Hoje empresária no ramo da beleza e dona de um patrimônio de aproximadamente R$ 50 milhões, Poliana Sicchieri nem sempre viveu essa realidade. De família pobre, ela já chegou a vender as próprias roupas para ter dinheiro para comer e já chegou a abandonar os estudos para trabalhar.
Sua vida mudou quando ela teve uma ideia inovadora: criar uma cera própria panteteada. Até esse ponto de virada, no entanto, Poliana precisou traçar estratégias de sobrevivência e superar as dificuldades que surgiam.
"Eu sou de uma família muito pobre e quando estava com mais ou menos 16 anos saí de casa para morar com meu namorado em Batatais [SP], mas foi muito desafiador morar sozinha", contou ela ao Terra.
Naquela época, Poliana trabalhava de garçonete e ganhava apenas R$ 160, emprego que só conseguiu ao dizer que morava em Ribeirão Preto, cidade próxima ao município de Batatais.
"Tive que mentir para conseguir a vaga, mas eles só me pagavam o vale-transporte da cidade, então eu ainda tinha que desembolsar do meu dinheiro para me locomover de Batatais a Ribeirão. Ou seja, o dinheiro não dava para chegar no fim do mês", relembra.
Como nos últimos dias do mês não sobrava dinheiro nem mesmo para se alimentar, Poliana começou então a vender suas peças de roupas em um brechó. Assim, ela conseguia a quantia suficiente para assegurar uma refeição por dia, até o pagamento seguinte cair.
"Mas aí o pior aconteceu, eu fui demitida. Na época eu tinha 17 anos e minha mãe tinha um amigo que era cabeleireiro. Ela me falou pra eu me arriscar nessa área e me levou para o salão desse amigo, que se chamava Cidis. Mas ele estava falido, não tinha nenhum cliente para atender", conta a empreendedora.
Na época, como ela ainda tinha a garantia de três meses de seguro-desemprego e já tinha um curso na área de beleza, a mãe a orientou a trabalhar de graça para ganhar experiência. Depois desse período, prometeu sua mãe, ela iria ajudá-la a abrir um negócio.
Assim, ela começou a conviver com Cidis, que viria a se tornar seu marido, e começou a ganhar experiência. A partir de então, ela decidiu ajudá-lo a recuperar a fama e os clientes que havia perdido.
"Eu abandonei a escola, não fazia sentido eu perder quatro horas da minha vida, sendo que eu podia estar escrevendo cartas para enviar e captar clientes. Eu panfletava todos os dias. Até apareceram algumas pessoas, mas nada que nos ajudasse naquele momento", lembrou.
A situação estava tão difícil que a energia do salão foi cortada durante um atendimento, e Poliana foi impedida de finalizar o serviço. Desse constrangimento surgiu a necessidade de investir em algo para mudar de vida. A escolha levou em conta a preferência do público.
"Nós percebemos que um serviço muito popular na área da beleza era a depilação, só que as ceras que tinham no mercado não eram tão boas para a pele, e queríamos criar algo excepcional. Queria algo que, além de arrancar os pelos, tratasse a pele das clientes. Foi aí que tivemos aquela sensação de 'essa é nossa chance de mudar a nossa vida'", acrescenta.
"Quando estamos na linha da pobreza achamos que empreender é impossível, então, a mensagem que deixo é: não desistam e deem um passo de cada vez", Poliana Sicchieri, empresária e idealizadora da Cera Marroquina
A criação da cera
Poliana e Cidis, seu falecido marido, passaram a criar a própria cera, no fogão de casa mesmo. Além do produto, que posteriormente levou o nome de Cera Marroquina, o casal criou uma metodologia para o atendimento de suas clientes, com o objetivo de garantir conforto e segurança às mulheres.
Em três meses, a agenda de Poliana lotou e os dois tiveram que contratar funcionários para dar conta da demanda.
"Saímos de 200 clientes para 5 mil, em cinco anos. Passamos a dar oportunidades para meninas pobres, que também começaram a mudar suas vidas. Então, foi muito legal também impactar essas pessoas", comenta Poliana.
Foi a partir da criação da cera própria, patenteada, exclusiva no Brasil e feita com produtos fitoterápicos que prometem amenizar a dor em até 80%, que Poliana conseguiu fazer R$ 1 milhão em vendas logo nos primeiros anos em que entrou nesse universo.
"Eu nem sabia o que R$ 1 milhão significava porque não tinha dinheiro nem pra comer, mas então minha vida foi mudando", destaca.
Cera Marroquina ganhando o mundo
Atualmente, além de ter dois salões de beleza e ajudar outras depiladoras a conquistar a prosperidade e independência financeira, a empresária também aposta na exportação do seu produto. Desde 2015, Poliana passou a expandir sua cartela de clientes.
"Aceleramos o crescimento no ano de 2022. Hoje, a Cera Marroquina está presente na Europa, Turquia, Japão e Estados Unidos, com uma representação de 6,5% do faturamento bruto, totalizando um faturamento de aproximadamente R$ 600 mil por ano", celebra.
O faturamento anual da empresa chega a R$ 10 milhões, e Poliana projeta aumentar esse valor em 20%. Para as exportações, a projeção é crescer 10%.
"Hoje temos 15 mil licenciados no Brasil que utilizam nosso produto. Já temos mais de 200 licenciados espalhados por outros países e temos uma importadora em Orlando. Falar disso até me emociona, porque quando estamos na linha da pobreza achamos que empreender é impossível, então, a mensagem que deixo é: não desistam e deem um passo de cada vez. Você pode começar da onde você está, com o que você tem e pode dar certo, mesmo que não seja fácil!", acrescenta.
Cera Marroquina
A Cera Marroquina é uma empresa com mais de 23 anos no mercado de Estética e Beleza. Fundada por Cidis Souza e Poliana Sicchieri, hoje a empresa vende seus produtos para todo o Brasil e exporta para países como Estados Unidos, França, Espanha, Italia, Reino Unido, Portugal, Turquia e Japão. Localizada em Ribeirão Preto, seus produtos são 100% naturais e utilizam como base puro cacau alcalino, própolis e cera de abelha.