Com quase 150 milhões de animais de estimação, o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking de países com maior número de animais domésticos no mundo. Os dados são do censo do IPB (Instituto Pet Brasil), de 2021, e confirmam aquilo que boa parte dos tutores de pet já sabem: os bichos têm um papel importante nos novos núcleos familiares.
Nas últimas décadas, muitos pets trocaram os quintais pelos sofás, os restos de comida por ração premium e passaram a protagonizar vídeos e fotos registrados e compartilhados pelos seus tutores nas redes sociais. Com o surgimento do mercado de influência digital e seus diferentes nichos, não demorou muito até que o segmento começasse a encontrar cada vez mais seguidores e produtores de conteúdos voltado para animais e seus tutores.
Um desses produtores é o curitibano Paulo Rafael Maidl, de 32 anos. Ao lado do marido e parceiro de negócio, Jackson dos Anjos, de 35 anos, ele administra o perfil Rafa do Mika, onde compartilha o cotidiano de um casal moderno, 'pai' de quatro gatos, vivendo em um pequeno apartamento.
Os vídeos criados pela dupla e protagonizados, na maioria das vezes, pelos bichanos, vem conquistando seguidores: são 1 milhão de seguidores no TikTok, 176 mil no YouTube e 496 mil no Instagram, ferramenta preferida pelo casal de empresários.
A ideia de criar conteúdo digital surgiu em 2021. Rafael, que já é formado em Administração de Empresas, estudava Marketing quando começou a "pensar na possibilidade de fazer isso com mais foco e estratégia”.
"Pensamos: ‘Se fosse para trabalhar o resto da vida com alguma coisa, teria que ser com algo que amamos’. A ideia mais natural que surgiu foi trabalhar com nossos gatos, pois meu sonho era viver o máximo de tempo possível do lado deles”, explica Rafael ao Terra.
Ele e Jackson já acompanhavam o nicho “por gostarmos muito de gatos, mas nunca pensamos muito a respeito do potencial ou não de ganhar dinheiro. Nossa ideia era a de que se fizéssemos com amor e dedicação, pelos nossos gatos e nossos seguidores, daria certo independente do nicho”, relembra.
A ideia deu certo. Rafael e Jackson não revelam o faturamento, mas atualmente vivem exclusivamente da produção de conteúdo digital. O mercado pet - que engloba produtos veterinários, desde alimentos até os voltados para saúde, higiene e bem-estar dos bichos - movimentou R$ 41,9 bilhões no Brasil em 2022, e deve encerrar este ano com crescimento de 10%, projeta a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet).
O número coloca o Brasil como terceiro maior mercado pet global, atrás apenas da China e dos Estados Unidos, que domina 43% do faturamento global do segmento, cuja cifra total foi de U$S 149,8 bilhões (R$ 743,85 bilhões) em 2022.
Criatividade narrativa
Com tantos perfis voltados para produção de conteúdo sobre animais, como se diferenciar? A resposta de Rafael foi a adoção de um storytelling criativo que inclui também traços marcantes das personalidades dos felinos: Mits, de 11 anos, Bob e Gatão, ambos com 10 anos, e o caçula Café, de apenas 10 meses.
“Como mostramos tudo da nossa rotina, temos um cuidado muito grande de deixar os gatos fazerem o que querem. Nosso trabalho é ficar com o celular na mão o máximo possível, gravar e depois contar o que aconteceu de uma forma bem humorada", conta.
O produtor de conteúdo reforça que o objetivo é gerar entretenimento sem 'deixar o animal desconfortável'.
"Eu diria que o mais importante é gerar algo de boa qualidade para quem está assistindo. Não a qualquer custo, pois vejo muitos influenciadores fazendo comédia e conteúdo em cima de um gato que está acuado, ofendido, ofendido, insultado... Deixar o animal desconfortável para fazer outra pessoa rir, para nós, é um absurdo", afirma.
Desafios e preconceito
Saber lidar com a exposição e julgamento das pessoas é uma das principais regras para quem deseja trabalhar no segmento. Mas, no caso de Rafael e Jackson, o fato de serem um casal homoafetivo também traz outra câmara de desafios: o preconceito.
“Nós temos alguns pontos que dificultam atrair marcas que desejem trabalhar com a gente, e isso é uma dificuldade pontual. Primeiro por trabalharmos com gatos, que são “menos populares” comparados a cães, que possuem um grande público de pessoas (e consumidores, para as empresas). E também somos um casal homoafetivo. Apesar dos avanços, sabemos que isso já fechou muitas portas para nós”, lamenta.