O surto do novo coronavírus, que surgiu em dezembro na China, infectou milhares de pessoas ao redor do mundo. O impacto da doença se refletiu também na atividade econômica, que vem sofrendo perdas significativas.
A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês) estima que as perdas globais de receita do setor devem ficar entre US$ 63 bilhões e US$ 113 bilhões — algo entre R$ 290 bilhões e R$ 520 bilhões, na cotação de sexta-feira, 6 de março.
Segundo o ministro da Economia brasileiro, Paulo Guedes, o surto pode reduzir o crescimento do Brasil entre 0,1 ponto percentual, na melhor das hipóteses, e 0,5, na pior. O dólar atingiu R$ 4,65, e ele não descartou a hipótese de que chegue a R$ 5. "É um câmbio que flutua. Se eu fizer muita besteira, ele pode ir para esse nível (de R$ 5). Se eu fizer muita coisa certa, pode descer", disse em evento realizado na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). "(Com a as reformas), mais rápido são retomados os investimentos, e o dólar acalma."
Além do impacto na economia local, há também os efeitos nas exportações. Importante comprador de commodities brasileiras, a China sofreu forte impacto econômico do surto, com cidades sob quarentena e empresas fechadas.
O país asiático também tem papel relevante como fornecedor para a indústria local, especialmente a de produtos eletroeletrônicos.
Veja abaixo oito mapas e gráficos para entender o impacto em diferentes países e segmentos econômicos até agora.
Economia global pode estagnar
Se a economia de um país cresce, em geral isso representa mais riqueza e mais empregos.
Isso é medido a partir da análise de variações no Produto Interno Bruto, ou nos valores de serviços e bens produzidos, em geral no período de um trimestre ou de um ano.
Em razão do surto de coronavírus, a economia global pode crescer na taxa mais baixa desde 2009, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), conhecida como "clube dos países ricos".
A organização prevê um crescimento global de 2,4% em 2020, uma queda em relação à previsão feita em novembro, de 2,9%.
Para a OCDE, se o surto for mais duradouro e intenso, ele pode derrubar essa taxa para 1,5% em 2020, em meio a fábricas fechadas e trabalhadores em casa para evitar a disseminação do vírus.
Bolsas mundiais sofrem baque
Investidores estão preocupados com o impacto do coronavírus ao redor do mundo.
Grandes mudanças nas bolsas de valores, onde participações em empresas são negociadas, podem afetar investimentos de fundos de pensão e de poupanças individuais.
A última semana de fevereiro registrou o pior desempenho do mercado desde a crise econômica de 2008.
Bolsas da Europa e dos Estados Unidos tiveram uma leve alta sob expectativa de que os países farão intervenções para proteger suas economias contra o impacto do surto.
O Banco Central americano, por exemplo, cortou taxas de juros em reação. Essa medida, em teoria, torna empréstimos mais baratos e incentiva a atividade econômica.
Fábricas em paralisação
A China é responsável por um terço das manufaturas no mundo e líder das exportações de bens de consumo.
Mas a atividade da chamada "fábrica do mundo" foi paralisada para tentar conter a disseminação da doença.
A Nasa (agência espacial americana) afirmou que os satélites de monitoramento de poluição detectaram uma queda dos níveis de dióxido de nitrogênio ao redor da China. Os dados indicam que isso se deve, em parte, ao recuo da atividade econômica causado pelo surto.
O impacto foi sentido na cadeira produtiva de grandes empresas, como Diageo, JCB e Nissan, que se baseiam na produção chinesa e em mais de 300 milhões de trabalhadores.
Consumidores compram menos
O medo do surto resulta também em pessoas optando por evitar atividades que poderiam expô-las ao risco de infecção, como sair para fazer compras, por exemplo.
Restaurantes, revendedoras de carros e lojas têm registrado quedas na demanda.
As vendas de carros na China, por exemplo, caíram 92% durante a primeira metade de fevereiro. Por outro lado, fabricantes como Tesla e Geely estão vendendo mais pela internet.
Entregas de telefones celulares também devem sofrer um grande recuo no primeiro semestre de 2020 — o setor estima, por outro lado, que a recuperação seria rápida.
A Apple já detectou essa demanda fraca.
Setor de turismo sofre com restrições
Com o aumento do número de casos em cada vez mais países, muitos lugares têm adotado restrições a viagens para tentar conter o avanço do surto.
O governo britânico, por exemplo, recomendou que ninguém viaje para a província chinesa de Hubei, onde o vírus surgiu em dezembro. Há também recomendações a quem viaja para a Itália, país com mais casos da doença na Europa.
O setor aéreo tem sido fortemente impactado, com cancelamentos de voos pelas empresas e pelos passageiros.
Levantamento da empresa de análises de dados Forward Keys indica que os voos internacionais para a China caíram 55,9% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Especialistas do setor turístico do Reino Unido também falam do impacto dos turistas chineses que deixaram de viajar — mais de 400 mil visitam o país todos os anos, além de gastarem três vezes mais que a média, cerca de R$ 10 mil cada.
Ativos valorizados
É difícil falar em efeitos positivos do surto quando pessoas morrem ou ficam isoladas em suas casas.
Mas em termos puramente financeiros, há algumas valorizações em meio ao recuo de tantos setores.
Há aumento das vendas de produtos de limpeza, por exemplo, além das máscaras.
O preço do ouro, tradicionalmente considerado um porto mais seguro em tempos de incerteza, também subiu. Em fevereiro, a cotação atingiu o maior valor em sete anos: US$ 1.682,35 a onça-troy (cerca de 30 gramas).