Depois de sete quedas consecutivas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira, 19, manter a taxa Selic em 10,50% ao ano. Embora a decisão de encerrar o ciclo de alívio nos juros não tenha sido nenhuma surpresa, o comunicado do colegiado traz alguns recados sobre as próximas reuniões e o futuro da Selic.
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Como era esperado pela maioria do mercado financeiro depois da forte divisão da reunião de maio, a decisão pela manutenção dos juros foi unânime – ou seja, os nove membros do colegiado votaram pelo fim do ciclo de cortes. O comunicado diz que a incerteza no cenário global e doméstico, além de expectativas desancoradas, levou o BC a ter uma postura de maior cautela.
Do ponto de vista político, a decisão unânime pode ajudar a dissipar as suspeitas de que poderia haver uma divisão política dentro do Copom. Quatro dos nove membros do colegiado foram indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A avaliação do mercado é que é importante que haja consenso entre os votos, a fim de que a decisão tenha mais credibilidade.
O comunicado do BC também buscou reforçar o compromisso do órgão com a meta de inflação. Como a taxa básica de juros é utilizada para manter o equilíbrio inflacionário do País, o Copom não antevê novo corte na Selic. "Eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta", diz.
O BC ainda enfatizou que "a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação".
O Copom destacou também em seu comunicado as incertezas em relação ao ambiente externo, que "mantém-se adverso, em função da incerteza elevada e persistente sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos."
Em meio aos aumentos das incertezas, a poucas horas da divulgação da taxa Selic, o dólar encerrou o dia cotado a R$ 5,44, em leve alta de 0,13%. Após sustentar alta firme durante o dia, se aproximando dos R$ 5,50, o dólar à vista desacelerou na reta final dos negócios. Não obstante, esta é a maior cotação de fechamento desde 4 de janeiro de 2023 – início do governo Lula – quando encerrou a R$ 5,45 .
O que é a Selic
A Selic é a referência para todas as taxas de juros do mercado brasileiro, definida pelo Copom, composto pelo presidente e diretores do Banco Central. Ela é o principal instrumento de política monetária utilizada para controlar a inflação.
Quando os juros sobem, os financiamentos, empréstimos e pagamentos com cartão se tornam mais caros, o que desencoraja o consumo e, por consequência, estimula a queda na inflação. Por outro lado, se a inflação está baixa e o BC reduz os juros, isso torna os empréstimos mais baratos e incentiva o consumo.
Como a Selic é definida
O Banco Central avalia as condições da inflação, da atividade econômica, das contas públicas e o cenário externo para definir o que fazer com a Selic, sempre com o objetivo de manter a inflação dentro da meta.
Essa é uma prática comum em governos e autoridades monetárias. O Federal Reserve (Fed) define os juros básicos da economia americana e o Banco Central Europeu faz o mesmo com os juros dos países da zona do euro.
Meta de inflação
O objetivo do Copom é manter a inflação brasileira dentro da chamada meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que determina a meta de três anos à frente, visando uma inflação previsível, estável e baixa, que possa ajudar a economia brasileira a crescer.