Os ricos brasileiros estão cada vez mais ricaços. Por quê? Entre outras razões, porque pagam poucos impostos. Ou às vezes, nada.
Os rendimentos declarados por brasileiros como “lucros e dividendos” alcançaram um recorde de R$ 555,7 bilhões em 2021. Essa bolada é totalmente isenta de pagar Imposto de Renda.
E a grana está cada vez mais concentrada. De cada R$ 100 declarados como “lucros e dividendos”, R$ 74 vão para o 1% mais rico dos brasileiros.
E no resto do mundo?
Parecido. A desigualdade no mundo está aumentando em um ritmo assustador. De acordo com o Banco Mundial, a riqueza dos 1% mais ricos do mundo cresceu 60 vezes mais rápido do que a da metade mais pobre da população desde 1980.
Mas qual é o problema de existirem mais milionários e bilionários? Já está mais do que provado que o aumento da desigualdade tem um impacto negativo no desenvolvimento econômico. Existem pilhas de estudos que demonstram a relação.
Em países em desenvolvimento, a desigualdade está levando à fome, à pobreza e às doenças. Em países desenvolvidos, a desigualdade leva ao aumento da criminalidade, da violência e da instabilidade social. E em todo lugar a desigualdade também está afetando a saúde mental das pessoas, causando ansiedade e depressão.
Um livro que vale a pena ler sobre o tema é "O Nível - Porque uma Sociedade mais Igualitária é Melhor pra Todos", de Richard Wilkinson e Kate Pickett (2009). Ele apresenta uma grande quantidade de evidências de que a desigualdade está associada a uma série de problemas sociais, incluindo crime, violência, obesidade, abuso de drogas e suicídio.
Outro é "Como a Democracia Chega Ao Fim", de David Runciman (2018). Este livro explica como desigualdade enfraquece as democracias e estimula a ascensão de líderes autoritários.
A desigualdade e concentração é causada principalmente por políticas governamentais que beneficiam os ricos em vez de proteger os mais pobres. Por exemplo estes cortes nos impostos para a elite. Ou subsídios para grandes empresas, que podem levar a uma redistribuição da riqueza para o topo da pirâmide.
O que precisa ser feito é o contrário: aumentar os impostos sobre os ricos e usar o dinheiro para investir em educação, saúde e outros serviços públicos. Outra medida fundamental é regulamentar os mercados financeiros para evitar fraudes e especulação.
É um movimento neste sentido que está sendo tentado pelo atual governo do Brasil. Nada de muito radical; as propostas que têm aparecido são bem modestas. Mas não é fácil. Há muitas resistências, claro.
Quem são os brasileiros mais ricos? Bem, no Top 5 estão os três controladores das lojas Americanas: Jorge Paulo Lemann (o número 1), Marcel Telles e Beto Sicupira (os números 2 e 5). Somados, eles têm mais de US 34 bilhões - uns R$ 170 bilhões.
Neste vídeo, compartilho números chocantes de um novo estudo que mostra como os bilionários estão se apossando de uma fatia cada vez maior da riqueza do mundo.
O mesmo estudo explica que existem dois tipos de bilionários - e um é muito, mas muito pior que o outro.
(*) André Forastieri é jornalista, sócio da consultoria Compasso e fundador de Homework. Conheça melhor seu trabalho em andreforastieri.com.br.