O empresário Inácio de Barros Melo Neto não esperava ver seu nome e foto estampados nos principais veículos de comunicação do país nesta semana - ainda mais por este motivo. Dono da Faculdade de Medicina de Olinda (FMO) e de um colégio de educação infantil, ele virou notícia depois da Americanas comunicar ao mercado, na última sexta-feira, 12, que ele teria se tornado o quarto maior acionista da empresa, atrás apenas do trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sucupira.
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Ao assumir a fatia de 12,5% das ações ordinárias da empresa, com um total de 113 milhões de ações, foi ofertado a Inácio a opção de fazer parte das tomadas de decisão da companhia. O empresário, porém, não tem interesse nisso.
"Meu objetivo com a participação adquirida no capital social da Americanas S.A. não é alterar a composição do controle ou a estrutura administrativa da sociedade, mas sim, ganhar capital numa futura venda", diz o parágrafo final do comunicado assinado por ele. Ao Terra, Inácio conta que este trecho foi elaborado por ele mesmo.
A "futura venda", no entanto, não tem previsão de acontecer. Ele não tem pressa para retirar o dinheiro do investimento -- pelo contrário, continua aportando.
"Eu estava viajando semana passada, ficou numa média de 40 centavos [a ação]. Aí eu disse: 'Agora eu vou encher a mão'. Comprei a 40 centavos mais 30 milhões de ações. Então eu aumentei quase 50% do que eu tinha minha média lá embaixo", lembra.
Nesta quinta-feira, 18, a ação da Americanas era negociada por R$ 0,77 pouco depois da abertura do mercado.
Erros e acertos
Diferentemente do que muitos possam imaginar, Inácio Neto não é um investidor nato. Ele quebrou a cara muitas vezes até chegar a Americanas, que pode ser considerada sua galinha dos ovos de ouro (quando for vendida, claro).
O empresário começou a fazer aportes na bolsa de valores em 2020, com a ajuda de um escritório de corretagem. Viu chegar um lucro de 30%, mas, desse valor, 40% era destinado à corretora.
"Aí o cara faz: 'Oxe? Eu vou dar a porcentagem por quê? Eu vou operar é só'", relembra.
Nisso, enquanto ainda trabalhava para estabelecer a faculdade e a escola que abriu, estudava sobre o mercado de ações. Inácio conta que perdeu dinheiro em 2020 e 2021, e só no final de 2022 veio a ganhar algo.
Depois, com o rombo das Americanas e a queda vertiginosa das ações, viu ali a sua chance de redenção.
"Comprei para recuperar o dinheiro que tinha perdido", diz. "Eu apostei nos empresários", complementa Inácio, se referindo ao trio do 3G, e, ainda mais em específico, a Jorge Paulo Lemann, por quem guarda mais admiração.
Sua expectativa é ver a ação da empresa voltar ao patamar de R$ 50, preço ao qual era negociada antes do rombo bilionário. A crença de que isso vai acontecer está ancorada ao patrimônio de Lemann, Telles e Sucupira, que, para Inácio, não deixariam a Americanas falir.
Além disso, ele se apega aos novos anúncios de aporte e relatórios financeiros divulgados pela empresa. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) aprovou a emissão de novas ações para aumento de capital social da Americanas de até R$ 40,7 bilhões. Desse total, o trio de acionistas majoritários se comprometeu a injetar R$ 12 bilhões -- aumentando, inclusive, a sua participação acionária e diminuindo a de Inácio.
O investidor como empresário
Não é pelo seu investimento ousado que Inácio de Barros Melo Neto quer ficar conhecido. Ele conta que nem queria tamanha exposição sobre o assunto e que a questão chegou a dar problema em casa, com a esposa questionando tais aportes milionários. Ainda assim, Inácio quer ficar marcado na história de maneira grandiosa.
Ele se apresenta como a terceira geração de uma linhagem de educadores. Seu avô, Inácio de Barros Melo fundou a Faculdade de Direito de Olinda (FADO), que posteriormente deu origem ao Centro Universitário AESO Barros Melo (Uniaeso).
Já o neto, muitos anos depois, se viu inspirado pelo legado do avô e decidiu criar uma faculdade de medicina. Durante a conversa com o Terra, Inácio cita algumas vezes o nome do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que foi quem teria lhe ajudado com os convênios para fazer a faculdade sair do papel.
Hoje, além da instituição de ensino superior, Inácio também é dono do Colégio Ecolar, em Olinda, e do Instituto Maria, feito para acolher crianças que, assim como sua filha, foram diagnosticadas com síndrome de Down. "Me perguntam: 'Você vai abraçar o mundo?' Eu digo: 'Não'. Mas eu quero fazer uma diferença", afirma o empresário.