São Paulo, 3 - O Índice de Confiança do Agronegócio (ICAgro), divulgado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pela CropLife Brasil, fechou o 4º trimestre de 2021 em 109,6 pontos, queda de 11,5 pontos em relação ao levantamento anterior. A piora na percepção do setor em relação à economia brasileira e o esfriamento dos ânimos em virtude do aumento dos custos dos insumos são os principais motivos que pesaram no resultado, disseram as entidades em nota divulgada nesta quinta-feira.
"Apesar do impacto negativo nas indústrias e nos produtores agropecuários causado pela oferta escassa e pelos preços em alta das matérias-primas, é importante observar que o índice se mantém acima de 100 pontos, na faixa considerada otimista pela metodologia do estudo", ponderaram os organizadores do levantamento.
O ICAgro é calculado a partir dos Índices de Confiança da Indústria Agronegócio (antes da porteira, que são as empresas de insumos agrícolas, e depois da porteira, referente às fabricantes de alimentos) e do Produtor Agropecuário (produtor agrícola e pecuário).
O índice de confiança das indústrias caiu para 109,3 pontos, 12,7 pontos abaixo do levantamento anterior. O recuo foi mais acentuado nas empresas fabricantes de alimentos (depois da porteira), que recuou 15,7 pontos, para 108,4 pontos. A confiança da indústria antes da porteira na economia do Brasil caiu 5 pontos, para 87,1 pontos, enquanto a da indústria depois da porteira diminuiu 22,4 pontos neste quesito, para 85,7 pontos. Considerando toda a indústria, a confiança na economia do Brasil caiu 17,2 pontos, para 86,1 pontos, e a confiança no próprio negócio recuou 14,4 pontos, para 101,3 pontos.
Segundo os organizadores, o aumento nos custos dos fretes, a baixa disponibilidade de contêineres e, consequentemente, o atraso nos embarques, comprometeram o andamento das exportações de produtos como café, açúcar e algodão (indústria depois da porteira). O embargo imposto pela China às importações da carne brasileira também prejudicou o desempenho dos frigoríficos, disseram as entidades no documento.
"Pesaram também as variáveis macroeconômicas, externas e internas, como o aumento da taxa de juros, a queda no rendimento médio das famílias e a inflação em alta, que afetaram as expectativas das indústrias de alimentos", disse no comunicado o vice-presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp (Cosag), Roberto Betancourt.
O índice de confiança das indústrias de insumos agrícolas (antes de porteira) recuou 5,6 pontos, para 111,4 pontos. O presidente executivo da CropLife Brasil, Christian Lohbauer, avaliou que 2021 terminou sem uma perspectiva de alívio para questões "importantes" que afligem o setor.
"A oferta e os preços das matérias-primas tendem a continuar pressionados e diversos fatores contribuem para o problema, como a persistência de gargalos logísticos que foram causados pela pandemia de covid-19 e multiplicaram o custo dos fretes em 2021", explicou. "A este cenário somam-se as crises energéticas pelas quais atravessam vários países do globo, além de problemas geopolíticos entre Rússia e Ucrânia, que podem trazer impactos para a disponibilidade de fertilizantes com origem na região", acrescentou.
Entre os produtores rurais, agrícolas e pecuários, o índice de confiança caiu 9,8 pontos, para 110,0 pontos, o que sinaliza "uma perda de entusiasmo", de acordo com os responsáveis pelo ICAgro, ainda que um índice acima de 100 ainda seja considerado otimista. "A percepção sobre a situação geral da economia pesou mais negativamente do que a percepção sobre as condições do próprio negócio", pontuaram no comunicado.
No caso dos produtores agrícolas, o índice de confiança ficou em 112,0 pontos no quarto trimestre, queda de 9,7 pontos ante o trimestre anterior. A confiança dos agricultores diminuiu em relação a todos os fatores considerados na pesquisa: preços (queda de 6,1 ponto, para 140,7, número considerado otimista); crédito (-1,9 ponto, para 129,2 pontos); produtividade (-0,6 ponto, para 128,7 pontos); e custo de produção (-6,9 pontos, para 17,7 pontos).
"Embora tenha registrado o resultado mais baixo desde o terceiro trimestre de 2019, o índice de confiança do Produtor Agrícola encontra-se em um patamar relativamente alto, sustentado, principalmente, pelas avaliações otimistas sobre aspectos como preços das commodities produzidas e crédito", explicaram as entidades.
"Também deve-se considerar que, se por um lado, os preços dos principais grãos continuaram atrativos para os agricultores; por outro, os custos de produção contribuíram significativamente para reduzir o entusiasmo, levando a confiança para um dos níveis mais baixos já verificados desde o início da série histórica", observou Betancourt, pontuando que as relações de troca entre grãos e insumos também encerraram o ano em patamares "pouco atrativos" para os produtores rurais.
Entre os pecuaristas, o índice de confiança caiu 10,2 pontos, para 104,0 pontos, nível mais baixo de otimismo entre os segmentos pesquisados, e mais próximo da neutralidade. Segundo os organizadores, os custos de produção foram avaliados com mais pessimismo pelos pecuaristas do que pelos agricultores - o índice referente aos custos diminuiu 9,7 pontos, para 11,0 pontos). Diminuiu também a confiança no crédito (-10,3 pontos, para 117,5 pontos), enquanto aumentou a confiança na produtividade (+0,2 ponto, para 121 pontos) e no preço (+0,8 ponto, para 126 pontos).
"A categoria teve de lidar, em 2021, com a alta das rações (puxada pelo milho e pela soja), dos insumos para as pastagens (como a ureia) e, no caso dos produtores de gado de corte, com o aumento dos preços dos bezerros, que elevou o custo de reposição do rebanho", explicaram as entidades.
O ICAgro é divulgado trimestralmente e avalia a percepção das indústrias de insumos e transformação ligadas ao agronegócio, de cooperativas e produtores, em relação a indicadores econômicos e de competitividade do setor.