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Copom "ousado" deve ancorar expectativas e gerar efeitos contrários para ativos brasileiros

12 dez 2024 - 15h01

A decisão do Banco Central de elevar a Selic em 1 ponto percentual e sinalizar duas altas do mesmo tamanho em 2025 foi "ousada" e um "choque necessário" que deve contribuir para a valorização do real e provocar a queda de ações da bolsa brasileira no curto prazo, disseram analistas nesta quinta-feira, ressaltando que as perspectivas para horizontes mais longos também dependerão da política e do cenário fiscal.

O BC acelerou o ritmo do aperto da política monetária na quarta-feira, subindo a Selic de 11,25 para 12,25% e indicando que a taxa básica de juros deve chegar a 14,25% no segundo encontro do próximo ano, em março, o que seria o maior patamar desde outubro de 2016.

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Segundo analistas ouvidos pela Reuters, a decisão do Copom representou a materialização da mensagem recente das autoridades de que realmente estão perseguindo o centro da meta de inflação de 3% e uma resposta à piora nas projeções do mercado para a inflação e à desvalorização acentuada do real.

"Talvez não houvesse decisão melhor. O Copom conseguiu dar início ao tratamento de choque necessário diante das expectativas de inflação descontroladas", disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.

No último mês, as expectativas de inflação do mercado para os próximos anos piorou de forma acentuada, na esteira da maior desconfiança dos investidores com o compromisso do governo de equilibrar as contas públicas.

A mais recente pesquisa Focus, com participação de economistas consultados pelo BC, tinha 4,59% e 4,00% como medianas para a inflação em 2025 e 2026, respectivamente, ante 4,10% e 3,65% no levantamento de um mês antes.

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O dólar, por sua vez, tem repetidamente renovado máximas históricas neste mês, ultrapassando o valor de 6,00 reais pela primeira vez na história da circulação da moeda brasileira, em 1994.

O mercado tem demonstrado mal estar desde o duplo anúncio pelo governo de um pacote de medidas de contenção de gastos e de um projeto de reforma do Imposto de Renda, colocando dúvidas sobre a trajetória da dívida pública.

"Com a subida de 100 pontos-base e a orientação de movimentos idênticos nas próximas duas reuniões, o Copom se adianta à curva e isso deverá contribuir para controlar a queda do real e a deterioração das expectativas de inflação", afirmou Alberto Ramos, chefe de economia para América Latina no Goldman Sachs, em nota.

Além da ancoragem das expectativas, analistas ainda apontaram para o efeito único do "guidance" (orientação) para o próximo ano de garantir que a independência do Banco Central será mantida, mesma com a troca de nomes na presidência e em diretorias.

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O diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, assume a presidência do BC em 2025, com a saída do atual presidente, Roberto Campos Neto, quando o Copom passará a ter sete indicados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas nove cadeiras do Copom.

Lula tem sido um frequente crítico da condução da política monetária pelo BC, o que já levantou temores no mercado de possível tentativa de intervenção a partir de seus nomeados.

"A decisão de optar por ajustes gigantescos no futuro também alivia as preocupações sobre a influência política nas decisões do BC, contribuindo ainda mais para a recuperação da credibilidade da sua independência", disse Moutinho.

EFEITOS SOBRE ATIVOS

Com uma Selic em 12,25% ano e mais 2 pontos percentuais de aperto precificados para o início do próximo ano, analistas preveem que o dólar deve recuar ante o real nos próximos meses, gerando um alívio diante dos movimentos recentes, enquanto a perspectiva para a bolsa brasileira é negativa no curto prazo.

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A expectativa é que o aumento do diferencial de juros entre Brasil e outros países de moedas fortes e a retomada de credibilidade do Banco Central contribuam para atrair investimentos no país.

"Acredito que só pelo efeito do carry trade, com o mercado fazendo conta de diferencial de juros, o fluxo financeiro vai impactar a liquidez a ponto de devolver parte dessa alta (do dólar) dos últimos 2 ou 3 meses", disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

Bergallo também prevê queda nas taxas de juros futuras para contratos de longo prazo, devido a um alívio nos prêmios de risco em meio à perspectiva de uma política monetária mais apertada. No entanto, ele pontuou que as perspectivas para eventos políticos e para o cenário fiscal podem seguir pesando sobre a moeda brasileira.

"A despeito da Selic nas nuvens, o mercado analisa todo o contexto ainda. Até porque, esse dinheiro rápido que entra, derrubando o dólar, também tem uma velocidade grande na hora que sai. Então eu diria que depende um pouco da política."

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No caso da bolsa brasileira, a perspectiva geral neste momento é negativa, uma vez que quanto mais a taxa de juros sobe, mais a renda variável perde atratividade.

"Investidores acabam vendendo as ações e buscando o retorno para o seu capital em renda fixa, que é mais seguro", disse o analista Gabriel Mollo, da Daycoval Corretora.

Na sua visão, no curto prazo os juros acabam impactando de maneira significativa na bolsa, mas abrem uma oportunidade de compra para os investidores que pensam no longo prazo.

Bergallo também diz acreditar na entrada de investimentos no médio e longo prazo, já que uma melhora nas perspectivas econômicas deve se sobrepor ao efeito dos juros mais altos.

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Nesta quinta-feira, o dólar subia frente ao real, em meio a problemas de liquidez no mercado interno e em linha com o cenário externo, após recuar de forma acentuada nas primeiras horas de negociação com a reação positiva dos investidores à decisão do Copom.

Às 13h41, o dólar à vista subia 0,57%, a 5,9930 reais na venda.

O Ibovespa, por sua vez, caía 2,08% após três altas seguidas, com agentes financeiros projetando que o movimento do Copom representa um ambiente difícil para a renda variável no curto prazo.

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