Comprar, cozinhar e comer. Esta é a relação da maioria das pessoas com seu alimento. Mas uma loja que abriu na terça-feira (26), na Vila Madalena, em São Paulo, quer fazer as pessoas pensarem sobre todo o processo de produção da comida que elas estão comprando. O Instituto Chão venderá alimentos orgânicos pelo preço que foi adquirido do produtor ou da distribuidora.
Para que se mantenha, o estabelecimento apresenta ao consumidor duas formas de contribuição. Um opção é se associar a uma espécie de clube da loja e pagar uma mensalidade de R$ 60. Com isso, ele pode comprar quantos produtos quiser, diz Vladmir Novaes, um dos fundadores do Instituto Chão. Caso o comprador não opte por essa forma, pode adquirir o produto e dar a mais o quanto acha justo para contribuir com a loja. "Se no dia não tiver algo para contribuir, ou não quiser, tudo bem. Não haverá restrição, algo como ‘esse contribuiu com tanto ou não contribuiu’.” O valor calculado, e sugerido, pelos criadores do projeto para cobrir seus custos é de R$ 0,35 por R$ 1 de produto. O Instituto não tem fins lucrativos.
Serão vendidos alimentos de toda parte do Brasil. Queijo da Paraíba, sabonete de babaçu de Goiás, óleo de pequi do Tocantins, doce de leite de Minas Gerais, pão de castanha do Rio de Janeiro são alguns exemplos. Serão comercializadas também peças de cerâmica vindas de Cunha (SP), e plantas do interior de São Paulo.
Mais saudáveis, os produtos orgânicos ainda são pouco acessíveis à população, devido aos preços mais altos cobrados no varejo se comparados com os de outros alimentos. O objetivo do instituto é mostrar que os itens orgânicos poderiam ser mais acessíveis aos consumidores, afirma Fábio Mendes, também fundador. Segundo ele, muitas vezes, quem mais ganha na venda é o varejista, e não o agricultor. “Isso vai criando toda uma imagem do orgânico de que ele é caro demais para qualquer pessoa consumir. Vai criando uma elitização, de um produto que é mais saudável e menos agressivo ao meio ambiente.”
Além de afastar o rótulo de um alimento voltado para aqueles obcecados por academia e saúde, a loja pretende mostrar às pessoas que há uma diferença na organização do processo do pequeno produtor para as grandes indústrias, na relação de trabalho, com o meio ambiente e na busca por qualidade. “Essa imagem (de alimento elitista) é prejudicial a essa forma de produção que busca valorizar o pequeno produtor, valorizar uma relação de trabalho mais justa, valorizar organizações de trabalho mais democráticas e a relação com o meio ambiente menos predatória”, diz Mendes.
Ao negociar a compra com os agricultores, os fundadores do espaço perceberam que parte do alto valor dos produtos orgânicos é consequência da dificuldade na escala de vendas e certificação dos itens. Para conseguir o selo de orgânico, o produtor precisa pagar taxas para uma auditoria anual de um Organismo da Avaliação da Conformidade Orgânica (AOC), credenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), além de um porcentual dos produtos vendidos. Há também a opção de conseguir a certificação por meio do Sistema Participativo de Garantias, em que vários integrantes do processo de produção se associam para se autorregularem e conseguir o certificado.
“O objetivo é inverter a lógica de mercado. Que quanto mais organizados estiver o processo de produção, quanto mais crescer o projeto, mais barato fiquem os produtos para o consumidor”, destacou Mendes.
O Terra comparou o preço de seis produtos vendidos pelo Instituto Chão - em que, portanto, não estão embutidos o custo de logística, pessoal, lucro, etc. - com outros similares, alguns deles de marcas diferentes, de redes varejistas .
Veja a comparação dos preços de produtos orgânicos similares no Instituto Chão e em duas redes varejistas
Produtos | Instituto Chão | Supermercado | Diferença percentual de preço |
Guaraná Wewi* | R$ 2,90 | R$ 3,79 | 30,6% |
Leite Oikos/Timbaúba* | R$ 3,50 | R$ 6,20 | 77% |
Geleia de Morango Coopernatural/Blessing* | R$ 8,23 | R$ 13 | 57,9% |
Mel Demeter/Vidro** | R$ 9 | R$ 18,18 | 202% |
Queijo Minas Nata da Serra/Cruzília (500g)** | R$ 12,50 | R$ 39,24 | 213,9% |
Suco de Amora Aecia** | R$ 9,54 | R$ 22,14 | 132% |
*Casa Santa Luzia (25/05)
**Pão de Açucar Delivery (25/05)
Questionado se a diferença percentual entre produtos não é elevada, o Pão de Açucar informou que: "trabalha de forma diferenciada com produtores orgânicos, respeitando suas particularidades de tamanho e escala, de forma que a relação comercial seja benéfica para as empresas. Assim, e para atender o seu cliente, o Pão de Açúcar possibilita ao produtor atender a quantidade de lojas adequada a sua realidade de produção. No caso da venda via Pão de Açúcar Delivery, o cliente tem a opção ainda de adquirir produtos orgânicos que seguem a todos os critérios de qualidade exigidos pela rede, atendendo aos altos padrões de qualidade e apresentando todas as certificações exigidas pelos órgãos reguladores para orgânicos, em até 24 horas no endereço escolhido, representando uma comodidade ao cliente".
Já a Casa Santa Luzia informou que: "a margem de lucro não é maior em produtos orgânicos. Sobre as comparações de preço, o Guaraná, que é da mesma marca nos dois lugares, está dentro da margem de variação proposta pelo Instituto Chão, um valor necessário para cobrir custos gerais: despesas de loja, salários, etc. Já os outros produtos não são comparáveis por não serem da mesma marc, e o preço de um produtor para outro variar muito. Por isso, não podemos dizer que um é 57,9% mais caro que outro".
Instituto Chão
Rua Harmonia, 123, Vila Madalena, São Paulo
Aberto das 10h às 20h