A taxa básica de juros da economia brasileira deve ter mais uma alta nesta quarta-feira, 19, segundo analistas do mercado financeiro. A expectativa é que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) --que se reúne nesta terça e quarta-- suba a taxa Selic, por decisão unânime, de 13,25% para 14,25% ao ano, alcançando o mesmo patamar da crise do governo de Dilma Rousseff (PT), entre 2015 e 2016.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
Caso a expectativa de alta se concretize, a Selic irá atingir o maior nível desde outubro de 2016. Será a quinta alta consecutiva do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sendo a terceira seguida de 1 ponto percentual (p.p). Previsto desde final de 2024, as três altas de mesmo percentual, segundo reuniões passadas do BC, se justificam “diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação”.
O relatório Focus, divulgado pelo BC na segunda-feira, 17, mostrou que a expectativa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medida oficial da inflação do país, para 2025 está em 5,66%. Apesar de uma discreta redução na projeção do IPCA para este ano, de 5,68% para 5,66%, a inflação está 1,16 ponto porcentual acima do teto da meta, de 4,50%. O centro da meta é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos.
"A inflação esperada para 2025 recuou ligeiramente, mas ainda está acima da meta, justificando a postura mais restritiva do Banco Central", avalia Pedro Ros, CEO da Referência Capital, reforçando a percepção de desancoragem das expectativas inflacionárias. "O cenário ainda exige cautela. A melhora nas expectativas para 2025 pode ser um reflexo pontual", acrescenta Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.
A Selic é a principal ferramenta do BC para controlar a inflação. Quando a inflação está alta, elevar a taxa desestimula o consumo. Para o fim de 2025, a estimativa do Focus para a taxa básica de juros está em 15% ao ano. Para 2026 e 2027, o mercado prevê que a taxa seja de 12,50% ao ano e 10,50% ao ano, respectivamente.
De olho na ‘cereja do bolo’
Se por um lado é consenso no mercado que o BC vai elevar o juros em 1 p.p, por outro há dúvidas sobre o recado do comunicado, bem como a divulgação da ata pós-copom, considerada a “cereja do bolo” por indicar o raciocínio dos integrantes do comitê do BC. A Associação Brasileira de Bancos (ABBC) projeta a permanência do ciclo de alta dos juros nos meses de maio e junho. Mas há divergência.
Na ata da última reunião, os diretores mencionaram como justificativa do aumento da taxa além da inflação corrente e da taxa de câmbio, o cenário externo como "desafiador", principalmente levando em conta incertezas com relação à política econômica nos Estados Unidos. Uma das incertezas citadas no documento foi as tarifas de Trump, que se confirmou recentemente como a taxação do aço e alumínio.
"Há dúvidas sobre a condução da política econômica em diversas dimensões, tais como possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho, introdução de tarifas à importação e alterações importantes em preços relativos decorrentes de reorientações da matriz energética, o que pode impactar negativamente as condições financeiras e os fluxos de capital para economias emergentes", dizia o documento.
Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, acredita que o comunicado irá antever uma redução no ritmo de ajuste da Selic. "O Copom deve indicar que antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros na reunião de maio, refletindo o estágio avançado do ciclo de aperto monetário, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante”.