O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) define nesta quarta-feira, 29, a taxa básica de juros, a Selic. A maior parte dos economistas do mercado, assim como instituições financeiras, aposta no aumento dos juros em 1 ponto percentual (p.p), elevando a Selic de 12,25% para 13,25% ao ano. Mas, afinal, o que isso significa e como este aumento impacta no bolso dos brasileiros?
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
Basicamente, quando o Copom aumenta a taxa Selic, o objetivo é conter a inflação, reduzindo o consumo e os investimentos. Embora seja necessária, especialistas apontam que a Selic mais alta encarece o crédito. Assim, os empréstimos e os financiamentos ficam mais caros. Isso acaba reduzindo o consumo da população, que passa a ter maiores taxas para financiar e parcelar uma compra.
"A política monetária mais restritiva, além de buscar estabilizar a inflação, tem o efeito secundário de impactar as condições de crédito e os custos de financiamento, o que pode moderar o consumo [das famílias] e os investimentos [das empresas]", explica Sidney Lima, economista e analista da Ouro Preto Investimentos.
A alta dos juros gera também impactos significativos na economia, como menor crescimento do PIB. "Como sabemos, inflação alta concentra renda e pune os mais humildes. Além disso, cria desconfiança com relação ao futuro, diminuindo investimentos e a geração de empregos”, acrescenta Tiago Ranalli, sócio da CX3 Investimentos.
Empresas são afetadas
De modo geral, todas as empresas sofrem com a alta da Selic. “As empresas que tendem a ser as mais afetadas são as que dependem mais de crédito para se financiar, as que são muito ligadas à economia real e ao consumo, como varejistas e o setor imobiliário”, explica Paula Zogbi, gerente de Research e head de conteúdo da Nomad.
Mesmo aquelas sem endividamento acabam sofrendo. Isso porque, segundo Tiago Ranalli, a inadimplência cresce quando o custo do dinheiro aumenta, e as empresas (mesmo sem dívida) têm que ser mais conservadoras, encurtando o prazo de pagamento de seus clientes, e correndo maior risco de inadimplência.
“O futuro fica mais incerto, afetando todo ciclo produtivo. Empresas costumam trabalhar alavancadas. Com o juro mais alto, o custo do dinheiro aumenta (em todo o ciclo produtivo). No final, esta conta acaba sendo paga pelo consumidor, que vai pagar mais pelos produtos e serviços”, explica Ranalli.
Quem ganha com a alta dos juros
Por outro lado, com a Selic em elevação, investimentos de renda fixa vão performar melhor nominalmente nos próximos meses. “Um efeito direto é que títulos pós-fixados (como Tesouro Selic, CDBs, Fundos DI e LCIs/LCAs) oferecem retornos maiores, atraindo investidores que buscam segurança e previsibilidade”, destaca Paula Zogbi.
No caso da renda variável, as ações perdem sua atratividade, já que os investidores preferem passar a opções mais seguras e com rendimento previsível. Para quem investe em ações, isso pode significar uma queda nos preços dessas ações, já que os investidores consideram que elas acabam não conseguindo oferecer um retorno tão competitivo em relação à renda fixa.
“Na bolsa, o apetite por risco tende a diminuir e empresas listadas em setores mais afetados pela Selic (como varejo e construção civil) podem sofrer desvalorização”, antecipa Zogbi.
Alguns setores, como bancos e seguradoras, podem ter efeitos positivos pelo diferencial entre juros cobrados e juros pagos. Fundos imobiliários são especialmente afetados negativamente, em geral, pela alta exposição do segmento aos impactos dos juros mais altos e pelo efeito de comparação com a renda fixa.
No câmbio, a alta da Selic pode fortalecer o real ao atrair capital estrangeiro, mas o impacto depende também de fatores externos, como juros nos EUA e, especialmente nesse momento, a situação fiscal do país.
“Se não houver uma reforma da estrutura de gastos do estado, o que parece um bom investimento hoje, pode ser ruim em pouco tempo, com a Selic tendo que subir ainda mais. É melhor uma taxa de juros menor, com as contas públicas em ordem”, alerta Tiago Ranalli.