada morador da comunidade a reconheça, e saiba que empreender na periferia é um bom negócio.

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A Wakanda é uma escola que ensina empreendedorismo de um jeito simples e compatível com as diversidades culturais que existem no Brasil. A capacidade de traduzir as coisas e disseminar conhecimento faz de Karine uma comunicadora poderosa. E é por isso que, desta vez, eu recorro a uma licença poética: em vez de falar sobre a Karine, como faço aqui, em geral, nos perfis dos convidados do podcast do Vale do Suplício, eu preciso deixá-la falar por si mesma. Você vai entender.

A seguir, tentei reproduzir o mais fielmente possível, dentro das minhas limitações, a fala da nossa convidada. Tentei. E dessa tentativa deixo para você cinco ensinamentos sobre empreendedorismo que provavelmente só a Karine irá te revelar. Mas olhe, para entender mesmo a mágica do baianês da fundadora da Wakanda, você terá, mesmo, é que ouvir ao episódio que gravamos com ela. Está aqui, no Spotify.

#1 O Sebrae da quebrada

“De 2016 pra cá, meio que as pessoas saíram de ‘a educação vai salvar o mundo’ para o ‘empreendedorismo vai salvar o mundo’. ‘Vamos salvar e incentivar todo o mundo a empreender’. Só que, assim, nem todo o mundo precisa fazer um plano de negócios, nem todo o mundo tem seis meses para poder avaliar se aquela ação vai dar certo. E aí eu entendi que eu falava com quem empreende por necessidade. Então, falei: vamos a partir de agora ser um Sebrae da quebrada. Faço tudo o que eles fazem, com uma pequena diferença: eu utilizo a linguagem informal para traduzir as coisas.”

#2 É bonito ser simples

“Acredite: todas as vezes em que vocês foram pra um local onde vocês se sentiram pequenas, se sentiram não aceitas, que aquele ambiente era hostil, era muito por conta da linguagem. O modo como as pessoas estavam falando sobre aquele tema trazia para você toda essa carga de que não era pra você estar ali, de que você não tem cognição para estar ali, e acredite, não existe nenhum tema complicado que não tem um jeito simples de falar. Eu passei 2016, 2017, indo nesses eventos de inovação para compreender qual é o problema, porque todo o mundo quer diversidade, mas ninguém quer adaptar a linguagem, que é uma coisa básica.”

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#3 A periferia é business

“Da onde eu venho, a gente meio que naturaliza você estar empreendendo sozinho. Meio que começa assim e, a depender de você, você morre trabalhando sozinho, porque você introduz na cabeça que ‘é eu por mim e Jesus cuidando de mim lá em cima’. Quando você vai empreender por necessidade, é meio que uma dor urgente. O que eu queria levar pra lá [o mundo da inovação e da tecnologia], é que a gente aprende na prática a fazer o tal do MVP, a estruturar uma ideia, conseguir uma parceria sem investimento. E isso é uma parada incrível.

Quando chega nas startups, é meio que: ‘só consigo desenvolver se tiver investimento’, e isso na periferia é completamente o contrário. A gente nem imagina que vai ganhar dinheiro, então a gente dá um jeito diferente, na gambiarra ali, na inovação, conseguir realizar aquilo. [O objetivo] é juntar o legal dos dois mundos: esse empreendedorismo de base, de tudo pra ontem, de como você consegue estruturar a ideia e colocar em prática em menos de um dia, mas também queria levar minha periferia para lá para que eles tirassem essa ideia do incêndio, que muitas vezes faz com que a gente morra fazendo bico.”

#4 Tem que traduzir

“A gente tem que compreender que existe uma diversidade de empresas, é isso que a gente deveria falar. Lógico que tem que adaptar. Empreender em São Paulo é diferente de empreender em Salvador, que é diferente de empreender em Minas [Gerais]. Então, você pode até pegar a mesma técnica, mas se não adaptar, ela não funciona, porque tem questões regionais que mudam a partir do momento que você está em locais diferentes, quem dirá em tempos diferentes. O que eu acredito é que a gente sempre tem que colocar a nossa essência nesse empreendedorismo. Receita de bolo, dentro do Brasil, minha rainha, não funciona.”

#5 Um perrengue diferente

“O que eu acho que é mais importante, deusa, é: seja apaixonada pelo que está fazendo. Você sabe mais do que eu que, quando você quer realmente ir pra um show, ou quer estar com uma pessoa, pode chover canivete, amiga, que você vai. Você procura uma desculpa pra se incentivar a ir. Mas quando você está fazendo algo que você não gosta, uma unha encravada faz você desistir. Quando eu falo apaixonada, não é no sentido romântico, não, tá gente. Mas é que quando você passa perrengue por você, é um perrengue com gostinho diferente, entende?”

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(*) Silvia Noara Paladino é jornalista e escritora especializada em narrativas de não-ficção, com pós-graduação em Escrita Criativa pela Universidade de Berkeley, na Califórnia. É autora de três biografias de empresários brasileiros. Colaborou com veículos setoriais e da grande mídia, como Folha de S. Paulo, e foi editora de CRN Brasil, uma das maiores revistas de tecnologia do mundo. É sócia-fundadora das agências essense e Lightkeeper, e também editora do projeto Destino Paralelo. Criado pelas jornalistas Adriele Marchesini e Silvia Noara Paladino, o podcast Vale do Suplício nasceu como uma contracultura aos empreendedores de palco - os típicos CEOs de MEI, escritores de textões no LinkedIn - para contar a história de empreendedores que falam pouco, mas fazem muito. Ouça no Spotify.

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